13 - Pessoas

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- Tem mais entregas para hoje? - pergunto ao senhor Lee.

Hoje fiz seis entregas. E quanto antes eu sair mais cedo eu vou para o posto.

- Não - esse fala.

- Então eu vou...

- Limpar isso aqui tudo - diz me interrompendo antes que sugerisse sair mais cedo.

- O quê? - pergunto besta.

- Isso mesmo. Quero que limpe tudo. Do vestiário à calçada.

- Mas...

- Sem mas, seu horário de trabalho é até as onze, e vai ficar aqui até as onze. Afinal, o que estava fazendo na rua até agora? Por que demorou tanto?

- Eu... passei mal no caminho - falo.

Eu sei que teria chegado meia hora mais cedo se não tivesse parado para falar com a garota, mas eu queria mesmo dar um oi depois do que aconteceu. E foi só isso. Eu disse oi, ela fez o mesmo e depois de ficar alguns segundos em silêncio disse que precisava ir e fui embora.

- E ontem, passou mal também? - afirmo com a cabeça.

Ontem depois de encontrar eu fiquei tão mal que quando saí da casa da garota só consegui parar de chorar ao dormir.

- Ótimo, incompetente e com a saúde fraca. O esfregão está no vestiário - diz se afastando e suspiro.

Me arrasto até o local e pego o esfregão e o balde. Eu não posso nem ficar irritado porque ele está certo, ele paga pelo meu turno, não pelas entregas. Eu deveria ficar até as onze todo dia.

A pizzaria fecha as dez, então ainda há clientes. Por isso começo a limpar pela parte interna.

- Eu ouvi sua conversa com o senhor Lee - Kwan fala quando me vê, você está melhor, disse que passou mal.

Resolvo encurtar a história:

- Parece que eu tenho ataques de pânico às vezes.

- Parece?

- Eu não fui no médico para confirmar, mas os sintomas batem.

- Por que não foi no médico? - pergunta.

- Eu não tenho tempo, nem dinheiro - falo.

Ele fica em silêncio por alguns minutos enquanto limpo o chão.

- Você está mesmo bem? - ele pergunta. - Você parece péssimo.

- Eu estou com a cabeça cheia - repito o que disse para a garota ontem, porque é mais fácil do que explicar a história toda.

- Um jovem cheio de problemas, não é mesmo? - Ele brinca sem maldade e sorrio fraco desejando que eu realmente estivesse dramatizando.

- Mas qual o problema? - pergunta. - São os ataques de pânico?

- Dinheiro - falo suspirando.

- É muito? - pergunta.

- Muito mais do que eu tenho - falo.

- O que não está conseguindo pagar? O aluguel?

Rio com deboche e falo:

- Eu não estou conseguindo pagar nada.

- Tem alguma coisa que eu possa fazer? - Ele está realmente preocupado.

- N-não precisa, eu me viro.

- Todos passam por dificuldade alguma hora - fala. - Eu não me importo de ajudar.

- Não me ofereça dinheiro - peço. - Mas se souber de algum lugar que esteja contratando de manhã ou após às onze da noite eu vou ficar muito grato de saber.

- Certo... - ele diz meio exitante. - Mas está comendo direito, não é?

- Sim - minto.

- Por que eu não acredito em você? - talvez eu seja um mentiroso ruim.

- Olha, senhor Kwan, de verdade, se me der dinheiro eu não vou conseguir ficar com ele na mão para gastar com comida - digo.

- É o quê? - Ele pergunta. - Drogas? Isso é realmente sério, garoto. Se tiver problemas com a polícia de novo.

- Não - digo rápido. - Eu não estou usando drogas.

- E o que é? Que está te fazendo gastar o dinheiro que devia estar usando para comer.

Suspiro. Estranhamente, eu estou calmo, não me sinto mal em falar com ele sobre isso.

- Eu estou devendo dinheiro a uma pessoa, uma pessoa que cobra sempre, uma vez por semana mais ou menos. E ela sabe, sempre sabe quando mentem para ela.

Ele faz uma expressão de compreensão.

- Por que se meteu com uma pessoa como essa? - pergunta calmo.

- Eu precisava sair da cadeia - falo baixo e com vergonha. - Se ele não pagasse ninguém pagaria. Não conhecia ninguém com dinheiro suficiente.

Ele suspira.

- Tudo bem, garoto - fala colocando a mão no meu ombro. - Eu não vou te julgar, você estava desesperado, é compreensível.

Agradeço me curvando em noventa graus e seguro a vontade de chorar.

...

Eu finalmente terminei de limpar a calçada e são onze e quinze.

- TaeHyung - Kwan me chama antes que saia.

- Sim? - Ele me entrega uma sacola. - O que é isso? - pergunto curioso.

- Abra.

Faço o que pediu e tem várias caixinhas de pizza para viagem.

- O s-senhor não...

- Apenas leve - fala.

- Obrigado - sorrio e me curvo.

Sigo para o posto animado comendo uma das fatias da pizza, o Kwan é muito bom pizzaiolo, suas pizzas são as melhores.

- Para onde está indo? - um garoto pergunta me assustando.

Posso ver a tatuagem em seu pescoço.

- Aish, vocês têm mesmo que aparecer do nada? Não podem avisar ao invés de dar um susto?

- Você não respondeu minha pergunta - fala em tom agressivo e suspiro.

- Eu estou indo trabalhar - falo.

- Onde? - pergunta.

- No posto que fica no centro - digo.

- Um emprego fixo daria mais dinheiro - diz.

- Como se alguém quisesse me contratar...

- O Kum te contrataria - diz. - E ainda quitaria a dívida.

- Eu não quero me meter com os negócios de Kum - falo sério.

- É sua escolha - diz dando de ombros. - O dinheiro da semana - fala estendendo a mão.

- Está em casa - falo.

- Ótimo, me leve lá. É no caminho, não é?

Forever - KTHWhere stories live. Discover now