Dário
Senti a minha cabeça latejar. Passei a mão pela minha testa e senti a umidade pintar os meus dedos de vermelho. Observei no retrovisor o sangue escorrer da minha testa.
— Soberano, o senhor está bem? — Ouvi alguém perguntar do lado de fora e assenti ainda atordoado.
— Me ajuda a sair daqui, por favor! — Pedi e o homem puxou a porta com força, mas estava tão amassada que parecia emperrada.
Ajudei forçando a porta e então ela finalmente destravou. Saí completamente tonto pela pancada na cabeça e observei o estrago monumental feito na Lamborghini nova. Por Alá, como eu pagaria isso?
— Quer que eu chame uma ambulância, senhor? Ou prefere que eu mesmo te leve ao hospital? — O homem propôs ao meu lado.
— Não precisa de nada disso. Terima kasih pela ajuda! — Agradeci começando a caminhar lentamente, tentando não cair.
— Mas o senhor está sangrando! — O homem insistiu.
— Não se preocupe, estou bem. — Murmurei seguindo com passos vacilantes em ziguezague pela rua até chegar no cais.
Sentei nas margens do rio e apertei os olhos tentando me acalmar. Minha mente estava uma bagunça. Observei o céu escuro sem estrelas. Eu nunca me senti tão perdido na vida. Olhei para a vila de palafitas à minha frente. Recordei de Jasmine ter contado que morava ali. E também do vídeo dela dizendo o nome de sua ibu. Na verdade, minha ibu. Levantei com dificuldade e segui até o barqueiro mais próximo.
— Por favor, pode me levar até a casa de Zenda Farshid? — Pedi e o homem olhou diretamente para meu ferimento.
— Será um prazer, soberano. — Ele concordou e eu entrei no barco.
— Eu não sou soberano. Eu não sei mais quem eu sou. — Murmurei olhando novamente para a vila.
O homem ficou visivelmente confuso e soltou a corda do barco, depois remou agilmente atravessando o rio de águas tranquilas. Parou no cais da vila e apontou para uma casa específica.
— A senhora Zenda mora ali!
— Terima kasih. — Agradeci o pagando e segui pela vila.
Era estranho andar sobre madeiras em cima da água. As casas eram simples, lado a lado uma da outra e estava tudo silencioso ao redor. Fui até a casa apontada pelo barqueiro e paralisei na porta sem saber o que dizer. Respirei fundo tomando coragem e então bati.
Uma senhora abriu a porta e arregalou os olhos assim que me viu. Parecia igualmente sem saber o que fazer ou dizer.
— Ibu? — Perguntei com a voz embargada e ela me abraçou apertado caindo em um choro doloroso.
— Então você já sabe de tudo, meu filho! — Comentou me apertando em seus braços.
— Jasmine revelou o que a rainha fez.
— Por Alá! Não imagina o quanto eu esperei por esse dia! Como sonhei em te envolver em meus braços novamente. A sua imagem chorando no meu colo após o nascimento nunca saiu da minha mente. As suas pequenas mãozinhas tocaram o meu rosto quando eu beijei seu rostinho. Você era meu pequeno Hassan.
— Esse seria o meu nome?
— Ya. Era uma homenagem ao seu avô. Não tem ideia do quanto seu bapa e eu fomos felizes nos poucos minutos em que você ficou conosco. Mas depois... Depois tudo que você já sabe aconteceu. — Contou e afastou do abraço me olhando preocupada. — O que houve? Está ferido! Por Alá, vamos ao hospital agora mesmo. — Chamou e eu neguei com a cabeça.
— Estou bem.
— Entre! Deixa eu ver isso melhor! — Pediu me puxando e eu entrei em sua casa fechando a porta atrás de mim.
Sentei no sofá e ela avaliou cuidadosamente o ferimento na minha testa. Depois checou meus braços e pernas à procura de mais algum machucado. Sumiu de repente pela porta e eu observei a casa tão simples, mas tão bem organizada que dava gosto.
Com um pano limpo em mãos ela limpou o sangue do meu rosto e passou álcool fazendo arder ainda mais a minha dor.
— Você bateu a cabeça. Deveria ir no médico fazer exames. — Aconselhou e eu permaneci a observando, era tão bonita.
— Não é necessário.
— Você é igualzinho seu bapa. Ele também odiava médicos. Tanto que preferiu morrer aqui do que ir para um hospital.
— Eu não odeio médicos, só realmente não preciso. — Murmurei e ela sentou ao meu lado no sofá. — Quando seu marido morreu?
— Ele faleceu três dias antes de Jasmine ir para o palácio.
— Então o luto dela era verdade. — Concluí e ela franziu a testa. — Achei que ela também tivesse inventado isso para usar em seu plano.
— Tidak. O único plano era conseguir algo que pudesse desmascarar a Sultana. Jasmine sofreu muito com a morte de Gaspar. Principalmente por ele ter confessado tudo pouco antes de morrer. E infelizmente ter dito que não a amava por ela não ser filha dele. Foi um golpe bastante duro para ela. Foi o que a deixou com sede de se vingar da rainha.
— E para isso ela precisava me usar?
— Do que está falando, querido?
— Dela ter usado meus sentimentos e minha confiança para conseguir a chave do escritório e roubar os diários. — Respondi amargurado.
— Jasmine não te usou de forma alguma. Ela pode ter pegado a sua chave, mas não foi por isso que ela aceitou ser sua noiva. Ela realmente gosta de você, meu filho.
— Gosta tanto que ao invés de me contar que eu estava fazendo papel de idiota com a falsa gravidez de Elaheh, decidiu expor na frente de todo mundo durante a festa em que anunciei que seria pai. — Murmurei magoado e de repente ouvimos bater na porta.
Ela franziu a testa novamente e foi atender. Por um segundo achei que pudesse ser Jasmine, mas logo avistei o rei.
— Soberano! — Ela o cumprimentou dando passagem para ele entrar na casa.
— Meu filho, como você está? Soube do acidente. — Ele perguntou vindo direto até mim.
— Eu darei um jeito de pagar o estrago do carro, senhor. Não se preocupe.
— Eu não estou preocupado com carro algum. A minha única preocupação é você. Não é porque descobrimos que não somos do mesmo sangue que deixarei de ser o seu bapa. Por Alá, Dário, tivemos sim nossas diferenças, mas você é meu filho. — Ele rebateu e eu levantei do sofá e o abracei. Não devia estar sendo fácil para ele também descobrir que a rainha o enganou a vida inteira. Não estava sendo fácil para ninguém. — Qualquer coisa que precisarem podem contar comigo.
— Terima kasih! — Agradeci me afastando do abraço.
— Mas agora devíamos ir ao hospital. E depois você precisa conversar direito com Jasmine. Entender as motivações dela. Sei que o fato dela expor tudo em uma festa pode ter te magoado, mas precisamos entender o quanto ela estava ferida com a rainha. A intenção dela não foi nos machucar, foi apenas de abrir os nossos olhos.
— Eu entendo as razões dela, sei que deve ter sofrido muito com toda essa situação, mas pelo menos por agora não quero falar com ela. Creio que o que tínhamos acabou.
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A Favorita Do Sultão
RomanceNada causa mais dor ao coração do que a perda de um ente querido. E foi exatamente durante esse momento tão terrível que Jasmine Farshid acabou descobrindo um grande segredo que irá mudar totalmente o percurso da sua vida. Decidida a acertar as con...