13 anos (Foram os seus olhos)

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Magnus não entendia direito como um simples "Você quer brincar comigo?" acabou se transformando numa incrível e verdadeira amizade, mas agradecia por isso.

Agradecia por Alec ter aceitado brincar no seu aniversário de 6 anos, e agradecia por ele continuar ali, tanto tempo depois.

Às vezes Clarice tinha ciúmes por achar que estava sendo trocada, e Magnus ainda se surpreendia quando Alec sempre dava um jeito de incluí-la nas brincadeiras, passeios e conversas.

Eles moravam perto um do outro e se viam todos os dias sem falta, passaram a frequentar a mesma escola, ainda que Clarice estivesse mais avançada, e eram os três mosqueteiros que se tornaram O quarteto Fantástico quando o pequeno Jay Bane chegou ao mundo.

O irmãozinho de Magnus nasceu quando ele tinha 7 anos, e isso o deixou quase vomitando de medo que o bebê não fosse gostar dele, mas como sempre Alec estava lá, sorrindo e segurando sua mão antes de entrarem no quarto do hospital onde a mãe tinha dado a luz.

- Eu acho que seu irmãozinho vai gostar dos seus olhos primeiro, assim como eu gostei. E depois vai gostar de todo o resto porque você é incrível, Mags.

Magnus retribuiu o sorriso dele com uma palpitação estranha no peito, e de mãos dadas eles entraram no quarto com Clarice logo atrás.

Os três imediatamente se encantaram pelo pequeno Jay, e hoje, 6 anos depois, estavam todos na praça ao lado da casa dos Bane aproveitando um lindo dia de verão.

Jay corria pelo gramado entre gritinhos e gargalhadas enquanto Clarice ria junto e tentava alcançá-lo.

Magnus e Alec observavam aquela cena com carinho, sentados lado a lado embaixo de uma árvore até que o tempo foi passando e eles nem perceberam.

- No que você está pensando? - Alec perguntou depois de perceber que a mente do melhor amigo tinha ido pra outro lugar.

Suas mãos sobre a grama estavam tão próximas que bastava mover um centímetro para se tocarem, mas por mais que Alec quisesse muito, não fez isso.

Clarice tinha levado o irmãozinho para comprar sorvete em algum momento, e agora os dois garotos estavam sozinhos como tentaram evitar muitas vezes no último ano.

Magnus continuou em silêncio por alguns instantes, e quando olhou para Alec estava levemente corado.

- Eu estava pensando no dia que te vi pela primeira vez. Seus pais eram tão diferentes e mal te davam atenção naquela época, mas não foi isso que me fez querer te tirar de lá e vir comigo.

- O que foi então? - Alec quis saber, mas antes mesmo de receber uma resposta já estava ficando corado também, principalmente quando Magnus sorriu.

- Foram os seus olhos. Quando o Jay nasceu você disse que gostou dos meus olhos antes de qualquer outra coisa e eu também gostei dos seus. Mesmo de longe eu me senti feliz olhando pra eles. Agora já temos 13 anos e eu continuo do mesmo jeito.

Alec abriu e fechou a boca uma porção de vezes, mas não conseguia dizer nada.

Seu coração parecia estar martelando em seus ouvidos, e de repente Magnus soltou uma risadinha envergonhada antes de continuar.

- O que eu quero dizer é que agradeço por ter feito minha festa nesse parque e não num salão enorme como minha mãe sugeriu inicialmente. Desde aquele dia você tem estado nos momentos mais importantes da minha vida, e com certeza não seriam tão especiais se você não estivesse do meu lado.

Alec abriu a boca de novo, mas dessa vez numa respiração afetada e se forçou a virar o rosto antes que o rubor de suas bochechas ficasse ainda mais forte e o denunciasse.

- Eu não estive ao seu lado em todos os momentos importantes, Magnus. Eu não estava com você quando deu seu primeiro beijo na Camille no aniversário da Cat ano passado.

Magnus suspirou e apoiou a cabeça no tronco da árvore antes de contar o que realmente aconteceu naquele dia.

Já vinha escondendo aquilo há muito tempo e não aguentava mais.

- Eu não beijei a Camille naquela festa, Alec. Eu não beijei ela e nem qualquer outra pessoa.

Alec virou a cabeça na direção dele tão rápido que até ficou tonto, mas ignorou o incômodo.

- Mas você disse! Eu tinha ido buscar um refri e todo mundo começou a falar que você e a Camille tinham se beijado. Eu te perguntei se era verdade e você disse que sim.

- Eu menti, Alec. A Camille tentou me beijar, mas eu não quis e saí de lá. Um outro menino ficou com ela e eu não sei porque dizem que fui eu. Acho que ela não desmentiu até hoje porque esse menino nunca mais apareceu e o ego dela ficou ferido.

- Mas... - Alec continuou olhando pra ele numa mistura de sensações que era impossível de explicar. Estava tão feliz e tão irritado ao mesmo tempo. - Por que você mentiu sobre isso, Magnus? Por que mentiu pra mim?

- Eu queria ver a sua reação. Queria que você ficasse irritado e dissesse que meu primeiro beijo deveria ser com você e não com a Camille ou com qualquer outra pessoa. - Magnus fez uma pausa para apertar as mãos trêmulas no próprio colo, mas agora que começou iria até o fim. - Eu queria que você sentisse o mesmo que eu sinto, Alec, mas naquele dia você apenas me disse "Parabéns", e todos os dias seguintes você agiu como se nada tivesse acontecido. Mas eu não te culpo por não gostar de mim como eu gosto de você, e acho que agora só posso rezar pra que você não me odeie porque eu não quero imaginar uma vida onde você não esteja comigo. Eu não sei ser o Magnus sem o Alec.

Magnus já tinha ensaiado aquele discurso uma porção de vezes na sua cabeça, mas olhar para Alec enquanto desabafava era assustador demais e fez com que o tremor de suas mãos expandisse para seu corpo inteiro.

Se os irmãos voltassem agora provavelmente pensariam que ele estava tendo uma convulsão ou ataque de pânico, e era exatamente o que aconteceria se Alec continuasse mudo daquele jeito.

Enquanto escrevia aquele discurso mental no último ano, Magnus pensou em 17 mil respostas que poderia receber, mas nenhuma delas o preparou para aquilo.

Alec ficou uma eternidade imóvel e mudo, mas quando recuperou os movimentos ele se inclinou na direção de Magnus e o beijou.

Foi desajeitado de ambas as partes por ser de surpresa, além de ser o primeiro beijo que davam na vida, mas Magnus se deliciou com o cheiro e principalmente com o gosto de Alec, o garoto por quem se apaixonou antes mesmo de saber o que era amor.

Seus braços se ergueram sozinhos devido à vontade de segurá-lo mais perto, porém Alec se afastou um centímetro e olhou em seus olhos de um jeito tão intenso e diferente que Magnus pensou estar a ponto de desmaiar.

- Eu também gosto de você, Magnus. Gosto muito. E eu fiquei mesmo irritado naquele dia, tanto que cheguei em casa e chorei a noite inteira porque eu queria ter dito que seu primeiro beijo deveria ser comigo.

- Por quê? - Magnus respirou fundo tentando espantar o choque de ouvir que Alec também gostava dele como mais do que um amigo. - Por que você não disse?

- Eu tive medo. Acho que o mesmo medo que você teve ao confessar essas coisas pra mim agora. Eu tive medo que você não retribuísse e que meus sentimentos nos afastassem de algum jeito. Tive tanto medo porque eu não entendia direito o quanto é forte o que eu sinto, e também não quero imaginar uma vida onde você não esteja comigo.

Magnus piscou repetidas vezes e até se beliscou para ter certeza de que não estava sonhando, mas então abriu um grande sorriso e abraçou Alec com toda a sua força antes de beijá-lo mais uma vez, suavemente e com gostinho de um futuro.

Não sabia como as coisas seriam dali pra frente, mas sabia que estava plenamente feliz porque nada poderia separa-los agora.

All the MemoriesWhere stories live. Discover now