2.lilly

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 A pior parte de ser uma cantora de rua é aguentar os malucos de rua

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 A pior parte de ser uma cantora de rua é aguentar os malucos de rua. E, com malucos, estou incluindo a minha família de idiotas. Eu odeio admitir, mas se eu tivesse dinheiro e fama o suficiente, chutaria a bunda do meu pai nojento e do meu irmão drogado. Mas eles ainda são o único teto que eu tenho. E os donos de todos os instrumentos capazes de me dar uma renda extra.

Eu os encontro em uma bifurcação da plataforma mais deserta do metrô de Londres. É noite de natal e nós vamos tomar dinheiro de alguns perdedores como nós. Pessoas que não estão sob um lar, recebendo carinho, amor e chá quente com biscoitos, estarão comprando droga por aí ou se iludindo com uma festa tosca no subterrâneo.

Os únicos animais da Terra que fazem festa no subterrâneo são os ratos. E eu me sinto imunda como um deles, afundando no esgoto que é a minha doce vida aos dezessete anos. Sem nenhuma perspectiva.

— Aí está ela. — Lewis filho, meu irmão, se vira. — Por onde andou? Está atrasada!

Masco o meu chiclete sem gosto, revirando os olhos e retirando o casaco. Está frio de morrer porque eu acabei de verificar que temos um Natal Branco esse ano. É quando neva em alguns pontos do Reino Unidos. Mesmo assim, preciso estar na minha roupa de Show. Lewis filho segura o meu braço antes que eu possa alcançar meu violão.

Encaro o seu rosto bagunçado. Os olhos verdes de Lewis estão saltados. MD, eu penso. Ele está usando essa droga para não dormir nunca. E transar como um coelho com qualquer pessoa. Odeio como ele cheira à sarjeta e está sempre com aquele cabelo sem corte e com cor de rato despenteado. É, somos uma família de malditos roedores.

— Que droga, Lewis! — Empurro-o. — Tom queria me ver. Ele me passou a droga do local do Natal Branco.

— Pelo menos não estava só transando com aquele velho. — A voz nojenta do meu pai rasteja até o meu ouvido. — Trouxe nosso trunfo de hoje.

O meu pai é um velho barrigudo que está preso em um grupo de motoqueiros de uma pessoa só: ele mesmo. E, apesar das roupas de coro e daquela bandana ridícula nos cabelos grisalhos desgrenhados, ele não tem uma moto. A coisa mais valiosa que ele tem são os instrumentos. É tudo que me mantém presa a ele. Porque nunca consegui roubar o meu próprio violão de suas mãos. E não quero ter que me prostituir para sobreviver.

Quero viver de música.

Eu até tentei descolar um violão com o Tom, o meu namorado. Mas ele só me usa para transar. Aquele idiota nocivo. Às vezes, quando ele me deixa dormir no apartamento dele, com aquecedor e chuveiro quente, eu acho que o amo. Mas tenho certeza que o odeio por aquele sexo morno no qual eu me comporto como uma porta recebendo a chave errada na fechadura obsoleta.

— Você tem cigarro? — Estendo a mão para o meu pai.

— Isso vai secar suas cordas vocais. Você precisa delas, criança. — Balanço a mão com mais força e ele resmunga, me entregando o maço. — Fique com isto, consegui uma erva boa hoje. Não preciso dessa merda.

— Foda-se. Vocês querem repassar um som, ou o que?

— Não. — Lewis filho rosna. — Cante qualquer coisa. A gente faz isso o tempo todo, porra. Só vamos seguir o plano.

— De recolher dinheiro das apostas da neve. — O Lewis pai completa.

— É mesmo? E qual vai ser o prêmio?

— Não tem prêmio, Lilly. — Meu pai aponta para os meus pés. — Prepare-se para usar essas botas como se fossem carros de corrida. Esse dinheiro vai salvar o nosso natal.

Quando ele diz salvar, ele está se referindo à vícios e mulheres. Olho para o violão próximo à Lewis filho e suspiro.

— Quanto eu vou ganhar?

— Vamos ver.

— Quanto, pai?

— Eu vou ver isso depois! — Ele grita. — Que droga, Lilly Avra. Você acha que é quem? Lady Gaga? Você não é ninguém. Apenas toque o violão quando tiver que tocar e então te daremos o que merece.

— Ou é isso ou ficar chupando o pinto do seu namorado.

Mostro o dedo do meio para ele. Lewis filho dá uma risada drogada, mas me dói saber que ele está certo. Quando não tem nada para comer em casa além de bucha de maconha eu realmente me engalfinho na cama de Tom.

Eu odeio essa vida. Porque estou me prostituindo mesmo que não queira. Se há alguma sorte nisso é que Tom não me força a nada, não é violento. E compra geleia de morango para mim. Fora isso, estou dando o meu corpo adolescente a ele em troca de pão. Eu facilmente passaria em um teste para algum papel no musical Os Miseráveis.

— Lady Lilly? — Lewis grita, me atirando o violão. — Abra mais o decote.

Eu o ignoro. Não preciso mostrar os peitos para chamar atenção. Minha voz fala por mim. Passo o apoio do violão sobre os ombros e verifico a afinação. Perfeita, como eu deixei. Estou meio que sorrindo por reencontrar uma parte de mim quando ergo os olhos e então o vejo.

O maluco do metrô.

Eu reconheço um maluco de longe. Esse é do tipo virgem. Daqueles que estão loucos para impressionarem garotas e perder a merda da virgindade. Isso deixa esses malucos meio lunáticos. Sei que ele acha que vai ter um presente de natal comigo pelo modo como me olhou quando sentei ao seu lado no vagão. Mas eu prefiro ficar com fome e com frio a falar com ele novamente.

Me viro de costas, ignorando sua presença e começo a tocar.

É hora do show. 

 

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GORGEOUS | Spin-off ✓Where stories live. Discover now