Enfrente

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Aquela cena havia pego Delphine completamente desprevenida e a atingiu como um soco no estômago. Suas barreiras foram destruídas como um castelo de areia que se desmancha com a maré alta e a raiva que sentia até um segundo antes sumiu sem deixar rastros. Um trovão estrondoso reverberou entre elas, indicando que uma tempestade forte caía do lado de fora.

Eu tô doente, Delphine.

Seus olhos agora livres do filtro do ciúme, puderam ver o real estado em que Cosima se encontrava. A essa altura a morena já tinha baixado a blusa e se encolheu para trás no sofá com uma lágrima escorrendo pelo rosto. Ela estava ainda mais magra do que na última vez em que tinham se visto e dois círculos pretos marcavam a parte de baixo de seus olhos.

Não acredito que eu fui capaz de duvidar da lealdade dela...

– Uma cirurgia? – Delphine murmurou com a voz falha. – Era isso que você estava escondendo de mim o tempo todo?

– No começo eu pensei que era só um cisto... Que não podia ser nada sério...

– E porque não me contou? 

– Eu não queria te preocupar, você estava empolgada com o apartamento novo... – Cosima disse tentando conter o choro. – Então a Dra. Duncan me chamou com urgência para o retorno quando recebeu o resultado do meu exame e me disse que eu teria que operar... A cirurgia coincidiu com a sua viagem e eu sabia o quanto isso era importante pra você...

Eu sou uma maldita egoísta! Delphine pensou se sentindo um nó se formar em sua garganta e o coração ficando cada vez mais apertado.

– A situação estava pior do que eles esperavam e tiveram que tirar meu ovário direito também. – O rosto de Cosima estava molhado e ela precisou recuperar o fôlego antes de continuar falando. – A cirurgia foi na quarta-feira, mas o resultado da biópsia só saiu hoje. O tumor é Carcinoma Epitelial Seroso de ovário.

A francesa se sentiu baquear e a cabeça ficando um pouco zonza. Se levantou da poltrona onde estava e venceu a distância que as separava para abraçar a morena; tentar remediar a dor que se apresentava em forma de soluços incontroláveis. Cosima se entregou ao calor daqueles braços tão amados e, com o rosto enterrado no pescoço da namorada, se permitiu chorar todas as lágrimas que não haviam saído desde que recebeu a notícia naquele dia mais cedo.

– Eu tô com câncer, Delphine.

– Vai ficar tudo bem – ela replicou com suas próprias lágrimas brotando sem controle.

– Eu entendo se você quiser terminar comigo...

– Cosima...

– ... minha vida vai ficar uma merda agora e você não precisa entrar nessa...

– Hey! – Delphine findou o abraço e segurou firmemente Cosima pelos braços. – Eu vou fazer de conta que não escutei isso, ok?

– O tumor já estava muito grande... – a menor falou deixando a cabeça pender para frente.

– Nada disso importa...

– Os índices de mortalidade são muito altos...

– Cosima olhe pra mim! – Ainda segurando os braços dela, Delphine estabeleceu novamente a conexão de seus olhares. – Nós vamos curar você, está ouvindo? – falou imprimindo na voz toda a confiança que conseguiu. – Eu vou te prometer uma coisa. Aqui – a loira pegou uma das mãos de Cosima e a segurou em cima de seu coração. – Eu vou trabalhar e fazer tudo o que estiver ao meu alcance para que você fique boa. E você vai se curar.

Cosima alternava o olhar entre a mão e os olhos de Delphine. A francesa amparou rosto dela com as mãos, e com toda a saudade contida nos últimos dias, beijou seus lábios.

Je L'aime à MourirOnde histórias criam vida. Descubra agora