Sangue na água.

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          Pov Anamika

Depois que Kelsey havia terminado de falar com Ren, e como eu já havia tomado banho, subi pro meu quarto pra me arrumar. Escolhi rapidamente um vestido preto com a saia rodada e passei meus dedos por meu longo cabelo. Quando terminei, fui ao quarto de Kelsey.
  - Uau, é muito incrível como você consegue ficar bonita em qualquer roupa - falei olhando Kelsey. Ela vestia uma calça justa preta e uma blusa cinza de mangas compridas com botões prateados na frente. Ela estava linda.
  - Você também está maravilhosa nesse vestido. Parece a noite, só que sem estrelas, claro.
  - Eu sou a estrela do noite, querida Kelsey.
  -Ok, ok estrelinha. Ren pediu pra levarmos uma muda de roupa, porque não podemos molhar essa.
  -Molhar? Ele endoidou?
  - Não sei, mas se ele pediu. Quando você achar a sua, coloque aqui nessa bolsa. 
Quando Kells terminou de se arrumar, ficou rodando pelo quarto, ansiosa pela chegada de Ren. Fiquei brincando com minha pulseira, também esperando. De repente escutamos a buzina de um carro e Kelsey sorriu, indo até a janela pra ver se era ele mesmo.
Descemos a escada e Kelsey trancou a casa. Ela andou rapidamente até Ren, que já havia saído do carro. Ela o abraçou fortemente - como se tivessem ficado séculos sem se ver - e ficaram em sua própria galáxia. Revirei os olhos e apenas puxei a porcaria da porta do carro e parei.
Ele estava lá. Estava incrivelmente vestido com una camisa social preta assim como a calça, que se ajustavam tão bem a seu corpo musculoso. Ele estava lindo. Tão ordinariamente lindo.
  - Olá, bilauta.
  Sua voz grave me fez acordar de meu transe.
  - Sohan, você não tem seu carro? Por que diabos veio se enfiar aqui? - falei entrando no carro.
  - Vish, a mulher já tá de mau humor. Pensei que você ainda estivesse carinhosa como de tarde. 
  - Você se acostuma. - Kelsey fala já dentro do carro, sentada no banco do carona e Ren já dirigindo. Kells estava com um mini bolo no colo. Eu ia pegar meu celular e tentar ignorar a presença de Sohan, mas ele simplesmente estendeu o braço para algo atrás de mim e me deu um beijo na bochecha e ficou me encarando, depois puxando o meu cinto e o colocando em mim. Eu pisquei várias vezes, atordoada. 
  - Creio  que você ainda não quer morrer, ainda tem muito da minha beleza pra ver, strimani.
  - Murkha. Eu ia perceber. E não me chame de strimani. 
  - Obrigado por avisar, vou chamar ainda mais. Quer ver um filme?
  - Quero. - falei ainda um pouco emburrada com ele. Sohan passou o braço por trás de mim e começou a fazer carinho em meu ombro, enquanto eu me recostava no dele. 
  Fiquei tão entretida com o filme que nem vi quando chegamos a casa dos Rajaram. Sohan voltou a tirar meu cinto e saímos do carro. Ele me deu um beijo na testa e eu franzi a testa, surpresa. E finalmente me virei para a grandiosa casa.

                   Pov Kelsey

  - Olá meus queridos! - Deschen falou da grandiosa varanda, caminhando pelo jardim até nós. 
  - Feliz dia das mães, Deschen! Esta é minha irmã Anamika.
  - Olá! - Ana falou, acenando timidamente pra Deschen.
  - Olá minha querida. Sohan fala muito de você! - Deschen fala abraçando Ana.
  - Feliz dia das mães, mãe. Este é nosso presente. - Ren fala pegando o pequeno bolo que estava nas minhas mãos.
  - Ah que lindo meus amores! Vamos entrar, Kadam e Nilima querer conhecer Kelsey e Anamika!
  - A mim?- Ana pergunta devagar.
  - Claro meu amor. Você faz parte da família! - Deschen fala carinhosamente. Dei um sorriso encorajador pra Ana e ela sorriu de volta. 
  Caminhamos no jardim, pisando no caminho feito de pedrinhas pequenas. Havia várias plantas, das quais reconheci a Bounganville florida, e decorando havia pedras gigantes, e um ofurô ampliado pra ficarem várias pessoas. Ele estava muito bonito desta vez  que fui visitá - los. Havia o verdadeiro jardim, que Deschen afirmou que ficava na parte de trás da casa.
Entramos, e a primeira coisa que encontrei foi um homem alto e de aparência indiana, vestido num terno preto elegante,  Seu cabelo branco e grosso era curto, e a barba e o bigode eram bem aparados. Seus olhos eram castanho-escuros, quase negros, e  ele tinha um nariz comprido e aquilino e a pele azeitonada. O homem estava com Rajaram, falava em tom suave que definitivamente destoava naquela grandiosa sala, e uma mulher muito bonita, com cabelos pretos e longos.
  - Olá senhorita Kelsey! Sou Anik Kadam, amigo da família. - disse ele com um sorriso sincero. Levantei a mão para cumprimenta - lo, mas senhor Kadam beijou as costas de minha mão e deu tapinhas carinhosos nelas. Sorri abertamente para ele,  pois não havia malícia em seu ato, apenas cordialidade e cavalheirismo.
  - Olá senhor Kadam, é um prazer conhecê-lo. Todos falam tão bem do senhor.
  - Eu fico feliz com isso - Senhor Kadam dá uma risadinha - e falam muito bem de você também, principalmente nosso querido Dhiren. - eu corei e olhei para a moça inquieta ao lado dele.
- Olá! Meu nome é Nilima. Estive tão ansiosa para conhecer você, senhorita Kelsey! Dhiren fala tanto de você. - Nilima fala me abraçando.
  - Olá Nilima, é um prazer conhecer você também. Pode me chamar de Kelsey.
  - Claro, claro. E você deve ser Anamika, o Batman falou muito de você também!
  - Batman? É um prazer conhecer você também.
  - Batman é Kishan, é um velho apelido entre nós.
  - Eu também estava com saudade de você Lili! - Kishan fala, passando um braço pelos ombros de Nilima.
  O olhar de Nilima mudou na hora. A fúria tomou conta do belo olhar castanho da bela moça.
  - Eu te disse da última vez que se me chamasse de Lili mais uma vez eu te mataria.
  - Bom, faz bastante tempo. Estou esperando.
Um sorriso tomou conta de Nilima, como se um plano diabólico estivesse sendo planejado.
  - Bom, eu tenho outro plano em mente. Caso Anamika queira ver as mensagens que você me mandou falando dela, eu estarei a postos.
  O queixo de Anamika caiu.
  Kishan abriu a boca, mas Deschen o interrompeu.
  - Bom, vamos jantar senão vai esfriar, já estamos acostumados a ver Nilima e Sohan brigando. Querido, aonde está seu pai?
  - Vou atrás dele, Hridaya Patni.
Cutuquei Ren e sussurrei:
  - O que quer dizer Hridaya Patni?
  - Esposa do meu coração. Eu espero ansiosamente o dia que poderei falar isso pra você, iadala. - sorri e me inclinei, dei um beijo suave em sua bochecha, a pele estava quente e macia.
  - Eu também Ren, eu também.
  
-Hoje o jantar é linguado com crosta de avelã, aspargos na manteiga, purê de batata com alho e torta de limão para sobremesa. O que gostariam de beber? - Deschen pergunta animadamente.
- Água com limão - respondi.
Todos beberam a mesma coisa. 
Desfrutamos do jantar todos juntos.  O  Sr.   Kadam me fez muitas perguntas sobre o Oregon. Ele parecia ter uma sede insaciável de aprender fatos novos e me perguntou sobre tudo, de esportes e política (assuntos que não domino e que Ren, Kishan, Rajaram e até Anamika fizeram questão de responder) à  flora e à fauna do estado. 
Conversamos sobre o ensino médio e minha cidade natal: as migrações de salmões, as fazendas de árvores de Natal, os mercados de produtores e os arbustos de  amora que,  de tão comuns,   eram considerados erva daninha. Era fácil   conversar com ele, pois era um bom ouvinte e me deixava à  vontade. O pensamento  de  que  ele  seria  um avô maravilhoso cruzou a minha mente. Não tive a  chance de conhecer nenhum dos meus. Eles morreram antes de eu nascer, assim como minha outra avó.  
Phet surgiu em um momento na sala e cumprimentou todos, pegou em minhas mãos em concha e sorriu para mim.
- Ah! A minha flor cresce resistente e forte! Tigre branco cuida bem de flor de Phet. 
Ele se virou para Anamika, que sorriu para ele.
  - Ah, a bela moça veio. Ela é bonita, pura como água. Mas também pode ser brava, Durga sussurra isso a Phet. Phet tem que olhar nos olhos de moça bonita. - Phet falou colocando as mãos na bochecha de Ana. Ele a fitou intensamente, examinando cada detalhe de seus lindos olhos verdes. Ana esperou pacientemente, com um pouco de nervosismo.
– Olhar nos olhos dela? Por que precisa fazer isso?
      – Olho é vidro. Não espelho. Dentro do olho tem zumbido igual abelha. Pele é carne? Não importa. – Ele pegou um punhado de seu cabelo eriçado. – Cabelo não é nada. – Sorriu para mim. – Dente e língua? Não tem zumbido. Palavra não é zumbido. Só o olho fala.
      Eu não tinha entendido nada.
      – Está tentando dizer que os olhos são a janela da alma?
      Phet deu uma risada alegre.
  - Isso, Quel - si. Isso, isso.
  Ana juntou as sobrancelhas negras e olhou para mim, e eu apenas dei de ombros, eu também não tinha entendido quase nada.
Depois que terminamos de jantar, Sr. Kadam, Deschen e Rajaram foram pra um canto e conversavam enquanto tomavam vinho. Nenhum de nós tomou, visto que alguns de nós iam dirigir pra casa, e todos sóbrios funcionam mais do que uma trupe de bêbados. Apesar de que Nilima fosse ficar hospedada nesta casa, resolveu ficar conversando conosco. Ela brigava constantemente com Kishan, e Kishan brigava constantemente com Anamika, tirando risos de mim e Ren que estávamos sentados lado a lado, com minha cabeça em seu ombro.
Em algum momento da noite, mais um convidado chegou. Minhas costas ficaram retas com o arrepio que senti. Olhei para trás ao mesmo tempo que Ren, e vi Rajaram cumprimentar um homem alto, de boa aparência, os olhos escuros e uma acompanhante muito bela. A garota devia ter pouca idade, a beleza dava um ar angelical à ela. Os olhos violetas eram incrivelmente lindos, as sobrancelhas escuras contrastavam com o rosto estranhamente pálido e em formato de coração. Ela vestia uma bata dourada e uma legging preta.
  - Boa noite. - o homem cumprimentou, se inclinando para a frente e indo até onde Rajaram estava.
  - Quem é? - sussurrei para Ren.
  - Lokesh Achala e sua filha Yesubai Achala. Um amigo e sócio de longa data de meu pai.
  - Ele me dá arrepios.
  - Eu também não tenho boas sensações quando ele está perto, mas até agora não vimos nada de errado nele. Você quer tomar banho de piscina Kells?
  - Agora? - dei uma olhada rápida em meu celular e vi que já eram 00:35.
  - Bom, o pessoal concordou. Se você estiver com frio, eu fico na beirada com você.
  - Não. Tudo bem, eu vou sim. Só vou trocar de roupa.  Você me enpresta uma blusa? Ana, Nilima, vocês vem comigo? 
  - Claro Kells.
  
Saímos caminhando. Aquela casa era enorme. O que tinha de grande tinha de bonita. Nilima e Anamika conversavam baixinho, mas animadamente. Eu prestava atenção nas paredes, nos quadros com pinceladas delicadas. Eu sempre quis pintar e tinha tentado algumas vezes, mas nunca fui além. Quando tudo se acalmasse e eu terminasse a faculdade, eu alugaria um estúdio para pintar. Saí de meus devaneios quando Nilima começou a falar:
  - Ah, eu lembro de como eu corria com os meninos por esses corredores. Lembro - me de uma vez que Kishan correu tanto, não freou e deu de cara no chão em sua longa jornada de tentar ganhar de Ren. Lembro dos vasos quebrados, dos gritos estridentes de Deschen.
Anamika deu uma gargalhada alta, ela provavelmente provocaria Kishan com isso mais tarde.
  - Você os conhece há muito tempo, não é Nilima?
  -  Desde que eu era bebê. Quando eu ainda era muito pequena, tinha pouco mais que um ano, meus pais morreram num acidente de carro e meu avô, com todo o amor do mundo me criou. E quando ele tinha que ir à empresa, Deschen se oferecia pra cuidar de mim, e eu brincava com os meninos. Era fofo de ver Ren tomando conta de mim e de Kishan, e por ser o mais velho, poucos meses mais velho que eu. Eu e Kishan aprontavamos tanto - Nilima lembrou com um sorriso - Apesar de brigarmos constantemente, somos irmãos e eles são ciumentos como.
  -Falando em ciúme, você namora Nilima? - Ana perguntou.
  - Oh, não. Eu nunca liguei muito pra isso, sabe. Eu viajo muito com o vovô e não tenho tempo pra isso. Eu tenho alguém especial na Índia, mas ele é muito ocupado e eu também, então...
  - Oh, que pena. Eu tenho certeza que ele deve ser divertido. - Ana falou suavemente, com sinceridade.
  - É sim. Kelsey, você viu como Kishan olha pra Ana?
  - Vi Nilima, vi sim. - escutei um suspiro de Anamika.
  - Tava demorando. Sohan é meu melhor amigo, não comecem.
  - Alguém fala pra ele que ele é seu melhor amigo, então. Ele gosta de você, mesmo.
  - O que Kishan talvez quer e o que eu quero são rumos totalmente diferentes.
  - Alguma hora rumos se encontram, talvez você tenha só medo do destino.
  - Eu não tenho medo de nada. - Ana declarou erguendo o queixo e sorrindo.
  - Eu sei que não. - falei me aproximando e apertando a ponta de seu nariz.
  Esperei as meninas se vestirem e fui pro banheiro. Quando acabei, chamei Nilima. 
  - Nilima, você guia Ana até a sala? Eu vou procurar Ren pra pegar uma camisa.
  - Ok, se não achar dê um grito.
  - Tudo certo. - falei saindo do quarto. Ren havia me informado que seu antigo quarto tinha uma porta azul celeste e fui caminhando à procura. De repente, ouvi uma voz alterada.
Me escondi atrás de um vaso chinês com uma planta com as folhas gigantes.
Vi que Lokesh segurava agressivamente o braço de Yesubai. Ela estava com a cabeça baixa enquanto ele cuspia palavras pra ela.
  - Eu falei pra você, nunca abra a porcaria da sua boca sem eu mandar! - ele quase sussurrava as palavras pra ninguém na sala ouvir.
  - Pai, e-eu achei que... Deschen havia falado comigo e...
  - Você não acha nada Yesubai. Você faz o que eu mando e mais nada. Quando chegarmos em casa...
  Minha fúria subiu. Saí de trás do vaso, nem me importando se Lokesh se perguntasse de onde diabos eu havia saído.
  - Senhor Lokesh, eu não sei totalmente como são as culturas da índia, mas eu acho que sua filha entenderia tudo o que o senhor disse se não estivesse segurando o braço dela desta forma. - falei com uma voz firme para ele. Aqui, ele não faria nada pelo menos. Ele olhou para mim e a fisionomia dele mudou na hora, fingiu estar em um transe e largou o braço da filha.
  - Senhorita...Kelsey. Me desculpe por isso. Eu realmente não queria tratar Yesubai deste jeito. Mas é que eu a amo demais, e com a morte da mãe dela... Yesubai é tudo o que me resta e não quero perdê- la, e às vezes eu me descontrolo.
  - Senhor Lokesh, o amor não deve sufocar ninguém, cuidado pro seu amor não sufocar sua filha. Se eu ver o senhor a segurando novamente assim, não terá mais aviso e já serão as autoridades que cuidarão disso. Eu vou considerar que isso nunca aconteceu e que não acontecerá mais. - falei, ainda com a voz firme, a fúria e a indignação em cada palavra.
  - Certamente que não.
  Dei uma última olhada em Yesubai, que me olhava agradecida, ainda que quase imperceptível e andei no corredor procurando por Ren.

Lotus SunriseWhere stories live. Discover now