Controle e União

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 A noite estrelada e amena era um pretexto perfeito para sair num encontro. Quincy passara seu o perfume alemão caro, vestira um terno azul escuro e uma gravata preta, logo partindo da mansão dos Overton. Seguiu o caminho até o Paul Jone's, o restaurante mais procurado da parte nobre do bairro, onde se poderia arranjar uma reserva tranquilamente, contanto que o nome de sua família fosse mais conhecido que as quatro operações.

 Música lenta, mais de dois garfos por prato, várias outras frescuras: era isso que aguardaria a senhora Evans no seu encontro, o primeiro em muitos anos.
Feixes de sonhos passavam em sua frente, traziam memórias de água e gritos, mas isso não seria um problema agora.

 O Quincy era um homem incrível, e desde que começaram a conversar na recepção da prefeitura, ele tem sido um ótimo alívio pra a monotonia do cotidiano. Sabia que teria de lidar com que as más línguas iam dizer da recepcionista namorando o prefeito, mas isso não seria um problema se os dois provassem a legitimidade da sua união.

 O Paul Jone's não era tão grande, tinha um ar acolhedor, e apesar do nome de respeito em toda a cidade, o lugar não se esquivava de eventuais garçons atrapalhados, que não é preciso dizer que eram parentes dos donos.

 Sentaram-se na mesa perto da janela da entrada. Ela passou alguns segundos olhando pro nome do restaurante tingido no vidro.

 -O que tem de tão interessante lá fora?- perguntou Quincy, percebendo a situação.

 -Nada de mais lá fora, mas nunca pensei que estaria desse lado do vidro.

 O prefeito viu o sorriso tímido de realização em Janet. Ele ergueu as mãos, com sinal de animação.

 -Pois então aqui estamos! Como se sente com isso?

 -Sabe, eu já trabalhei aqui, mas isso já faz um tempo. Imagine uma jovem garota limpando aquele vidro toda manhã, e recebendo uns trocados por isso. Agora eu estou aqui com você, isso não é estranho?

 -Não é estranho, é incrível. Você trabalhou e não desistiu de sua independência, uma pessoa assim consegue uma vida melhor na raça.
 Foram interrompidos por um garçom atrapalhado, que derrubou uma sopa de ervilhas no maior criador de gado do distrito, duas mesas atrás deles.

 Os dois riram do "pequeno acidente" por um tempo. 

 -Vou no banheiro, e já aproveito pra pegar uns papéis toalha para o cavalheiro todo ensopado ali.

 Isso fez Janet se segurar para não rir tão alto. "Aquela era noite linda, boa para jogar conversa fora", pensou a senhora Evans.

 Quincy foi até o senhor e lhe ofereceu os papéis, este o aceitou e começou a resmungar para o garçom e o gerente, que veio notando a situação.

 -Sobre o que estava falando, o que você conquistou foi incrível e difícil para uma mãe solteira. Aliás, como vai o Eduard?

 É interessante pensar como uma boa perseverança pode ajeitar as coisas, à medida que tomamos iniciativas como Janet Evans fez, aguentou o sumiço do marido e seguiu em frente em busca de emprego, que mostramos para o mundo que ainda estamos firmes e aguentaremos quaisquer futuras pancadas.

 Janet conquistou um novo parceiro, e seu filho um emprego.

* * * * *

 -Eu posso saber por que diabos vocês estão gritando na prefeitura?

 O prefeito, após receber a notícia do "mal entendido" no térreo, descera as escadas e impora sua voz alta e grave para quem estivesse ali, e rapidamente todos o encaram, envolvidos ou não na briga.

 O aviso de Eduard foi fundamental para o controle da situação por Quincy, apesar do menino estar mais atento ao que o prefeito e a garota estavam discutindo do que qualquer outra coisa, se aproximando da porta minutos antes.

 Ford ainda berrava para o atendente, apesar de ter desistido de lutar contra a contenção dos homens que o seguravam. O recepcionista havia voltado para a banca, e dali xingava o velho.

 -Dois homens feitos berrando um para o outro na sede da prefeitura, é isso mesmo que estou vendo? Patético.

 -Não precisa mais brigar, Ford - avisou Carol, ainda do alto da escada que descera, seguindo o prefeito.

 -Então você é o responsável por ela?

 -Não, eu sou - Dorothy levantou do banco, assumindo a responsabilidade.

 -Mas esse velho está com ela - avisou rapidamente o recepcionista, apontando para Ford.

 -Estão cientes de que a justiça pode puni-los por isso, não é? Qual é seu nome, senhor?
Ford olhou para embaixo, intimado pela voz e porte de Quincy.

 -Diga seu nome.

 -Eduard Ford.

 -Retire-se imediatamente, Eduard Ford, e eu espero que o senhor aprenda com essa menina, que pelo jeito sabe sobre como se comportar bem melhor que você.

 -Ele havia me insul-

 -Calado- o prefeito retrucou antes de Ford terminar a frase. -Ou receberá um mandato de prisão por agressão a funcionário público!

 Era o fim da linha, entrou em apuros por conta de seu temperamento mais uma vez, não restava mais o que fazer além de aceitar a confusão que tinha criado. Olhou para os lados, as pessoas confusas e assustadas, precisava ter feito aquilo tudo? Não mesmo. O desafio agora era aprender a pensar nisso antes de acontecer.

 -Sim, senhor. Vamos? - ele olhou para Dorothy e Carol, que, envergonhadas e ao mesmo tempo preocupadas com a expressão do amigo, o seguiram.

 Antes de fecharem a porta, Carol voltou para perto de Quincy e lhe agradeceu pelas informações, além de pedir desculpas pelo comportamento. A menina saiu do local satisfeita com o que sabia agora sobre a cidade, e mais agradecida ainda quando um jovem funcionário lhe deu um papelzinho, contendo os endereços dos locais mais invadidos pela máfia. O garoto foi discreto enquanto descia as escadas junto com ela, e resolveu dar um empurrãozinho, não esquecendo de marcar para conversarem mais tarde.

 Depois de ouvir o caso de Carol, Dorothy e Ford, ele sentiu que não estava mais sozinho naquilo tudo, agora tinha mais três determinados a ajudá-lo. Ao menos de primeira, pareciam corajosos o suficiente.

 E olha que coincidência, não é que o nome do velho também era Eduard?

Caçador de BorboletasWhere stories live. Discover now