-Linhas Cruzadas-15

9.5K 808 163
                                    

Atenção: Capítulo todo em metáforas, leiam com calma para entenderem os anseios das duas.

Enquanto às duas comiam sua canja, o silêncio era ensurdecedor, Aurora estava mais sem graça que top model magrela na passarela, pelo fator de ter espionado Gretta no banho, e o “pior”… tinha gostado do quê viu, tinha desejado o que viu, e seu corpo reagiu por causa do que viu, a vontade que a garota estava sentindo era de se levantar daquela mesa e ir embora e nunca mais voltar a falar com aquela mulher, e, ao mesmo tempo, levantar ir em direção da mulher, sentar em seu colo e repetir o longo beijo que ambas deram na chuva.

— Não está gostando da canja, Aurora?

Aurora deu um sorriso sem graça, e disse que estava muito gostosa, Gretta não esboçou nenhuma reação, sentiu a jovem mais calada, mais constrangida, achou melhor não forçar um diálogo.

— Aceita tomar um vinho? — Gretta ofereceu, enquanto elas voltavam para a sala de estar, após a refeição.

— Melhor não, a última vez que quisemos tomar vinho, deu no que deu. — A menina sussurrou ao se sentar.

— Whisky?

Aurora deu um sorrisinho, pensou que não tinha o porquê de não aceitar, tentou tirar aqueles conflitos da cabeça, afinal, ela quem tinha começado, ela quem pediu o primeiro beijo. Então balançou a cabeça em concordância. Enquanto Gretta servia o líquido da cor de carvalho, Aurora lhe observava atentamente, sempre se sentia atraída e encantada por aquela bebida tão forte.

— E sobre Sócrates, não tem nenhuma escritura, ou algo do tipo que prove que ele realmente falou que só sabe que nada sabe, isso foi um relato de Plutão, que segundo ele, tiveram essa conversa e ele disse isso, admirando a humildade de Sócrates em admitir que quanto mais se sabe, nada sabe. — Gretta voltou ao assunto antes da queda da escada.

Aurora olhava atenta para a mulher, levantou-se e foi em direção a ela, pegou o copo de sua mão, cheirou a bebida como se fosse vinho, e deu o primeiro gole no líquido puro, sem gelo, como ela sempre preferia. — Prefiro ficar com o Francisco Sanches, que nem sequer sabe que nada sabe.

Gretta gargalhou, levando Aurora a sorrir também, a mulher que estava atrás do sofá, deu a volta no mesmo e se sentou, convidou Aurora para se sentar novamente, porém, a menina seguiu para a janela, preferiu observar o céu trovoando e a forte chuva caindo. — Diz-me, Sócrates, estás a falar a sério ou a brincar? Se é a sério e o que dizes é verdade, a vida humana ver-se-ia completamente virada do avesso? — A menina recitou um trecho do diálogo de Cálicles e Sócrates, enquanto encarava a mulher.

— Muito me espanta você saber algo de filosofia, já que é contrariamente aos físicos, a verdade que importa ao filósofo não consiste em nenhum tipo de conformidade com o real que importa para os físicos. — Proferiu a mulher intrigada.

— Só sei que nada sei! — Recitou a menina, logo em seguida sorrindo. — É bom saber porque de não acreditarmos em algo, ou por que não seguimos algo. Como seremos contra ou defenderemos nossos pontos de vista sem saber que armas o outro poderia usar? —Questionou a menina, interessada no assunto. Sem se dar conta que ali elas queriam dizer muito mais do quê estavam dizendo.

— É… Então filosofia e física são como ateus e cristão? — Questionou a mulher curiosa.

— Não, diria que a ambas têm o mesmo interesse, de saber a verdade, a origem, e o porquê, porém, cada uma com suas linhas de raciocínios e doutrinas, enquanto física vai pela lógica real, filosofia vai pela ilógica mental. Um diálogo consigo mesmo, até encontrar a sua verdade. Entende?

— Só sei que nada sei. — Retrucou a mulher, fazendo ambas sorrirem.

— Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois, as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas. — Aurora repetiu mais uma fala de Sócrates, aflita, esperando que Gretta compreendesse onde ela queria chegar.

A mais velha que lhe olhava atenta, prestando atenção em cada fala que a mesma proferia, deu um suspiro, tomou o último gole do drink, pôs em pé indo em direção a garrafa de whisky e se serviu mais uma vez do líquido e seguiu para onde a menina estava. Aurora lhe encarava atentamente.

— Paulo Coelho diz que tudo que acontece uma vez poderá nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, certamente acontecerá uma terceira vez. — Murmurou a mulher correspondendo ao olhar da garota.

O ambiente novamente voltou com aquela atmosfera erótica, como se tudo estivesse em câmera lenta, às duas próximas da janela e o fundo sombrio pelo céu cinza e a forte chuva retratava o medo que ambas estavam sentindo. Elas suspiraram ainda se encarando.

— Oscar Wilde diz que a melhor maneira de livrar-se da tentação é ceder a ela. — Murmurou a menina, enquanto via Gretta pegar o copo de sua mão, depositando na mesa com flores ao lado da janela, assim como o dela também.

— Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?

Aurora encostou seus lábios nos lábios da mulher, iniciando um beijo sôfrego, como se sua consciência tivesse saído para dar uma volta e pudesse voltar rapidamente avisando que aquilo não era o certo, então a menina queria o mais rápido e intenso possível sentir os lábios e as mãos da mulher em seu corpo.

Ainda aos beijos Gretta fez com que Aurora se encostasse na janela, intensificando mais ainda ao beijo, como se tentassem se fundir, às mãos da menina corria pelas costas da mulher de forma afoita, às mãos de Gretta segurava firme a nuca e sua cintura da menina, assim que pararam o beijo por falta de ar, às duas se encararam novamente, lábios inchados, sensíveis, a respiração ofegante e o desejo latente por mais estava presente naquela atmosfera tão erótica.

— E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram das suas correntes? — Questionou a menina ofegante.

Linhas Cruzadas (Romance lésbico)Where stories live. Discover now