A Calmaria

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Algum tempo depois naquela mesma manhã, foi a vez de Cosima acordar com uma movimentação no quarto. Delphine estava trocando de roupa e se virou para olhá-la quando a notou se mexendo na cama.

– Désolé, chérie. Não queria ter te acordado...

– Que horas são? – a morena perguntou ainda sonolenta ao notar que o ambiente estava sendo iluminado pela luz do sol.

– Quase oito. – Delphine foi até a frente do espelho e começou a arrumar o cabelo. – Você melhorou?

Cosima se esticou preguiçosa, notando que a dor ainda persistia, porém não estava tão incapacitante.

– Sim.

– Nesse caso eu já vou indo. Tenho bastante coisa pra fazer hoje e o Dr. Nealon me encheu de coisa pra estudar essa semana.

– Nada de laboratório? – Cosima questonou alcançando seus óculos que estavam sobre o móvel ao lado da cabeceira.

– Não. Nós combinamos que eu vou voltar do congresso de Montreal com um tema fechado para então começar uma pesquisa. Sinceramente acho que ele gostou mais da ideia de seguir a linha de tratamentos imunoterápicos para o câncer do que meu antigo projeto sobre a relação entre parasitas e hospedeiros.

– É uma área realmente promissora – Cosima disse em meio a um bocejo. – Quem sabe você não acaba parando na capa da Scientific American?

– Non, a Scientific American não coloca cientistas na capa – Delphine falou terminando de vestir o casaco.

– É, mas talvez eles mudem de ideia quando virem seu rosto.

A loira riu revirando os olhos e parou ao lado da cama para deixar um beijo rápido no rosto de Cosima.

– Você vai lá pra casa hoje à noite?

– Yep.

– Ótimo. À plus tard, ma chérie.

– À plus tard.

Então Delphine pegou sua bolsa, a passou pelo ombro e saiu do quarto. Cosima também tinha compromissos naquele dia, mas seu corpo mole insistiu para que ela se demorasse um pouco mais na cama. Já passava das nove da manhã quando ela finalmente conseguiu sair de casa. 

Há algumas semanas, a morena havia conseguido uma sala exclusiva para o desenvolvimento de sua pesquisa. Tudo bem que "sala" talvez não fosse a palavra que melhor a definia; o lugar era um verdadeiro cubículo. Porém, mesmo sendo pequeno, valia a pena por não precisar se preocupar com a possibilidade de ter alguém mexendo em suas amostras ou culturas de células. Além disso, o espaço era suficiente para acomodar seus camundongos.

– Desculpem o atraso pessoal – Cosima disse assim que entrou na saleta e acendeu a luz.

Logo que passou pela porta, tratou de vestir o jaleco, as luvas e colocar a máscara. Os roedores se mexiam inquietos dentro das gaiolas que precisavam ser limpas o quanto antes.

Dentro de seus princípios morais, Cosima detesta explorar animais apenas para o benefício humano daquela forma. Essa tinha sido uma das principais razões que a motivou na decisão de adotar uma dieta vegetariana anos atrás. Porém, até que a ciência evoluísse mais e fornecesse alternativas melhores e mais éticas, usar ratos de laboratório era algo que ela precisaria lidar.

– Legolas, por favor, comporte-se! – ela falou trocando o camundongo especialmente inquieto de compartimento para que pudesse trocar a serragem daquele em que o animal habitava.

O estudo dela tinha como objetivo a identificação de defeitos na estrutura do DNA de indivíduos com leucemia, sua correção e posterior clonagem de células saudáveis para o tratamento do próprio indivíduo. Era uma meta ambiciosa, mas se desse certo, seria a esperança de milhares de pessoas ao redor do mundo.

Je L'aime à MourirOnde histórias criam vida. Descubra agora