-Linhas Cruzadas-13

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Aurora ainda não acreditava que Gretta havia feito aquilo, a menina ainda esperou alguns minutos na esperança de que talvez a mulher se arrependesse e voltasse pedindo desculpas e oferecendo carona, mas não foi isso que aconteceu.

A menina ainda do lado de dentro da sorveteria, decidiu ir debaixo de chuva, já que o tempo chuvoso estava com cara de que iria durar o dia todo quiçá virará a noite… Enquanto a menina andava abraçada em seu próprio abraço, ela sentia uma angústia, um machucado lá naquele órgão que serve unicamente para bobear sangue para o nosso corpo, mas que a humanidade insiste em romantizá-lo, sendo que, na verdade, as angústias e anseios a gente sente através do nosso segundo cérebro. É! Temos um segundo cérebro. E o segundo cérebro de Aurora estava machucado, por uma coisa até considerada boba tendo em vista que foi ela mesma quem sugeriu para ir de ônibus, mas a menina se viu triste, desejara, na verdade, passar mais tempo com a mulher, estava frustrada, mesmo que sem perceber.

A menina perdida em suas frustrações, começou a andar mais devagar que o normal, já quê avistou uma latinha e começou a chutar como se fosse uma bola, enquanto ia esbravejando palavras de baixo calão sobre a Gretta, deveras estava muito chateada com a mulher.
— Amanda está certa, ruivas são sem sentimentos e cruéis. — Murmurou a menina ao vento.

Já Gretta, estava presa em um engarrafamento, tinha se arrependido de ter deixado a menina para ir de ônibus, e resolveu voltar, porém, pelo caos que estava aquela cidade, devido à catástrofe que havia acontecido. Ao fazer o retorno pegou um trânsito infernal, por um momento se arrependeu em pensar em voltar, porém, sentia vontade de passar mais tempo com a menina, fazia tanto tempo que elas não se viam, e para ela, aquele encontro pareceu ter durado bem pouco, a mulher se pegou sentindo saudades da garota, e isso não era nada aceitável para ela mesma.

Quando Gretta conseguiu sair do engarrafamento que se encontrava ao fazer o retorno para buscar a garota, já que estava arrependida de tê-la deixada sozinha, apesar de que era o melhor para às duas, foi o mais rápido possível para a sorveteria, adentrou o local procurando pela menina, porém, não avistou mais. Entrou novamente em seu carro e a chuva que estava caindo já mais fraca, voltou a engrossar, a mulher seguia pela rua olhando atenta para calçada, pensando como aquela garota era idiota em se arriscar a sair debaixo de chuva. — Garota tola, deveria ter ficado esperando a chuva cessar. — Murmurou a mulher ainda atenta para a calçada.

Gretta abaixou o vidro do carro ao avistar de longe uma menina com os cabelos longos grudados na roupa, seus braços junto ao corpo e chutando uma lata, a mulher franziu o cenho e balançou a cabeça em negação ao presenciar tal cena. Apertou a buzina com vontade na tentativa de chamar a atenção da garota, porém, a menina fazia de conta não ouvir. A mulher gritou seu nome, Aurora olhou para a mulher e voltou a olhar para frente apressando os passos.

— Entra no carro, garota! — Gretta ordenou.

Aurora ignorou a ordem, e seguiu como se não tivesse ninguém falando com ela. A menina estava chateada, estava triste, talvez estivesse exagerando, porém, jamais devemos julgar ou medir o sentir do outro, já que nossos seres que apesar de a semelhança tem o sentir único; Uns sentem menos, outros sentem mais, uns escondem melhor, e outros não escondem nada, e naquele momento, Aurora não estava conseguindo esconder suas emoções e sentimentos.

— Você vai pegar um resfriado, entra no carro, menina. — Gretta gritou ao buzinar.

— Você não se importou com isso ao me deixar vir debaixo de chuva, se quer ofereceu seu guarda-chuva. — Por fim, Aurora esbravejou furiosa enquanto respirou fundo, sentindo a chuva gelada caindo pelo seu rosto rígido e lábios trêmulos e roxo pelo frio, enquanto tentava olhar para a mulher com os olhos semicerrados.

— Eu estou aqui para lhe levar.

— Eu não vou com você, a parada de ônibus já é ali. Tchau! — Aurora deu as costas, emburrada, para a mulher e seguiu mais rápido, a parada de ônibus já estava a poucos menos de dois metros.

Gretta estacionou o carro, e saiu rapidamente do mesmo, esquecendo-se até do guarda-chuva. — Deixa de ser idiota, menina, o ônibus não vai chegar tão cedo, está um engarrafamento horrível, vamos. — Gretta proferiu segurando no braço da garota puxando-a em direção ao carro.

— Eu já disse que não vou! — Aurora puxou seu braço para trás, fazendo Gretta soltá-lo.

— Você quer pegar uma pneumonia e morrer? Deixa de ser estúpida garota, eu não quero carregar essa culpa comigo, caso você fique doente. Você vem comigo agora mesmo, por bem ou por meu, nem que para isso eu tenha que te arrastar pelos cabelos.— Gretta disse impedindo Aurora de seguir em frente, a mulher nem tinha percebido, mas já estava completamente molhada e irritada.

— Estúpida é você, VOCÊ quem afasta as pessoas que gostam de você, você por ser arrogante, ser grossa, por não estar nem aí com o sentimento de ninguém, você é uma idiota, frígida.

— Olha! Eu vim aqui para te ajudar, não foi para ficar ouvindo ofensas não. Cala a boca e entra logo no carro— Gretta rebateu aos gritos.

Não havia quase ninguém na rua, apenas os carros passando em busca de chegarem mais rápido possível aos seus respectivos destinos, e a chuva forte lavando o chão e molhando ainda mais às duas que agora se encontravam caladas se encarando intensamente, na tentativa de desvendar ou entender o que estavam sentindo.

— Por que você afasta às pessoas de você? — Aurora perguntou com os olhos marejados, mas, não era notório, já que se camuflava por conta da forte chuva.

Gretta ainda encarando a menina, não sabia o que responder, não sabia o que fazer, estava lutando contra ela mesma para não avançar na menina e beijá-la. Essa era a única coisa que a mulher pensa e desejava.

— Eu odeio você! Odeio ter te conhecido, definitivamente foi a pior coisa. — Aurora emendou chorando.

Gretta ao ouvir aquelas palavras, sentiu uma angústia, não poderia deixar a menina ir assim, odiando-a, se aproximou mais da menina, segurou seu rosto molhado e gelado, avançou nos lábios da garota, qual correspondeu na mesma intensidade o beijo molhado, gelado, porém, quente e intenso.

Aurora levou às mãos para as costas da mulher, puxando seu corpo para mais perto dela com necessidade, Gretta levou uma mão para a nuca na garota, intensificando mais o beijo, e a outra indo para a cintura da garota.

Ali expostas para quem passava, debaixo de uma forte chuva às duas deram o beijo mais longo e intenso de suas vidas, não se importando com nada e ninguém, submergida ao desejo.

Assim que o beijo cessou, Gretta abaixou o olhar, não estava arrependida, mas, estava envergonhada, era tudo novo demais para alguém que detestava coisas novas, principalmente sentimentos que ela não estava acostumada a sentir, e muito menos controlar.

— Vamos, graças a você, agora é às duas que correm o risco de adoecer. — A mulher proferiu ríspida, ignorando o que elas tinham acabado de fazer.

Aurora nada disse, também estava submergida aos seus anseios, medos, sentimentos e conflitos, ao mesmo tempo, que estava eufórica e feliz, estava assustada e sentia que aquilo não devia ter acontecido.

— Você é tão grossa, e tem cara de quem come a primeira fatia do pacote de pão de forma. — Aurora respondeu na tentativa de rebater a mulher.

Gretta franziu o cenho ao ouvir o murmúrio da menina enquanto se acomodava no banco do carro, porém, nada disse, apenas sorriu. Não tinha muito o que dizer, realmente a mulher comia a primeira fatia do pão de forma.


Oi meus skrímsli, senti saudades de vocês.
É verdade esse bilhete. ❤

Beijos na bunda! (Não, beijo é muito fofo) mordida na bunda de vocês.
Bless...

Zara-Olie


Linhas Cruzadas (Romance lésbico)Onde histórias criam vida. Descubra agora