20 anos (Obrigado por ter vindo comigo)

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Já fazia mais de dois meses que Alec estava esperando Magnus aceitar encontrá-lo para conversar, e apesar de parecer uma tortura, nem se comparava com os quase 6 anos anteriores que sofreu com aquela mesma espera.

Durante exatos sessenta e cindo dias Alec tentou pelo menos recuperar um pouco da sua vida em Nova York, principalmente visitando alguns dos amigos mais antigos e até mesmo fazendo alguns novos.

Todos eles já tinham alcançado a maior idade, inclusive o próprio Alec tinha acabado de completar 20 anos, e por isso apenas alguns moravam no mesmo lugar, mas felizmente eram as pessoas que Alec mais queria ver.

Catarina, Raphael e Jem, aqueles que Magnus lhe apresentou no seu aniversário de 6 anos e que continuavam amigos dele até hoje.

Alec saiu com eles algumas vezes, incluindo com Clarice, e foi maravilhoso se sentir como parte do grupo outra vez.

Foi maravilhoso não ser julgado ou excluído como ele bem merecia, mas era a reação de Magnus que realmente importava.

No 66º dia em Nova York, Alec ficou rolando a manhã inteira naquela cama do hotel, inquieto com todas as possibilidades, pensando em Magnus, em Jay, na vida que costumava ter antes de estragar tudo, até que de repente seu coração disparou quando seu celular apitou com uma nova mensagem.

- Por favor, que seja ele. Por favor. - Alec pediu como vinha pedindo todos os dias, e sorriu ao ver que era mesmo, ainda que a mensagem não estivesse assinada.

Só havia um endereço e um horário, naquele mesmo dia, e Alec sentia na alma que era Magnus, então correu pro banho sem nem raciocinar direito.

Ele finalmente poderia explicar tudo, ou quase tudo, e queria acreditar que Magnus não o odiaria por mais que tivesse errado, mas quando chegou lá sua mente toda ficou num completo blackout.

Até aquele momento Alec não sabia e nem tinha pensando muito de onde era aquele endereço que recebeu, mas quando viu Magnus parado em frente a um estúdio de tatuagem, tudo foi ficando mais claro.

Ele estava tão lindo e maduro, simplesmente perfeito com um suave cavanhaque que Alec queria acariciar, mas teria que controlar esse e qualquer outro provável impulso.

Por alguns minutos ficou apenas o admirando de longe, até que Magnus pareceu sentir sua presença e olhou na sua direção.

A parte mais iludida de Alec esperava um sorriso, mas Magnus continuou sério, o observando com certa curiosidade até se encontrarem há 10 passos um do outro.

- Oi. - Alec disse após um longo momento de silêncio, e recebeu o mesmo cumprimento.

Antigamente eles sempre faziam questão de se abraçar e até beijar, mas isso tudo tinha ficado no passado porque agora eles eram apenas meros conhecidos.

- Desculpe por ter demorado pra entrar em contato. - Magnus murmurou, e Alec se surpreendeu pelo pedido de desculpas totalmente desnecessário.

- Nós dois sabemos que não é você que tem que pedir qualquer desculpa Magnus, mas o que estamos fazendo aqui?

- Eu decidi fazer uma tatuagem pro Jay e queria que alguém viesse comigo.

Por lógica Clarice é quem deveria ser a primeira opção, mas Magnus o escolheu, e por isso Alec sorriu.

- E o que você vai tatuar?

- Um J com duas asas, mas eu queria fazer em cima de uma manchinha como se fosse uma nuvem, mas não queria que fosse branca nem azul porque é comum demais.

- Por que você não faz laranja? O Jay sempre disse que o céu era mais bonito quando ficava laranja no final da tarde.

Magnus pareceu considerar um pouco e Alec achou que tivesse ultrapassado algum limite, mas então ele abriu um lindo sorriso seguido de uma pequena lágrima.

- É perfeito, Alec.

- Que bom, então vamos.

Os dois entraram no estúdio e Magnus mostrou o desenho simples de um J com duas asas abertas, acrescentando a manchinha laranja para a moça da recepção que também era a tatuadora.

Ela o guiou por um curto corredor até uma cabine nos fundos da loja, e Alec estava quase se sentando para esperar na recepção quando foi chamado.

- Você não vem?

Ele olhou para Magnus e viu uma súplica silenciosa naquele olhar, causando uma pontadinha de ansiedade no seu coração enquanto o seguia, mas Alec realmente não esperava ver Magnus tirando a camisa assim que entrou na sala.

A tatuagem ia ser feita no seu peitoral abençoado com generosas horas de malhação, ou quem sabe práticas de esportes, e Alec sentiu tanta inveja daquela tatuadora que sentou numa cadeira ao lado de Magnus sem nem perguntar se podia.

Os dois se entreolharam e a tatuadora observou Alec com um sorrisinho como se dissesse: "Eu já tenho o meu boy e não vou roubar o seu", mas foi totalmente ignorada por ambos.

Alec ficou do lado de Magnus o tempo todo, cuidando cada traço por onde aquela enorme agulha passava na sua pele, e até parecia que era ele mesmo que estava fazendo a tatuagem porque em algum momento daquela uma hora e meia, Magnus segurou a sua mão e sorriu de um jeitinho atrevido para sua cara de total espanto.

- É a minha pele que está sendo rasgada, sabia? Você não precisa ficar nervoso e nem desmaiar.

- Idiota. Eu não to nervoso, mas é normal sair tanto sangue? - Ele perguntou ainda segurando a mão de Magnus com firmeza, mas encarando a tatuadora.

- Infelizmente sim. Dependendo da região sai ainda mais, mas já estou finalizando aqui e o seu namorado estará liberado.

Alec não a corrigiu quando os chamou de namorados, e foi um choque ver que Magnus também não.

Com exceção da maquininha nas mãos dela, o silêncio depois disso foi absoluto, até que a tatuagem foi concluída e Magnus a encarou no espelho.

Com a pontinha dos dedos ele tocou no desenho em seu peito, sentindo o pulsar acelerado do coração até que sorriu.

Naquele sorriso Alec conseguiu enxergar o belo homem que Jay se tornaria se não tivesse sido levado tão cedo, e conseguiu sentir, principalmente, que Magnus estava em paz, ainda que sempre fosse doer a perda do irmãozinho.

- Ficou lindo, Mags. - Alec disse num sussurro, o encarando pelo reflexo do espelho. - Ele ia gostar muito.

Magnus acariciou a tatuagem por mais alguns instantes até que virou pra Alec, sem abandonar o sorrisinho.

- Obrigado por ter vindo comigo.

- Foi uma honra, Magnus. Apesar de achar que você faria isso com a Clarice.

- A Clarice parece estar superando mais rápido do que eu, e acho que eu só precisava de alguém que me entendesse de verdade.

Alec abriu a boca na tentativa de responder algo, mas Magnus respirou fundo e começou a vestir sua camisa outra vez como se não tivesse dito sem dizer que Alec o entendia mais do que a própria irmã.

- Então essa etapa foi concluída, Lightwood. - Ele murmurou quando saíram do estúdio. - Agora você e eu temos muito o que conversar.



Nota da autora: o último capítulo sai sexta :)

All the MemoriesWhere stories live. Discover now