Kekeliruan

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Jasmine

Engoli em seco quando parei ao lado do meu tio diante do palácio da família Ahmadinejad. A gigantesca construção com detalhes em dourado parecia mais ameaçadora a cada passo.

Ao redor muitas pessoas seguiam animadas passando pelos grandes portões que cercavam o palácio. A animação era visível nos olhares de todos. Meu tio Umar tocou no meu ombro tentando me encorajar a seguir e foi exatamente o que eu fiz.

Assim que passamos pelos guardas reais entramos em um amplo salão decorado com muitas cores. Uma extensa mesa estava abastada de inúmeros​ tipos de comidas diferentes.

— Vamos cumprimentar os soberanos? — Meu tio murmurou e eu assenti.

Senti minhas emoções completamente bagunçadas. Eu estava prestes a ficar diante dos meus pais biológicos e sinceramente não sabia o que esperar deles. A sensação de olhar para a rainha era o com certeza iria doer mais. Ela se livrou de mim como quem descarta uma sacola de roupas usadas. Roupa que não serve mais, que não presta para nada.

— Vamos! — Falei determinada e meu tio já ciente do plano seguiu ao meu lado.

A cada passo eu sentia meu coração batendo mais rápido. As minhas mãos trêmulas denunciavam o quão conturbados meus sentimentos estavam. E então avistamos a família real. A rainha Azura Ahmadinejad estava sorridente usando um vestido deslumbrante azul marinho combinando com o véu. Seus olhos reluziam junto com suas jóias em ouro. Era linda! Por fora.

O rei Iran estava quieto ao lado dela. Cumprimentava à todos, mas parecia de alguma forma incomodado com alguma coisa. Usando uma túnica branca e turbante quadriculado ostentava uma postura imponente e até mesmo intimidadora.

E entre os dois estava a princesa Sadira, uma jovem sorridente e bem mais nova que eu. Tinha uma beleza inenarrável. Seus olhos expressivos pareciam​ terem sido herdados da mãe. O sultão não estava presente.

Parei na frente da rainha assim que consegui me aproximar dela. Ela sorriu para mim e eu senti meu peito doer quase como se o simples fato dela me olhar pudesse me deixar sem ar.

— Soberana! — Murmurei a reverenciando sutilmente.

— Seja bem-vinda ao nosso Eid al Fitr! — Ela disse automaticamente e eu apertei meus lábios.

— Soberana, essa é minha sobrinha Jasmine. Gostaria de comprá-la para ser vossa criada? — Tio Umar perguntou e ela me avaliou minuciosamente.

— Hoje é dia de celebração, mas se voltar amanhã cedo posso averiguar melhor o caso.

— Desculpe, senhora, mas é porque estou partindo essa noite para a Malásia, preciso resolver questões de família e gostaria de deixar minha sobrinha bem encaminhada aqui na cidade. Ela é minha responsabilidade. É uma boa moça, sabe fazer de tudo um pouco. — Meu tio insistiu e ela me olhou nos olhos. Tantas perguntas passaram pela minha mente diante do olhar avaliativo dela.

— Ismênia! — Ela chamou uma mulher que estava um pouco afastada, mas completamente atenta à família.

— Ya?

— Leve esses dois para a sala de serviço e explique todos os detalhes para a nova criada! — Ordenou e a mulher assentiu prontamente.

O rei e a princesa me olharam por um milésimo de segundo e eu senti um nó na garganta. Apertei o braço do meu tio, tomando coragem para seguir a criada. Ela nos conduziu para uma sala afastada do salão principal. Depois dela acertar o meu valor e me explicar que eu seria uma odalisca, meu tio me entregou a pequena mala com as minhas roupas.

— Que Alá te proteja! — Ele murmurou e eu o abracei forte.

— Amin! Cuida da minha ibu, por favor! — Pedi em um sussurro e ele assentiu beijando a minha testa em despedida.

Observei ele ir embora com um aperto no peito. Eu estava sozinha no palácio tão grande quanto toda a vila onde eu vivia.

— Venha comigo! Vou te mostrar onde deixar suas coisas! — Ismênia chamou e eu a segui nervosa. — Eu irei cuidar do seu treinamento. Já se alimentou hoje?

— Ya. — Menti afirmando.

A verdade é que a ansiedade de colocar o plano em prática estava consumindo toda a minha energia. Eu não conseguia pensar e nem fazer mais nada além de focar na minha chegada no palácio. Ismênia me mostrou um pequeno quarto no final de um corredor labiríntico. Coloquei minha mala sobre a cama e a mulher sorriu para mim.

— Acho que vamos nos dar bem. Como é seu primeiro dia e hoje é dia de celebração ficaremos apenas no salão junto dos outros criados à disposição dos soberanos.

— Baiklah! — Concordei e nós duas voltamos pelo longo percurso até o salão. Fiquei próxima dela logo atrás dos soberanos.

Notei que o sultão estava agora ao lado da rainha, mas não vi o rosto dele pois estavam​todos de costas para mim. Mas vi claramente os dois de braços dados como mãe e filho. Engoli em seco e permaneci em silêncio no lugar que me foi designado.

No final da celebração aos poucos todos foram indo embora, e junto com as outras criadas eu ajudei a arrumar e limpar todo o salão. Por cima do ombro pude ver quando a realeza seguiu para o segundo andar do palácio, para seus aposentos.

— Leva essa prataria para a cozinha! — Uma mulher mandou e eu franzi a testa.

— Mas onde fica a cozinha? — Perguntei confusa e Ismênia sorriu ao meu lado.

— Vem comigo que eu te mostro!

A segui e em cada local que passávamos ela explicava do que se tratava. Eram inúmeros cômodos por toda parte. Após terminar de ajudar a cuidar de tudo, Ismênia me liberou para descansar. Eu estava realmente exausta, havia dado tantas viagens para levar as coisas que minhas pernas doíam bastante. Porém a minha mente não parava de fervilhar um só instante. Ver a realeza tão de perto, a minha família, e não poder fazer nada me feriu mais do que poderia imaginar. Eu precisava acelerar as coisas. Queria poder contar logo quem eu era.

Foi então que esperei todos se recolherem e subi para o segundo andar sorrateiramente.

Havia grandes vasos de plantas decorando o extenso corredor. Obras de artes luxuosas e tapetes coloridos também. Segui parando de porta em porta, tentando ouvir algo por elas. Após três portas silenciosas finalmente ouvi algo na quarta. Me aproximei mais, pude ouvir claramente a voz da rainha, entretanto não podia distinguir bem o que dizia.

Empurrei vagarosamente a porta e notei que ela estava aberta. Olhei pela fresta e vi a rainha de pé, na frente do espelho, retirando suas jóias preciosas. Ela parecia estar conversando com alguém do outro lado do quarto. Provavelmente o rei. Entrei um pouco mais no cômodo, discretamente, e então finalmente pude ouvir com clareza a conversa.

— Não pode continuar com essa richa tão tola! Ele é o nosso filho. — Argumentou tirando as pulseiras douradas. — E está fazendo o melhor. Viu como os súditos o amam? Ele nasceu para governar o nosso país. — Comentou visivelmente orgulhosa.

— Eu não vou ficar aqui ouvindo você tecer elogios para ele. Estou farto. — O rei reclamou irritado e notei a sombra dele vindo na minha direção.

Meu coração foi parar na boca. Recuei dois passos e saí imediatamente. Olhei para um lado e para o outro, notando que não teria tempo suficiente para fugir pelo extenso corredor sem ser vista. Sem muitas opções de escapar do flagra acabei correndo para a porta mais próxima e entrei rapidamente no quarto silencioso. Fechei a porta e encostei as costas nela, fechei meus olhos e respirei fundo tentando controlar a minha respiração e me acalmar.

— O que você está fazendo? — Ouvi uma voz grave perguntar e abri os olhos completamente assustada.

E bem diante de mim, deitado em uma enorme cama e me olhando interrogativo, estava o sultão de Brunei.

A Favorita Do SultãoOnde histórias criam vida. Descubra agora