-Linhas Cruzadas-14

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— Não sabia que o restaurante tinha mudado de endereço. — Aurora proferiu, tentando falar no mesmo tom que Gretta falava com ela.

— Se você quiser passar 3 horas no trânsito, ou ir para casa pegando mais chuva, tudo bem, ou você pode ficar lá em casa até a chuva passar, é mais perto, esqueceu?

Aurora nada disse, se encolheu no banco do carona e olhou pela janela, estava com frio, estava tremendo, não só pelo efeito da chuva ter molhado seu corpo, e sim pelo nervosismo, a menina ainda sentia o gosto do beijo da mulher, ainda sentia o seu coração acelerado e não conseguia calar sua mente que tratava de recordar de seu namorado, que não merecia uma traição, e muito menos sua mãe merecia uma filha que namorasse uma mulher da idade dela, a menina suspirou pesadamente e se encolheu mais ainda.

Gretta estava com seus conflitos gritantes dentro dela, aquelas atitudes dela iam contra todos os princípios que ela intitulava seguir. Para Gretta, Aurora era a própria rosa de Hiroshima do poema que Vinícius de Moraes compôs no ano de 1946. o trecho que mais se assemelha entre a garota e o poema para Gretta era;

… Mas, oh! Não se esqueçam

Da rosa, da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa…”

Gretta sorriu, lembrando-se do poema e da tal analogia, e como aquela delicada “rosa” poderia causa uma explosão/estrago na vida da mulher.

Para quem não entendeu direito, eu a narradora esta que vos fala, linda e mal-humorada vós explicarei; para Gretta, a rosa é Aurora e Hiroshima os sentimentos que a garota desperta na mulher.

E assim às duas seguiram caminho, cada uma submergida em seus pensamentos até chegarem na casa da mais velha.

— Eu detesto inverno, não eu não detesto tanto, só tem dias que eu não gosto, mas eu adoro essa época, por que é época de festividades, mas eu odeio o inverno por causa disso, não para de chover, é todo (dia) chuva, é sol com chuva, é chuva com sol, é só…

— Você poderia se decidir se gosta ou odeia e parar de ser tão repetitiva em um único assunto? — Gretta questionou sentindo aflição pela garota não saber se realmente gostava ou não daquela estação.

— E você poderia deixar de ser tão chata pelo menos por um instante? — Aurora questionou semicerrando os olhos.

— Entre! — Gretta exclamou assim que abriu a porta.

Aurora revirou os olhos, tirou seu tênis molhado e descalço seguiu para o meio da sala extremamente organizada e branca, a jovem sentiu falta de uma decoração natalina, mas preferiu deixar para perguntar em um outro momento, assistiu Gretta tirar seu scarpin azul-marinho, e seguir para as escadas chamando a garota para lhe seguir, Aurora nas pontas dos pés subiu as escadas, ainda se tremendo de frio.

Aurora sentiu um calafrio, mas não por está com as roupas molhadas, e sim por se dar conta que estava adentrando o quarto da mulher, sentiu aquele aterrorizador frio na barriga. A garota se pôs em cima do tapete branco que havia no meio do grande quarto da mais velha, Gretta que mexia em seu guarda-roupa, olhou de soslaio, sentiu vontade de chamar a atenção da garota “Ela não ver que está molhando o tapete?” Questionou a mulher mentalmente, porém, com muita dificuldade conseguiu não pedir para a garota sair de cima do tapete.

— Essas roupas cairá bem em você, o banheiro é ali, tome um banho quente, que descerei para pedir a secretaria que prepare algo quente para comermos e não pegarmos um resfriado.

Linhas Cruzadas (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora