XV

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Assim que coloquei os pés no campus eu senti os olhares queimarem sobre mim. Eu confesso que não estava com uma boa aparência e o óculos escuro não é uma boa alternativa, mas disfarçava um pouco, não tive paciência de arrumar meus fios e nem pegar a melhor roupa como eu tinha o costume de fazer antes das férias.

Sehun e Jongin andavam ao meu lado com medo de eu ser levado pelo vento ou desmaiar pelo chão, era até engraçado os cuidados que eles tinham comigo, eu não estava tão ruim eu aguentava bem.

Jongin levava minha mochila e eu segurava meus livros e apostilas de trabalhos que eu tinha para entregar, então apenas segui meu caminho com aquilo na cabeça. Não podia me distrair, não podia me deixar levar por nenhum pensamento ou sairia correndo pelo campus atrás de um certo alguém.

- Aqui fica Park Chanyeol - Peguei minha mochila e agradeci os meninos pela ajuda. Entrei na sala sem rodeios e coloquei minha apostila na mesa do professor que sorriu pra mim. Era um sorriso de orgulho, acabei rindo também.

Fui para meu lugar e percebi vários tipos de olhares em minha direção. Uns eram de preocupação por minha aparência e outros de assustados por perceberem que eu havia feito aquele maldito trabalho nas férias, fazendo muitos lembrar que estavam ferrados pelo semestre inteiro.


Eu não queria ser arrogante, não sou esse tipo de pessoa, mas precisei ignorar todos que queriam puxar assunto sobre o que tinha acontecido comigo. Eu só disse que não tive uma boa semana. Dei a mesma resposta várias vezes que se tornou automático até o intervalo.

"Você só precisa encontrá-lo e dizer tudo que está sentindo, naquele dia ele estava furioso, deve estar mais calmo agora, ele vai te ouvir."

Lembrei do que Sehun me disse e segui pelo refeitório atrás de uma pessoa conhecida, uma pessoa que precisava me ouvir, olhei ao redor e não achei nada além de Jongin e Sehun sentado em uma mesa distante, ambos olhando para mim, vi que Sehun indicava algo e percebi que era ele, não estava tão longe, então caminhei sem me sentir tão cansado com isso.

Quando ele já estava bem visível pra mim, quando pude o ver por inteiro meu coração apertou, tanto por saudade tanto sua aparência que parecia tão destruída quanto a minha, se as pessoas fossem bem observadoras perceberiam de longe o que havia acontecido.

O menor usava um moletom que era o dobro de seu tamanho, quase cobrindo todo seu rosto enquanto o mesmo comia um sanduíche, conseguia ver seus olhinhos pequenos inchados e ele tinha grandes olheiras, eu sabia que era o culpado disso tudo, eu precisava resolver de uma vez logo.

Caminhei até ficar a sua vista e vi quando se assustou com minha presença, me apressei quando percebi que ele ia sair dali, ele ia fugir.

- Espera - Segurei seu pulso e senti seu corpo tremer com meu toque mesmo com aquele pano grosso - Vamos conversar, por favor ouça o que eu tenho para dizer.

Ficamos naquela posição por um tempo que foi suficiente para todos olharem curiosos. Eu estava desconfortável e no momento que ia soltar seu pulso ele segurou minha mão e me puxou para fora do refeitório. O segui evitando andar rápido, mas ele teimava em me puxar para irmos mais rápido e aquilo estava me deixando cansado demais.

- Calma, eu não posso andar rápido - Parei e acabei puxando seu corpo para perto, seu olhar era tão triste que quase chorei também, ainda bem que os óculos escuros escondiam minha cara chorosa - Eu não tenho energia, sem forças; devagar, por favor.

O vi assentir e caminhamos lado a lado até uma área que não ia quase ninguém por ser um prédio em reforma, então ninguém seguiria por ali sendo o último prédio do campus, seguimos até uma sala que antigamente era um pequeno teatro de ensaio para a turma de cênicas. Na última peça acabou acontecendo um acidente, um aluno fumou perto das cortinas e acabou deixando queimar tudo pelo palco. Só restava a parte das cadeiras que eram todas novas, pareciam dois mundos diferentes.

O vi sentar em uma das poltronas e acabei fazendo o mesmo, sentando do seu lado e jogando minha mochila no chão.

- Eu tenho tanta coisa pra te dizer, mas quero te ouvir primeiro - Ouvi sua voz rouca e senti meu peito apertar novamente só de lembrar que ele estava assim por minha culpa.

Evitei o olhar e pensei em quais palavras usar, eu obviamente precisava pedir desculpas eu fiz uma coisa bem horrível, mas também precisava explicar o que tudo aquilo significava.

- Eu... primeiramente me deixe pedir desculpas, mas preciso muito explicar tudo desde o começo - Me virei na poltrona e fiquei a sua frente. Precisava falar tudo olhando em seus olhos, sem hesitar - Byun Baekhyun, você foi o primeiro cara pelo qual me apaixonei; não! A primeira pessoa pelo qual me apaixonei. Não esqueça disso depois que eu terminar.

Vi lágrimas caírem pelo seu rosto e quis muito limpá-las, contudo precisava falar tudo antes que eu ou ele fugisse.

- Eu não sou uma pessoa que se deve confiar, eu posso ser o maior galante, o maior cavaleiro, a melhor pessoa que alguém já conheceu, mas eu sou podre, posso ser a maçã mais bela e mais vermelha, mas por dentro eu sou todo podre, eu tenho apenas bichos e um gosto horrível e quem me descobre percebe isso, você com toda certeza deve estar pensando isso de mim, mas eu preciso ser muito sincero com você; aquele diário que você leu é meu, eu escrevi sobre todas as transas que já tive com as meninas desse campus, era como um hobby, um prêmio... eu não consigo explicar, nas últimas semanas antes das férias eu fiquei com uma menina e ela não foi lá grande coisa, eu não entendi o porquê de não ficar satisfeito naquele dia, hoje eu sei bem o motivo, mas naquele dia eu não entendia, então como o babaca que sou pedi para meus amigos me ajudarem, eu precisava de uma pessoa para me deixar satisfeito e levar para a casa de campo do Hansol e dormir com essa pessoa próximo à casa de campo - Parei quando vi que ele cobriu a boca e não parava de chorar, eu nem me controlava mais - Eu queria muito fazer isso nas férias, mas quando eles falaram sobre você eu relutei, era um garoto, e eu nunca fui pra cama com nenhum garoto.

"Eu sempre achei que você me odiava, desde aquele acontecimento com o refrigerante de uva, eu tive a cara de pau de te considerar meu maior desafio, eu fui até você, eu joguei com você e joguei meu charme pra você e eu te trouxe para meu campo de jogo, mas... mas acabou que naquele dia na praia, eu parei de atuar naquele dia eu te procurava por interesse meu mesmo, eu tinha uma imagem sua e sempre te achei uma pessoa arrogante e tudo, então achei que estava tudo bem até te conhecer, até a gente se beijar e ter aquele momento íntimo na praia.

Você leu o diário, viu que ali não tinha nada disso que eu não continuei a escrever, tudo que escrevi foi antes de te conhecer, eu tinha esquecido dessa droga, joguei em qualquer lugar, eu ia queimar e esquecer que fui essa pessoa que todos deviam repudiar."

Dei uma pausa pela falta de ar, eu praticamente falei tudo sem respirar, meu pulmão já doía pelo esforço. Tirei meus óculos e limpei meu rosto, eu estava acabado em lágrimas e via que agora o menor me olhava pensativo, arrisquei tocar seu rosto e o menor não se afastou, então sequei as lágrimas que estavam presas em suas bochechas, puxei seu capuz e vi que seus fios estavam quase retornando ao loiro por não retocar seus fios rosas.

- A nossa noite no lago... foi tudo uma brincadeira? - Vi que sua voz falhava e neguei.

- Nada depois da praia foi brincadeira, foi tudo real eu preparei tudo pensando em você, estava tão nervoso naquela noite em dar tudo errado, eu disse no calor do momento que gostava de você, mas na manhã seguinte eu tive certeza, eu disse que não viveria mais sem você e eu fui sincero - Falei tudo sem parar os carinhos em sua bochecha, o deixei levar o tempo que precisasse para pensar.

- Você tem noção de como estou me sentindo? Eu li aquilo e me senti a pior pessoa do mundo, eu pensei em tantas coisas e preferi mil vezes pensar que aquilo era um engano que não era você que não era seu que o meu Chanyeol nunca faria aquilo comigo, mas eu também pensei que você era perfeito demais que eu nem desconfiei quais eram seus defeitos, olha o que você fez comigo! Olha o estado que estou desde que saí da sua casa, eu estou acabado me sinto acabado, você foi a melhor pessoa que já namorei e nem consegui perceber que tinha algo errado - Me assustei com seu empurrão em mim, já esperava por isso, mas foi forte para sentir meu peito doer, porém ignorei aquilo e peguei minha mochila tirando aquele pequeno caderno que passei a odiar.

- Para você acreditar em mim eu o trouxe, eu te dou e deixo você fazer o que quiser, pode divulgar eu assinei todas as folhas, então todos vão saber que foi eu mesmo quem fez - Estendi o caderno em sua direção que foi prontamente pego, o vi folhear cada página, ele estava lendo.

- Tem noção de como é doentio ler isso? São intimidades de várias garotas elas te queimariam vivo por isso, é como falar sobre o nude de uma garota com os amigos, é como contar cada detalhe de uma transa com uma inocente garota para uma roda de amigos; é horrível, eu me sinto horrível por fazer parte de uma das folhas - Ele não chorava mais, eu percebi em seu tom de voz que ele estava furioso e com razão, me levantei e fiquei a sua frente.

- Eu mereço tudo que elas quiserem fazer comigo, mas entenda que ninguém nunca leu isso além de mim e agora você, eu nunca... droga, só o Jongin que leu uma única página, mas foi porque eu estava estranho. Eu te disse que antes eu não entendia o que estava acontecendo para eu não me sentir satisfeito.

- E qual sua resposta agora? - Olhei para o diário e suspirei.

- Eu estava cansado, não era mais o que eu queria fazer, eu queria me apaixonar, queria realmente viver com alguém, foram dois anos fazendo isso e eu precisava parar, eu não me sentia mais bem e isso não me fazia bem, eu te conheci e cheguei a essa conclusão - Ouvi sua risada e sabia reconhecer bem uma risada de deboche.

- Ora conte outra Park, você é o maior manipulador que já conheci e eu sei que está fazendo isso para tentar me ganhar de novo, eu não vou cair duas vezes nisso e posso muito bem divulgar para todos quem é o verdadeiro Park Chanyeol, o galã dessa faculdade - O olhei dessa vez sem desviar, eu sabia que ele não iria acreditar em mim, por isso trouxe o diário.

- Pode fazer, eu mereço isso.

- Mas elas não! Eu posso muito bem acabar com sua carreira aqui, mas também irei acabar com a imagem de muitas garotas que nem sonham que isso existe e eu serei bem pior que você, eu não sou assim, eu não sou uma pessoa ruim - Senti o caderno ser jogado em meu rosto e doeu como um inferno, mas eu também não liguei, eu merecia tudo.

Diário de um BabacaWhere stories live. Discover now