Manhãs de Abril

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     " Mas ela não se sentia adulta. Não estava preparada, de jeito nenhum. Era como se um alarme de incêndio tivesse disparado de madrugada e ela se encontrasse no meio da rua com as roupas emboladas no braço. O futuro se estendia à sua frente, uma sucessão de dias vazios, cada um mais desanimador e incompreensível que o outro. O negócio era ser corajosa, ousada e realizar alguma coisa."

Um dia, David Nicholls.


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Gian Carbone

Muitas pessoas acreditam na existência de uma teoria chamada "o tempo certo das coisas". Se você for parar para pensar, o universo não funciona exatamente do jeito que a gente quer. Aliás, ele é um grande fã da adversidade. Pode ser que a gente queira muito uma coisa, mas mesmo querendo em dobro, às vezes simplesmente não estamos prontos. Ou, ainda em outras palavras, simplesmente não é o momento certo. Nosso beijo tinha acontecido exatamente quando deveria. Mas o que faríamos em relação ao futuro? Simplesmente, não haveria um futuro. Não haveria "nós" em poucos meses. Essa ideia era perturbadoramente triste. Resolvi tentar esquecer esse fato e focar no agora. Agora estávamos juntos e o futuro bem... tudo tem seu tempo certo.

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Améllia Howtwel

É comprovado cientificamente que os opostos se atraem, mas não conseguem ficar juntos. É segunda-feira de manhã, e enquanto eu estou no trabalho só consigo pensar nessa frase, talvez inconscientemente meu cérebro esteja tentando me convencer e me preparar. Hoje está sendo um dia especialmente chato. É aniversário da loja, diversos jornalistas fazem matérias, tiram fotos e nós, trabalhadores quase escravos, somos obrigados à sorrir para câmera e elogiar a empresa, os fornecedores e etc. Há 2 anos trabalho na Cturl Girls. Recebo bem menos do que é exigido pelo governo e sou humilhada pela Tullia, gerente principal. 

— Sonhando acordada de novo querida? Sugiro que ponha os pés no chão e melhore essa sua cara. Queremos uma avaliação classe A hoje. Selecionei você para duas entrevistas.

— Faça seu trabalho medíocre para lá. — resmunguei sem nem raciocinar direito.

— Acho que você quer voltar ao subsolo não é? ela me joga essa indireta e vira as costas rindo, como quem tem poder para tal coisa. O subsolo era a zona de empacotamento e sua localização fazia jus ao nome. Era frio, sem janelas, sem música, sem cores nas paredes. Passei um bom tempo lá depois de ter dado uma respostinha na Tullia. Nunca processei a loja, mesmo que devesse. Fazer isso resultaria na minha família dizendo que tem razão, que não nasci pra trabalhar em loja de departamento. Eles estão certos, mas também não nasci para viver colada em uma cadeira durante 4 ou 5 anos. De qualquer forma isso acabava hoje. Eu estava disposta à mudar essa situação de uma vez por todas.

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Gian Carbone

Às 16:45 meu celular toca, Améllia está do outro lado da linha e pelo tom de voz, algo deu errado.

— Acho que... — sua voz está falha e distante.

— Dia ruim?

Outro ladoWhere stories live. Discover now