Capítulo 8

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Mais tarde, naquela noite, Alice ligou dizendo que o pai havia ganhado alta, mas devido o horário, dormiriam na casa da tia, que fica na cidade. Assim como o Nicholas, fiquei feliz com a notícia. Apesar de não o conhecer, percebi o quanto é amado por todos.

Depois de conversar com o Josh, tomo um banho e ponho o vestido mais fininho que trouxe. Como um lugar pode fazer tanto calor?

Sem sono, decido ir a varanda tomar um ar e acabo encontrando o Nic encostado em uma pilastra, com o olhar perdido na escuridão do vasto matagal que rodeia a fazenda.

— Tudo bem? — Chamo sua atenção, que logo recai sobre mim.

— Sim. Só estava distraído. — Explica.

Fico ao seu lado e respiro fundo, sentindo o cheiro do verde, quase inexistente na cidade.

— Sabe, por mais que eu esteja cozinhando, até que aqui não é ruim. Essa calmaria tem um lado incrível. — Digo.

— Está acostumada com o luxo, a correria do dia a dia, o contato com pessoas que nem se lembra depois... A vida no interior é mais humana e saudável. Tanto físico, quanto emocionalmente.

— Quando eu era pequena, nos momentos bons da minha família, gostávamos de ir para a casa de campo da minha mãe. — Sou tomada por uma onda de lembranças. — Era legal... — Concluo nostálgica.

A goiabeira era meu ponto favorito. Sempre levava para a Nancy uma cesta cheia delas.

— Na época que se separaram, era muito jovem? — Pergunta.

— Faz oito anos. Eu tinha acabado de completar quinze. Foi um dia depois da festa caríssima que fizeram para mim. Éramos a família Bittencourt, uma das mais importantes do país e depois a mansão foi preenchida por discussões, até que, para concluir, minha mãe foi embora e fiquei com meu pai.

Me analisando, parece processar as informações que acabei de contar.

— Imagino que não foi fácil e ainda não é. — Comenta.

— No começo foi pior... Terrível. O Franco focou mais ainda em sua carreira política. Viajava constantemente, vivia rodeado de compromissos e já chegamos a ficar meses sem nos ver. Minha mãe mandava e-mails, ligava, só que nosso contato também foi diminuindo. Tenho sorte de ter a Nancy na minha vida. Se não fosse por ela, nem sei como teria passado por isso. — Chego a me emocionar relembrando tudo, mas viro o rosto e enxugo uma lágrima que se formou.

— Não é errado demonstrar seus sentimentos, Sarah. — Se aproxima um pouco. — Quando disse aquelas coisas, não foi para te ofender, como pensou. Sei que foi criada com tudo do melhor e isso não te fez ver as dificuldades da vida, pelo menos financeiramente, mas como todos, também tem seus problemas e não é feio que deixe transparecer o que te faz mal. — Foco em seus olhos e vejo muito sinceridade neles. — Nunca é tarde para refletir suas atitudes.

— Tipo ser uma menina mimada que não sabe lidar com críticas? — Ergo uma sobrancelha.

— É por aí. — Sorri, fazendo aquele sentimento que tanto me atormenta surgir em meu peito.

As palavras do Josh aparecem como um fleche em minha cabeça. Apaixonada? Até hoje, nenhum homem foi capaz de despertar isso em mim, mas o Nic... Me confunde. Esse jeito bruto de ser, sempre foi algo que me repeliu nos caras que saí, então por que não com ele?

— E você? Existe um motivo para ser tão troglodita? — Questiono, ironicamente.

— Não. É natural. — Brinca, dessa vez, arrancando minha risada. — Só deve estar acostumada com engomadinhos aos seus pés.

MEU SEGURANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora