Serenata

1.8K 163 63
                                    

POV MARINETTE
Ainda estávamos de mãos dadas quando chegamos na porta da padaria. Meu primeiro impulso foi entrar por ali mesmo, mas meus pais iriam ver Luka, e não sei se isso seria uma boa ideia... Eles com certeza iam ficar enchendo o saco do garoto e me envergonhar.
-Não! Por aqui não! - puxei a mão de Luka, que já estava quase na porta - Meus pais ainda estão trabalhando e... e-eu não quero... atrapalhar! Vamos pela porta do fundo.
-Sem problemas - levei ele em direção a outra entrada. Peguei as chaves na bolsa, tomando cuidado com a minha kwami que estava escondida. Vi Tikki sorrindo pra mim.  Abri a porta o mais silenciosamente possível para evitar ser ouvida. - Marinette, você está tentando me esconder?
Luka perguntou atrás de mim. Me assustei e logo empurrei ele para o canto da parede, colocando uma de minhas mãos em cima da boca dele.
-Marinette é você? - Ouvi meu pai perguntando da cozinha.
-Sou eu sim pai! - respondi morrendo de medo que ele viesse em minha direção. Ainda estava tampando a boca de Luka mas não me atrevia a olhar para ele, só sentia seu corpo colado ao meu e suas mãos em minha cintura.
-Você tava falando com alguém? - indagou meu pai novamente. "Ele ouviu o Luka! Merda, merda, merda!"
- Não pai, tava falando sozinha! - consegui sentir o garoto sorrir de baixo da minha mão. Suspirei aliviada, relaxando. - Vamos subir antes que meu pai veja..
Num movimento ágil, Luka inverteu as posições e me prensou contra a parede, colocando um braço ao lado da minha cabeça enquanto o outro foi em direção a minha mão.
-Por que você tá me escondendo Marinette? - perguntou o menino com um sorriso travesso nos lábios. Corei violentamente. Luka olhava em meus olhos e eu podia ver que os dele brilhavam de uma forma diferente.
-E-é e-eu... v-você... se eles te vissem, não iam deixar você subir. Você sabe né... nunca um garoto foi de noite no meu quart... quer dizer, casa! Ainda mais sem meus pais presentes. - falei tudo isso na velocidade da luz, estava muito nervosa, não sabia muito bem o que dizer ou fazer.
O garoto se aproximou ainda mais de meu rosto. "Ele vai fazer o que eu estou pensando...?"  Chegou perto do meu ouvido me deixando arrepiada e disse:
-Calma princesa, não precisa ficar nervosa... Eu não mordo, a menos que você queira - fiquei boquiaberta, estava da cor do meu uniforme de LadyBug. "Nunca esperava esse comportamento de Luka, mas não posso dizer que não gostei"
Me desvencilhei dele, passando por baixo de seu braço. O que não tinha percebido antes é que estávamos de mãos dadas, e continuamos desse jeito. Me recompus o suficiente para falar sem gaguejar:
-Da próxima, fala mais baixo ok? - Luka abriu um sorriso e antes que ele pudesse falar outra coisa puxei ele escadas acima.
Subimos pro meu dormitório permanecendo em silêncio pelo o que acabou de acontecer, mas ao olhar pelo canto do meu olho notei que Luka estava sorrindo. Não pude deixar de fazer o mesmo.
-E então, por onde começamos? - o garoto me perguntou.
-Bom, eu tenho tentado desenhar alguma coisa nas últimas semanas mas não deu em nada. Se você quiser olhar, os croquis estão em cima da mesa.
O garoto soltou a minha mão e foi em direção a mesa. Começou a analisar os meus desenhos, mal tocando-os, como se fossem relíquias que podem quebrar a qualquer toque. Sempre morri de vergonha de outras pessoas verem meus designs mas dessa vez fiquei mais tranquila. Quando o menino parou em um dos desenhos, me aproximei dele.
-Marinette todos são muitos bons. Sei que você é muito boa estilista mas esses desenhos... você realmente tá se superando.
-Obrigada, fico contente de você achar isso mas... não acho que tenham ficados bons o suficiente ainda. Essas ideias são muito comuns, batidas. Queria criar algo inovador! Afinal, vocês se esforçaram tanto para criar músicas novas para o primeiro álbum da Kitty Section e depois para fazer o show de apresentação da banda...os figurinos tem que estar à altura -Realmente, foram muitos dias de esforço para galera conseguir criar tudo isso, não podia dar menos do que eles deram para fazer a banda dar certo.
-Bom eu vim aqui para ajudar certo? Então me dê um papel e caneta, e vamos desenhar! - o garoto puxou uma cadeira e fez menção para eu sentar na que estava do seu lado.
Sentei, puxei lápis e papel para desenharmos. Luka logo pegou e começou a rabiscar no papel. Quando me aproximei para ver o que ele fazia, comecei a dar risada. O garoto tinha desenhado um bonequinho palito com um vestido em forma de triângulo.
-Realmente uma obra prima! Vai para o Fashion Week com certeza! - disse rindo quando ele me mostrou o desenho.
-Falei que eu iria te ajudar! Agora só falta ver qual tecido eu vou usar...- respondeu o garoto, dando um sorriso brincalhão.
-As amostras estão no armário, sinta-se em casa- falei apontando em direção do closet.  Enquanto ele ia pegar, comecei a rabiscar em cima de um dos meus desenhos. Ainda não tinha conseguido nenhum inspiração apesar da tentativa de Luka... Pelo menos ele me animou um pouco.
-MARINETTE DUPAIN-CHENG - gritou Luka ao abrir o armário me fazendo quase cair da cadeira com o susto - Você tem um violão e nunca me disse nada? Sabe tocar?
-Ah essa coisa velha? Fiz algumas aulas quando era criança, mas desisti. - disse dando de ombros - Eu o guardo na esperança de um dia tentar de novo, mas eu sou muito desengonçada pra conseguir.
-Não fale isso. Levante-se daí, porque esse dia chegou!  - o rapaz falou vindo em minha direção.
-O q-quê? - questionei enquanto levantava. - Não não! Você não entende, eu sou péssima com isso!
- Bom, sorte sua que você tem o melhor professor de Paris a seu dispor! - o garoto falou apontando para si mesmo, eu abri um leve sorriso.
- Mas e os figurinos? Eu ainda nem...- falei exasperada quando fui interrompida por Luka colocou um dedo na minha boca, me calando. Sua outra mão foi em direção a minha.
- Mari, respira -obedeci ele- Você sabe como minha intuição é boa né? E eu tenho o pressentimento que isso vai te ajudar muito. Agora senta aqui pra eu te ensinar.
Puxamos as cadeiras para o centro da sala. O garoto se sentou em minha frente. Peguei o violão e obedeci a seus comandos.
Luka tentava me ensinar dois acordes básicos que, de acordo com ele, eram a base para qualquer música. Algumas vezes ele vinha atrás de mim para posicionar meus dedos no local certo e eu podia sentir sua respiração no meu pescoço.
Ficamos uns quinze minutos assim, mas eu simplesmente não tinha coordenação o suficiente para tocar. O garoto estava tranquilo, não ficava bravo com a minha falta de controle sobre meus dedos, na verdade achava engraçado quando eu errava.
-Olha Luka eu agradeço a sua tentativa de me ensinar mas eu não nasci para tocar igual você - entreguei o violão a ele com um olhar de derrota.
- Marinette não fala assim... você tem jeito, só que está muito tensa e não se deixar levar. Você tem que parar de pensar no próximo acorde e começar a viver a música.
- Você sempre sabe o que falar em todas as horas... impressionante - falei para o garoto admirada - Parece até um filósofo.
- Eu só sigo meu coração - disse o garoto dando uma risada tímida. Ele começou a tocar uma melodia suave, tão bonita, fiquei até com lágrimas nos olhos.
Luka tocou por algum tempo de olhos fechados. Quando ele parou, abriu seus olhos e me encarou profundamente. Depois de alguns segundos de silêncio, o garoto falou:
-Mari posso te confessar algo? -"Bom essa veio do nada", seu olhar transmitia uma certa insegurança.
-Claro! - eu respondi acenando com a cabeça.
-Você se lembra de quando a gente se conheceu? Eu falei para você que eu me comunicava melhor pela música - Ele colocou a alça do violão no ombro, me pegou pela mão e me levou em direção as escadas da varanda. Não sabia como reagir, muito menos o que pensar. Corei - Naquele dia eu toquei uma música tentando expressar o que você estava sentindo, lembra?
Ele pegou a cadeira e colocou bem no meio da sacada, gesticulando para eu me sentar.
-Si-si-sim, eu tava mal aquela hora e você realmente me animou, mesmo que eu tenha me atrapalhado inteira... Como sempre né - Cocei e abaixei a cabeça envergonhada. Ele chegou mais perto e levantou minha cabeça pelo queixo.
-Não precisa ficar assim Mari, você fica linda envergonhada - Corei mais ainda, se é que isso era possível. Nossos rostos estavam muito próximos, podia sentir a respiração dele na minha bochecha. - Eu venho tentando criar coragem pra te dizer o que eu sinto desde aquele dia.
Eu me sentei enquanto ele ia em direção ao parapeito. Tirou o violão das costas e pegou a palheta que ele usava como colar.
-Bom, como eu não sou bom com as palavras, então eu decidi tocar o que eu estou sentindo. - Luka falava olhando nos meus olhos. Começou a tocar uma melodia familiar: era uma das minhas músicas favoritas.

Os ImprováveisWhere stories live. Discover now