Um Mundo Realmente Admirável

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Delphine observou Cosima se afastar enquanto terminava de fumar o cigarro. Que manhã curiosa havia sido aquela. O tratamento frígido que tinha recebido de seu orientador contrastava – e muito – com a atitude solícita da moça de dreads. Certamente não antecipava que alguém pudesse dispender todo aquele tempo apenas para ajudá-la em troca de nada. Sra. Smith também havia sido muito gentil com ela no dia anterior, então essa talvez fosse apenas uma característica do povo canadense.

Mas lá no fundo sentiu algo além disso. Algo na morena havia a deixado realmente intrigada. Não sabia se era na maneira de se vestir, com roupas extravagantes, cabelo alternativo, piercing no nariz e os inúmeros outros acessórios. Ou quem sabe a forma de se portar, com a fala rápida e as mãos que acompanhavam seu ritmo. Talvez fosse a misturas de tudo isso que fazia de Cosima um indivíduo único e curioso.

A conversa com ela também havia sido muito agradável, fluindo de maneira fácil. Inclusive, apesar de um pouco estranho, chegava a ser divertida a forma com que ela travava as vezes, como se suas palavras finalmente tivessem se esgotado. Mas não havia como negar, Delphine realmente tinha gostado da companhia dela.

Daria uma boa amiga. Espero que possa reencontrá-la em breve.

Delphine checou seu celular e percebeu que sua lista de estudos da semana já tinha chagado. Ao abrir o e-mail, ficou satisfeita em perceber que o volume de conteúdo era menor do que imaginou que seria. Como ainda não tinha seu crachá e, portanto, não poderia entrar na biblioteca para pegar os livros dos quais iria precisar, ela decidiu que talvez fosse uma boa oportunidade de usar as poucas horas de sol que ainda restavam para fazer, digamos, um passeio de turista.

Olhando no mapa encontrou uma estação de metrô que passava pela universidade, o que facilitaria bastante as coisas. Sua intenção era conhecer a CN Tower e para isso pretendia chegar até ela através do Path, o maior complexo subterrâneo do mundo.

Assim que chegou, de cara não se surpreendeu muito. Apesar de serem quase 30km de corredores divididos em alguns andares no subsolo, a aparência geral era de um shopping convencional. O lugar tinha muito mais informação e sinalização do que no campus, mas depois de caminhar vários minutos sozinha se deu conta de que seria um passeio muito mais agradável se tivesse sua falante guia junto dela.

Quando chegou na atração, mesmo sendo inverno – coisa que supostamente diminuía o fluxo de visitantes – foi necessário esperar algum tempo na fila. Aquela era a terceira maior torre já construída no mundo e com seus mais de 530 metros de altura, fazia a Torre Eiffel parecer uma criança ao seu lado.

O elevador era realmente rápido; em 1 minutos subiu 346 metros quando enfim parou no primeiro observatório. Era certo que a vista estava prejudicada por conta do mal tempo daquele dia, mas segundo funcionários do lugar, em dias de céu limpo era possível avistar o estado de Nova Iorque do outro lado do lago Ontário e até mesmo as Cataratas do Niágara. Mesmo aquele nível estando um pouco cheio, Delphine conseguiu conquistar um pedacinho do piso de vidro de onde pudesse tirar algumas fotos.

Já que tinha comprado uma entrada especial, preferiu não gastar tanto tempo ali e seguiu para mais 100 metros acima. Embora aquele observatório não tivesse a aventura de olhar para baixo e enxergar a calçada aos seus pés, proporcionava uma vista ainda mais extensa da cidade, sem contar o fato de ter menos gente com quem disputar espaço. Ainda que a grande paixão da sua vida fosse a área de biológicas, ela não podia deixar de se curvar perante aquela magnífica obra da engenharia moderna.


Delphine estava debruçada sobre o parapeito de vidro, fitando a paisagem há alguns minutos, quando sentiu uma mão tocando com leveza seu ombro.

Je L'aime à MourirOnde histórias criam vida. Descubra agora