-Linhas Cruzadas-12

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Aurora sorriu, não conseguindo conter a ironia do destino, diferente de todos os outros dias, a garota estava mais calada, afinal, estava voltando ao lugar onde se sentiu sucumbida pelos desejos mais profanos, a outra não estava indiferente, mas, a mulher disfarçava bem, tão bem que Aurora poderia dar quase certeza absoluta de que a mulher nem se lembrava do beijo de velvet, pobre garota... não imaginara que aquele beijo de velvet tão promíscuo nunca saiu da mente da mulher, não imaginara que por causa daquele beijo, a mais velha se sentia o próprio Hércules, tendo que matar um leão que assolava o vale da Neméia. No caso... o Leão seria seus desejos, e Neméia seria seus pensamentos. Mas tinha pleno discernimento de que tentar fugir daquilo era quase que como tentar vencer o cão Cérbero, guarda do inferno. Impossível! Mas, ninguém precisava saber, decidia a mulher.
Ambas suspiraram, às duas se entreolharam e sorriram da tamanha sincronia que foi o suspiro das duas, nem Beyoncé faria algo tão sincronizado quanto.

- O inverno nos deixa diferente. - A menina murmurou olhando a forte chuva lá fora.

- Para mim, é uma estação como outra qualquer.

- Talvez por que você é o próprio inverno.

Gretta deu meio sorriso de lado. Não se sentia incomodada com comentários desses tipos, ela até gostava de ser taxada assim, pois, era através da frieza que ela conseguia esconder sua doçura.

- Era só o que me faltava! - Exclamou a mulher, dando um (tapa) no volante.

- Olha, desculpa, saiu sem querer.

- Não é por isso garota tola, olhe em frente. - A mais velha apontou.

Aurora deixou o queixo cair ao ver a avenida interditada, provavelmente por alguma catástrofe causada pelo temporal!

- E agora? - A menina perguntou, olhando apreensiva para a mais velha.

- Vamos voltar para o restaurante, qual não deveríamos nem ter saído e mais tarde provavelmente as autoridades competentes já terão resolvido.

- A não, aquele restaurante com aquele mala, não, podemos ir naquela sorveteria, lá tem o melhor misto-quente.

Gretta observou Aurora atentamente. Sua razão mandava ela ir para o restaurante e assim que desse, cada uma pegava sua "estrada", a mulher que sempre fazia exatamente o que queria e como queria se pegou com vontade de fazer o capricho da mais jovem, apesar de não saber o porquê. Observou aqueles lábios entreabertos e engoliu a seco - Se não for bom, nunca mais sairei com você!

Aurora sorriu com grandeza magnitude, sorriso esse que Gretta também observou bastante antes de dar atenção ao volante para fazer o retorno. Poucos minutos depois às duas estavam parando o carro no estacionamento da sorveteria, Gretta pegou seu guarda-chuva no banco de trás e pediu para que a jovem aguardasse, a mulher deu a volta e foi até a porta do passageiro.

- Quanto cavalheirismo! - A jovem disse sorridente assim que a mais velha abriu a porta para ela.

- É para você não se molhar!

- Deixa eu sonhar que você é delicada faz favor!

- Sou delicada com quem merece.

- Ah sim! Muito delicada, percebe-se, fronzen. - Aurora disse com sarcasmo.

E assim às duas seguiram para dentro da sorveteria trocando farpas, Gretta gostava do jeito que a jovem reagia ao sarcasmo, chatice, quiçá ironia, e Aurora parecia que sentia prazer em tirar a mulher do sério, se divertia com as tiradas dela.

- Ótimo! Nenhuma mesa, definitivamente não deveria ter saído do meu percurso.

- Calma, provavelmente todos estão esperando a avenida ser liberada, então vamos pedir para nos juntar a alguém.

Linhas Cruzadas (Romance lésbico)Where stories live. Discover now