-Linhas Cruzadas-10

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— E agora? O que vamos fazer? Eu não quero ficar trancada aqui não, eu tenho glau…cautro…castofob… Eu não posso ficar em lugar fechado por muito tempo não, se não me dar vertigem. — Aurora disse de forma estupefata.

— Ah! Pois, nem trate de passar mal aqui não, se estamos nessa situação é culpa sua. — Gretta alarmou, levando a mão ao vento.

— Minha? — Aurora questionou levando às duas mãos ao peito, indignada.

— Se você tivesse feito o que mandei e ido para sala de estar e não ter vindo atrás de mim, nada disso teria acontecido. — Gretta se escorou ao lado de um dos (portas) taças, cruzando os braços enquanto falava de forma séria e dura com a mais nova.

— Eu vim atrás de você para te ajudar a escolher. Sua grossa... e te fazer companhia.

Gretta olhou impaciente para Aurora e bufou, deixando claro que não estava nenhum pouco confortável com aquela situação, enquanto Aurora, também estava descontente com o comportamento da anfitriã, fazendo assim, às duas darem início a uma calorosa e longa discussão.

— E você é uma insolente! — Gretta exclamou passando as mãos nos cabelos, enquanto fazia um bico e franzia o cenho, dando sinal de que estava cansada daquela briga.

— E você uma doida, que traz uma estranha, insolente, sem modos para dentro da tua casa, é desespero para não ficar só? — Aurora gritou, sentindo cada pedaço do seu corpo tremer de raiva e nervosismo.

Ela odiava com todas as forças desavenças, evitava ao máximo brigas, ainda mais com alguém que inconscientemente ela tinha curiosidade em desvendar.

Assim que a menina se deu conta do que tinha acabado de dizer, se silenciou arrependida, olhou em volta todo aquele pequeno lugar e voltou a se sentar no chão, o mais distante possível da mulher, enquanto Gretta permanecia em pé, sem pretensão de rebater a garota. Tinha sentido em cheio a última frase da garota, em todo o longo tempo da discussão, aquelas últimas palavras tinham sido a que conseguiu perfurar os anseios da mulher. Gretta suspirou, olhou para a menina que estava com os braços apoiados em seus joelhos, e resolveu sentar-se também ao chão, seu salto estava lhe matando.

Ali ficaram às duas por mais ou menos duas horas em total silêncio, até que Gretta levantou-se, pegou uma garrafa de vinho tinto, como a garota queria mais cedo, abriu, pegou duas taças e se dirigiu em direção da garota.

— Quando tiver na hora da secretaria ir embora, ela vai nos procurar.— Gretta disse de um jeito mais calmo, enquanto entregava a taça para a menina. Aurora pegou a taça e assistiu a mesma receber aquele líquido em coloração escura e hipnotizante, fechou os olhos e sentiu o aroma do vinho, não precisou ler o rótulo para saber de qual se tratava. Gretta serviu sua taça e voltou para o outro lado da adega, sentando-se ao chão.

— Eu pensei que poderíamos ser amigas, eu passei toda a minha vida deixando minhas neuras me dominarem, — Gretta sorriu fraco — achando que era melhor me manter longe das pessoas do quê me explicar por que sou assim… ou tentando mudar para me encaixar nos moldes delas, — Gretta se silenciou por alguns poucos minutos, olhou para um ponto morto e voltou a falar, — a verdade é que eu nunca achei que eu pertencesse a essa civilização, mas aí eu conheci ele... nos apaixonamos, ele até (reclamava) do meu jeito, mas entendia e eu não me sentia sozinha, aí ele faleceu e depois disso, eu passei a me sentir novamente não pertencente a esse mundo. — Gretta tomou um longo e generoso gole de vinho, pegou a garrafa e encheu novamente sua taça. — É como se eu fosse incapaz de me socializar.

— Você não tem filhos? — Aurora perguntou com compaixão, enquanto esvaziava sua taça.

Gretta levantou a cabeça, escorando nas prateleiras de vinho, como se tentasse olhar para o teto, mesmo que (estando) de olhos fechados. — Dois! — exclamou enquanto mais uma vez levava a taça á boca.

Linhas Cruzadas (Romance lésbico)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora