Q&A

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Olá, LaryPraxedes

Fico contente por ter lido o seu comentário no último capítulo da minha história. 

Quando comecei a escrever esse romance, tinha dezessete anos. Estou com vinte agora, mas enquanto o vinho tinto fluir e o barulho das minhas unhas tinirem no teclado, estou numa boa. Nesta segunda semana de junho me flagrei lendo You flower, you feast depois de todos esses meses sem entrar no Wattpad. Era de fato um bom espetáculo. Por vezes me diverti com a coisa toda: Conteúdo criativo, edição, diagramação; Por outro lado, deixei esse universo sem arrependimentos. 

Lendo os capítulos, entendo porque larguei a ficção e comecei a escrever poesia. Entendo quem eu fui. Mas estaria sendo ingrata e arrogante se não concordasse que essa foi uma das histórias mais doces e relevantes que já escrevi na minha vida, qualquer que seja o valor dela. Consequentemente, resolvi responder as suas perguntas em relação ao esquecido Universo de Harry & Louis, porque eles me lembram a Lívia de dezessete. E gosto da sensação da Lívia de dezessete ter tido a capacidade e discernimento de ter escrito algo tão sensível.

Você me disse que gostaria de saber se o Louis conseguiu ou não uma vaga na Universidade, e cá entre nós, a resposta é bem simples: Sim. Ele conseguiu. Mas não especificamente a que tanto almejava. No começo da narrativa, afirmo que Louis tinha o intuito de realizar o vestibular em uma faculdade Ortodoxa, como a Westminster (Londres). Uma faculdade reconhecida pelo teor religioso e tradicional. Com o tempo ele percebeu que não era bem isso o que queria: Louis almejava a liberdade acima de qualquer outra coisa. Ele queria estudar em um bom lugar, um lugar agradável e amistoso, que não o levasse para a época em que era tão reprimido pelos próprios sentimentos. 

No final das contas, acabou prestando o S.A.T em uma faculdade estadual de Upon Tyne, que era razoavelmente boa e que havia financiado todos os seus estudos durante meia década. Com o passar dos anos, ele teve uma carreira curta como jogador profissional, pois logo em seguida, seguiu os passos do treinador Richie, se especificando em arbitragem e se transformando em tecnólogo de um time de futebol famoso no UK. Sua carreira cresceu consideravelmente até se tornar então o técnico de times relevantes e que faziam parte do campeonato Europeu. Houve sucesso, houve derrota. Acredito que Louis tenha experimentado e vivenciado exatamente o que ele queria: Uma vida normal. Sendo assim, acredito que ele tenha sido muito feliz com as escolhas que tomara, não foi uma vida de fama ou glória, ele não ganhou nenhum prêmio Puscas ou algo do tipo, mas ele seguiu em frente, aprendendo a lidar com as decisões que havia tomado. E ele não desperdiçou o seu tempo. E não desperdiçar completamente a vida parece ser uma realização digna, ao menos para mim. 

Qual foi a outra pergunta? Ah, sim, claro. Como foi a vida que Harry & Louis levaram e como foi a relação futura de Johannah com o casal. O.k. Foram boas perguntas. De qualquer forma, estou velha demais para ficar aqui inventando o final perfeito para o casal perfeito, porque tragicamente não acredito que nada neste mundo seja perfeito, então serei um pouco curta e grossa. Peço desculpas. Isso provavelmente é mais um efeito colateral da poesia. 

Harry & Louis continuaram juntos. Sim. Quando escrevi sobre eles, enxerguei e projetei amor demais naquela relação. Amor suficiente para terem passado por qualquer tipo de perrengue que possam ter enfrentado durante a vida. Se no ensino médio eles passaram por umas poucas e boas, imaginem durante a vida adulta. A homofobia nos corrói, em certo ponto. A discriminação é a porra de uma faca afiada que nos atinge em qualquer lugar. Admito que eles vieram a passar por fases de crise. Talvez quando Harry tenha passado dois anos estudando fora, em Paris, e apenas visitando Louis de seis em seis meses, matando a saudade através de chamadas de Skype atrapalhadas e sem vida. Ou quando eles dois perderam a guarda do primeiro filho e quase se divorciaram. Assim como qualquer outro casal, eles passaram por períodos tempestuosos, porém esse foi exatamente o ponto aonde eu queria chegar: Eu quis mostrar para vocês que, mesmo eles sendo um casal considerado "diferente" perante a sociedade, ainda possuíam os mesmos problemas que os casais "normais". Contas para pagar. Impostos. Inseguranças. Dor. Mas o amor é um só. E o amor que os uniu, é o mesmo que une as famílias, os pais de seus filhos, a lua do sol e o carteiro da maldita bicicleta. O amor é tudo aquilo que dissemos que não era. 

Creio que no geral, eles tiveram sim, uma vida boa. Uns dois filhos para conta, uma casa grande em Upon Tyne – porque obviamente Harry nunca deixaria Robin sozinho naquela cidade assombrada – e bem mobiliada. Harry aproveitou os seus dons com a costura e se transformou em um estilista famoso da região, tendo o seu próprio ateliê, muito bem frequentado, por sinal. A vida deles foi satisfatória, feliz e com o tempo, tiveram o prazer de ver seus filhos crescerem, lhe dando possíveis netos. Um conto de fadas acessível, não acha? Pois eu acredito que seria justo cada um ser merecedor do seu próprio final feliz. Tanto o Harry & o Louis quanto eu ou você. 

Agora, o último tópico, sim. Uma das personagens mais complexas e difíceis que já escrevi sobre: Johannah. Não sei em quem me inspirei para construir o caráter forte de Jay, admito, mas já escrevi sobre personagens parecidos como o pai abusivo de Niall em As You Are. Bom, aonde eu estava? Sim. Johannah era mesmo insociável. Vindo de uma família tradicional e radical nos quesitos da bíblia católica, cresceu com o medo em seus pés. Isso é algo que eu tento relevar sobre a igreja: eles pregam o medo, e não o amor, e não é bem sobre isso que o tal livro fala. De qualquer maneira, ela tinha os seus ideiais, as suas crenças e a sua mediocridade. Ninguém foi capaz de tirar isso dela – nem mesmo Mark, já que o mesmo acabou sendo traído –  muito menos Louis. 

Eu escrevi sobre Johannah pois ela retrata a homofobia personificada. Principalmente pelo fato do ódio vir de dentro da sua própria família. Pois a nossa família pode ser sim, muito abusiva. Não somos obrigados a aturar um lar ou uma relação problemática que nos faz suar frio e ter dores no estômago. Todos nós somos merecedores da felicidade, ou ao menos, deveríamos ser. 

Admito que, em relação a ela, não usufruí muito do positivismo: Ela nunca aceitou o relacionamento homossexual de seu único filho. Por conta disso, certamente, eles nunca tiveram a chance de ter uma relação saudável. O Louis de dezessete ou o Louis de cinquenta. Jay nunca conseguiu entender, e nunca o aceitou. 

Os viam muito, muito pouco, e só passou a aceitar mais o casamento do filho depois da adoção do primeiro bebê do casal. E Harry lutou muito para conquistar a aceitação da sogra: A convidava para jantares, enviava cartões de natal anualmente e lhe comprava presentes. Johannah quase chegou a gostar dele, mas aceitá-lo, nunca. Quis retratar dessa forma porque acredito que isso de fato aconteça com muita frequência na vida real. Algumas pessoas nunca mudam, e o que dói, a meu ver, é que o ódio sempre será um baita desperdício de energia.

Eu preferiria bem mais escrever sobre um futuro glorioso aonde os dois seriam famosos, podres de ricos e sem nenhum problema mundano, mas daí, minha história perderia a essência, o que não faria sentido já que o objetivo foi mostrar que qualquer pessoa pode se apaixonar e vivenciar o amor. Fácil. Tranquilo. Comum, mas, ao mesmo tempo, raro. 

Obrigada pelas perguntas, minha querida. Suas dúvidas me fizeram reviver esse romance tão bonito que escrevi há uns anos, e a relembrar do quanto o Wattpad continua sendo um local amistoso para se escrever. Eu terminei meu segundo livro de poesia não-fictícia, e Para Onde As Pessoas Vão Quando Vão Embora está pronto há uns dois meses. Estou pensando em enviá-lo a uma editora. Bem, é ótimo, é um desses milagres silenciosos. 2019 não tem me tratado com muito carinho, mas me sinto grata. As palavras voltaram para mim. Quanto mais velha fico, tanto mais essa loucura mágica de escrever parece me abençoar. Muito esquisito, mas aceito. 

Tem sido lindo. 

Amor, 

Lívia
2019

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You flower, you feast ♦ [l.s] [finalizada]Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz