PARTE III - A Última Palha

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Sirius encarou seu reflexo na pequena piscina ondulante de água com choque abafado. Fazia vinte anos desde que ele viu seu próprio rosto. Ele mal conseguiu reconhecê-lo. Cabelos grossos, pretos e sarnentos escorriam do topo da cabeça e do queixo, cobrindo a maior parte do rosto, enquanto a pele visível estava manchada de marrom por anos sem lavar.

Com toda a honestidade, Sirius sabia que provavelmente cheirava tão bem quanto uma pilha de esterco de cavalo.

Passando a mão pela barba espessa, ele suspirou com lembranças de sua vida passada.

"Aqui."

Ele se virou e viu Remus estendendo uma pequena lâmina de barbear e uma tesoura para ele com um sorriso no rosto.

"Tentando me dizer uma coisa?" Sirius disse divertido, olhando em seu rosto com alegria e alívio. Ainda era quase um sonho ter Remus com ele e feliz novamente.

Remus riu. "Você é cabeludo demais para o meu gosto."

Sirius sorriu e pegou os utensílios. "O que há de errado com um pouco de pêlos faciais?"

"Um pouco?" Remus ecoou incrédulo. "Essa sua barba é tão grossa quanto a pele de um cachorro. Eu não consigo nem ver sua boca!"

Sirius riu. Foi bom. Ele não conseguia se lembrar da última vez que riu.

Parecia que Remus estava pensando a mesma coisa. "Sinto falta da sua risada", disse ele com um olhar no rosto que mostrava puro contentamento.

Sirius pegou a mão de Remus gentilmente. "Eu sinto sua falta."

Ele viu Remus corar quando eles trancaram os olhos juntos por um longo e silencioso momento. Havia tanto a ser dito, Sirius sabia, mas nenhum deles sabia por onde começar.

"Nós teremos muito o que explicar quando voltarmos", Remus disse suavemente.

"Estou feliz que Harry tenha aceitado bem", comentou Sirius, pensando em seu afilhado, que provavelmente estava em algum lugar com Ron. Surpreendeu Sirius o quanto ele havia crescido. Logicamente, fazia sentido, é claro. Vinte anos foi tempo suficiente para mudar alguém. Mas para Sirius, Harry ainda era o bebê de um ano. "Eu quero conhecê-lo."

"Você irá." Remus começou a roçar o polegar ao longo da palma calejada de Sirius. "Tenho certeza que ele quer conhecer você também."

"Você estava certo ... ele se parece com James."

"Ele não estava?" Remus meditou. "Às vezes eu esqueço que é com Harry que estou falando e não com o pai dele."

"James ficaria orgulhoso dele." Um clima melancólico tomou conta de Sirius, lembrando-se da noite em que ele entrou em Godric's Hollow e viu seu melhor amigo assassinado no tapete. Depois de ser acusado dos assassinatos de James e Lily por vinte anos, era difícil não deixar a culpa tomar conta dele.

Remus sorriu tristemente e levantou o queixo de Sirius para que seus olhos se travassem. "Não se atreva a se culpar, Sirius Black. Você é inocente." De repente, os olhos de Remus se encheram de lágrimas. "Eu ... eu ainda não consigo acreditar que pensei ... você os matou."

Sirius se aproximou e agarrou as mãos de Remus. "Não ..." ele sussurrou. "Eu te disse; isso foi no passado. Você não pôde deixar de ver as evidências—"

"Mas era você ! Eu deveria ter confiado em você. Conhecia você melhor do que ninguém e ainda achava que você era o assassino." Lágrimas caíram dos olhos de Remus e ele rangeu os dentes com raiva e tristeza.

"Remus, não ... não chore, por favor. Acabou agora, eu te perdoo. Não chore, amor, por favor."

Remus endureceu e prendeu a respiração, como se estivesse chocado com alguma coisa. Ele olhou para o colo por um longo tempo. Então ele fechou os olhos e suspirou. "Diga isso de novo", ele sussurrou. Uma gota de lágrima deslizou pelos lábios de Remus, mas ele não fez nenhum movimento para lamber ou enxugar.

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