O Começo

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 "Tudo acontece no seu tempo. Tudo acontece, exatamente, quando deve acontecer."

— David Nicholls

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Améllia Howtwel

A grande maioria dos dias começam e terminam da mesma forma: na cama. Em outras palavras quero dizer que alguns dias não são lá tão interessantes, são meio monótonos e rotineiros. É outono em Turim, "a primeira capital da Itália" como você encontra datilografado nos livros antigos de história (ou no próprio Google). O vento gélido traz o lembrete de o sol está se pondo e é hora de ir para casa. É um lembrete dos fins de tarde quase que obrigatório, afinal você não vai querer congelar na calçada. Trabalho como vendedora em uma loja de departamento, o que se você for parar para pensar é meio deprimente para alguém tão jovem, inteligente e etc. Bom, era isso ou ir para uma faculdade renomada me profissionalizar numa coisa qualquer que eu não amo. Tenho pensado nisso quase todos os dias nesse cenário típico de outono, meus pais e amigos próximos fazem questão de lembrar diariamente como estou "estragando o meu futuro". O lance é que acredito nessa teoria de algumas pessoas simplesmente não nasceram para ter uma profissão (algo que a sociedade exige de todos, se você for pensar bem). Alguns de nós apenas não se encaixa em nada. Só falta todo mundo entender também. Mas à essa altura você deve estar se perguntando : "Mas afinal o que criatura pensa que está dizendo? Se não se vê fazendo nada então por que aceitou trabalhar numa loja de departamento ganhando um salário miserável e vivendo uma vidinha mais ou menos até envelhecer?"

E aí que a mágica acontece. A única coisa que realmente faz com que eu me sinta viva é viajar. Devemos fazer o que amamos, certo? Devemos fazer algo que faça o nosso coração bater mais forte e não sei o que. Um tanto hippie esse discurso não é? Talvez. Eu só penso que a vida é mais do que crescer, ir para faculdade, se formar, se casar, ter filhos e viajar nas férias deles, envelhecer em um asilo qualquer e morrer aos 70. Me recuso a ter uma vida desse tipo. Me recuso a trabalhar por 10h ou mais em um escritório qualquer no centro da cidade. Eu quero mais, mais do que esse ciclo vicioso que nos é imposto sem ao menos percebermos: quero fazer da minha vida algo diferente e extraordinário. Eu só sinto que não consigo fincar raízes em lugar algum. Desde os 12 anos eu e meus pais nos mudamos umas trocentas vezes e isso fez com que eu me sentisse um tanto... solta. É como se... ainda estivesse procurando um lugar que eu me sinta em "casa". Nesse momento passo pela Via Don Michele, uma rua com uma galeria de arte incrível. Trabalhos de jovens e idosos italianos são expostos e reconfigurados todas as quartas-feiras à tarde. "A vida imita a arte" repito para mim mesma mentalmente, é o meu mantra toda vez que entro no lugar.

 "A vida imita a arte" repito para mim mesma mentalmente, é o meu mantra toda vez que entro no lugar

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Gian Carbone

É só mais um fim de tarde na vida de um jovem adulto italiano sem muitas ambições. É inclusive aqueles fins de tarde que nos faz questionar o que há de errado com a gente, o porque da existência da frase "as coisas são assim mesmo" e a percepção de que não estamos imunes a morte, estamos na verdade à mercê dela e respirar talvez seja uma atividade temporária.

Outro ladoWhere stories live. Discover now