Tudo pode voltar a ser o que era

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Kara ON

Não me lembro o quanto chorei. 

Não me lembro o quanto eu gritei. 

É muito menos me lembro de quando desmaiei em seus braços. 

Não me lembro quando ela me colocou no sofá de minha sala, ou quando ela colocou minha cabeça em seu colo. 

Só me lembro da sua voz suave é calma me dizendo que tudo ficaria bem. 

O único problema, é que também não me lembro se isso foi realidade ou sonho.

[...]

Abri meus olhos lentamente, me acostumando com a luz que entrava pela cortina fina do quarto. Olhei o celular jogado no canto da cama e o peguei: 7:00 am. 

Eu sentia meu rosto formigar por conta do choro, meu rosto inchado e vermelho denunciava a qualquer um que eu havia chorado. Na esperança de ainda ser um sonho, me levantei rapidamente e fui ao quarto no final do corredor.

Ela não estava lá. 

Estava tudo igual. 

Não era um sonho, era a mais pura realidade. Por um lado me deu certo alívio por não ser um sonho. Isso significava que Lena esteve aqui, que ficou comigo, que cuidou de mim. 

Mas ela não estava mais ali. 

Voltei ao meu quarto, e com o mínimo de força e de ânimo que me restava peguei minha mochila. E com a mesma roupa de ontem, fui para a escola. Lá pelo menos eu teria ela, certo? Ou voltaria a ser tudo como era antes? Ela me trataria bem? Ou ainda me odiaria por conta de uma blusa branca com uma mancha de suco de uva?

Tantas perguntas, tantos questionamentos. Mas eu não achava a resposta ou solução para nenhum deles. Talvez quando o dia acabasse eu me dispusesse a procura-las de cabeça fria. Por mais que a dor falasse mais alto, que o ressentimento gritasse é a mágoa espernear-se. Eu não iria desistir, não era do meu feitio jogar tudo para o alto e me afogar como minha mãe fez. Mesmo ela me abandonando, ela ainda era minha mãe. Mais naquele momento eu só queria esquecer que ela existia. Queria esquecer que ela estava viva, na verdade eu queria que a essa altura ela estivesse morta.

[...]

Quando vi o portão da escola, faltavam apenas dez passos. Míseros dez passos, que eu não estava pronta para dar. Até porque eu entraria em um lugar que só o que me fez foi sofrer? Porque entraria em um lugar onde eu era esquecida e tratada como se não fosse ninguém constantemente?

Mesmo com todos esses medos, eu entrei. Dei aqueles dez passos que faltavam para minha vida voltar a ser a mesma coisa. Ou quase.

Assim que eu entrei, todos estavam normais. Riam, brincavam, bagunçavam e etc. Para eles era um dia normal. Para mim só era mais um dia de sofrimento. 

Confesso que quando a vi, meu primeiro instinto foi abraça-la e chorar em seu ombro novamente. Mas algo estava diferente do dia anterior. Ela não olhava para mim com a ternura que olhava ontem, ou ao menos me dava aquele sorriso que tanto me confortou em um momento que já estava se tornando insuportável na minha vida.

Samantha: Gente minha diversão vai começar cedo. Olha quem chegou.- Disse olhando para mim.- Então aberração, como é perder o pai e a loca da sua mãe que decidiu te deixar do que aguentar você por mais tempo?- Eu parei. Minha respiração ficou pesada e nem preciso falar que aquela maldita dor de cabeça estava novamente me incomodando.

Ela contou para os amigos dela tudo o que aconteceu ontem? Eu me recuso a acreditar que uma pessoa seja tão baixa ao ponto de usar a minha dor para se satisfazer.

Samantha: O que ouve praga? Achou mesmo que seu "momento" com a Lena ficaria só entre vocês?- Lágrimas começaram a encher o meu olho.- Ah meu Deus você achava mesmo que ela tinha algum interesse em você? Nossa você realmente tem uma auto estima muito alta.- Neste momento as lágrimas já rolavam pelo meu rosto, e ficava cada vez mais difícil de evitar que eles ouvissem os soluços.- Sabe o plano inicialmente era só tentar pegar você, mas quando a aposta foi dormir com você eu realmente acreditei que ela não o faria. Mas pelo visto você se entrega a qualquer um quando está carente não é mesmo?- Todos eles começaram a rir.

Kara: Foi isso que você disse a eles?- Direcionei a pergunta a ela.- Você disse que eu dormi com você? Você teve a capacidade de fazer uma aposta para ver se conseguia ficar comigo?- Ela não respondeu.- RESPONDE LENA. VOCÊ FOI BAIXA A ESSE PONTO DE FAZER DA MINHA DOR O SEU TROFÉU DE DIVERSÃO?

Lena: Ei, abaixa o tom de voz para falar comigo. Quem você pensa que é pra ter esse direito?

Kara: Você tem razão. Quem sou eu para enfrentar a garota mais popular da escola e sua corja. Eu não sou ninguém não é mesmo? Eu sou só um objeto pra vocês baterem e fazerem da minha vida um inferno a hora que quiserem. Eu sou a aberração não é mesmo? Eu sou a excluída que ninguém quer ficar perto como se eu tivesse algum tipo de doença, só porque você ficou com raiva de uma mancha de suco na porra da sua roupa.- Eles estavam calados, e também surpresos com minhas palavras. Pela primeira vez na vida eu estava falando tudo o que eu queria.- Você quer espalhar por ai que eu dormir com você? Então espalha, isso só vai fazer com que eu veja que eu realmente fui uma trouxa que se apaixonou pela pessoa errada.- Eles arregalaram os olhos para a última frase, acho que não esperavam que eu realmente admitisse que eu sentia alguma coisa por ela.- Vai lá. Anda Lena. ESPALHA PARA TUDO MUNDO QUE EU FUI SUA POR UMA NOITE. FALA PARA ELES QUE EU ME ENTREGUEI A VOCÊ. FALA O QUANTO VOCÊ SE DELICIOU ONTEM POR ME TER.- Sabe aquela maldita dor de cabeça, ela foi ficando pior a cada grito. E depois de bater a porta do meu armário de uma forma bem violenta, eu me virei para ir para minha sala. Quando eu tinha dado alguns passos eu me recostei no armário, aquela dor estava insuportável. Eu coloquei a minha mão ao lado da cabeça, e senti algo molhado em minha orelha. 

Era sangue. 

Muito sangue. 

As pessoas que estavam a minha volta me olhavam ainda surpresas. Eu me virei para eles. E a última coisa que me lembro foi quando a garota que tinha acabado de me humilhar, veio correndo me segurar para que eu não fosse de encontro ao chão.

Lena: CHAMEM UMA AMBULÂNCIA RÁPIDO.- Ela gritou para seus amigos eu acho. Ela colocou a mão na minha orelha, acho que para tentar ver o porque do sangramento.- Vai ficar tudo bem.- Vejo Alex se ajoelhar ao meu lado também, mas meu foco estava nos olhos verdes em minha frente

Kara: Você já me fez essa promessa antes, e tudo piorou. Eu não acredito mais em você.

E então a escuridão total tomou conta de minha visão. E eu apaguei.

///////////

Parece que alguém ama a Kara não é meismo? E parece que alguém ama a Lena.

A Lena realmente pisou na bola. O que acharam das atitudes que ela tomou?

Beijos, e até o próximo cap.

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