pro-justiça, pro-liberdade

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Por mais que a sociedade pense o contrário, o corpo da mulher não é um lugar público. Por demasiadas vezes o corpo feminino foi vandalizado e riscado, mas como não era a parede de um edifício da cidade, ninguém se mexeu. Entram nos nossos corpos sem limpar os sapatos sujos, tocam sem lavar as mãos. Aos olhos de muitos, a mulher é um lazer. E apesar de tantas terem gritado no passado, hoje dia recusam-se a ouvir o eco. A realidade é esta: o corpo da mulher é para os outros usarem. Quietas, caladas e a servir é que as mulheres são mulheres a sério. E aconteça o que acontecer, a culpa é dela. O provérbio "uma mulher prevenida vale por duas", há muito tempo que soa muito mal. As mulheres toda a sua vida são obrigadas a prevenir-se. Os criminosos todos são as vítimas, os que foram provocados, coitados. A mulher tem de prever o dia antes de sair de casa, pior se for à noite.
E para mostrarem ainda mais como vêm o corpo da mulher como uma propriedade do governo, uma mulher que não queria ter o filho, uma que não tenho possibilidades, uma rapariga violada, têm de o gerar e de o criar. E mesmo aquelas cujo corpo não aguenta o peso de um filho e correm risco de vida os dois, aquelas que de repente ficam sem o seu filho sem antes ele sequer nascer, vão ser investigadas e interrogadas. Uma mulher que aborte tem mais atenção da lei e mais castigo do que um violador. Continuamos a aprovar leis contra as mulheres e aquecer os abusadores. O mundo não pára e a história repete-se. Não é sobre proteger as crianças e a vida. Porque as filhas dos governantes e afins terão sempre oportunidade de realizar um aborto. É sobre pisar cada vez mais o ventre das mulheres que sofrem todos os dias. As pobres, desprotegidas. E os métodos contracetivos são caros, a informação é escassa e a vida da mulher é dura. Continuam a oferecer preservativos grátis, mesmo que muitos se recusem a usar. E no fim a culpa é a mulher. A mulher tem de ser o abrigo de tudo e de todos. Continuam a pisar-nos e a atacar os nossos direitos, ao longe ouvem-se as palavras das que vieram antes de nós, os pedidos dos pais desamparados com crianças doentes e os choros das crianças nos lares, nas ruas. Ninguém sabe, ninguém ouve, ninguém vê para além do seu próprio bolso. Porque estão homens a fazer leis sobre um espaço que não conhecem? Uma realidade que não vivem? Porque há mulheres a querer a desgraça das outras? Se os homens pudessem engravidar... se quisessem saber dos filhos abandonados pelos pais e das mães solteiras que os carregam como querem saber do que se passa no corpo da mulher...

FEMME AIN'T FRAILWhere stories live. Discover now