19 anos (Eu não consigo fazer isso)

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Jay tinha sido enterrado no meio da tarde, mas a família Bane continuou recebendo condolências de amigos e outros parentes por mais algumas horas.

Alec queria tanto ir até Magnus e consolá-lo de alguma forma até que não restassem mais lágrimas entristecendo seu belo rosto, mas sabia que não era digno de participar daquela família outra vez, e se por um milagre fosse, não conseguiria consolar alguém quebrado sendo que também estava assim.

Por horas ele ficou sentado num canto, sozinho e chorando por Jay enquanto seguia Magnus com os olhos e se corroía com todas as memórias que tinha perdido e agora invadiam sua mente.

Foram tantas lembranças maravilhosas, mas também havia um grande espaço em branco dos momentos que perdeu naqueles 5 anos que esteve longe.

- Oi. - Alguém disse, e Alec se assustou ao ver que era a mãe de Magnus parada na sua frente.

Ele levantou quase cambaleando daquela cadeira e tentou limpar as lágrimas, mas seus olhos ainda vermelhos e inchados o denunciavam.

- Eu lamento muito pelo Jay, senhora Bane. - Ele disse sinceramente, mesmo com a certeza de que acabaria sendo expulso dali, mas a mulher se ergueu na pontinha dos pés e o abraçou.

Alec ficou tão chocado que não reagiu por longos segundos, mas então a abraçou de volta e a ouviu sussurrar no seu ouvido.

"Obrigada por estar aqui. Ele precisa muito de você agora."

Com uma pontada de esperança Alec entendeu o que aquilo significava, mas não conseguiu responder nada pra ela porque ela já tinha se afastado, então ele ergueu o olhar e viu Magnus o encarando de volta, até virar o rosto como se estivesse envergonhado pelo flagra.

Se fosse em qualquer outra situação Alec teria sorrido, mas agora apenas reuniu coragem e foi até ele.

Magnus tinha aceitado sua mão naquele momento de maior fragilidade mais cedo, mas nada garantia que ele aceitaria de novo se Alec oferecesse.

Com passos lentos e o coração palpitando, Alec se aproximou de Magnus e viu que ele parecia travar algum tipo de batalha mental com a irmã, e Alec concluiu que ele estava perdendo.

Clarice o abraçou como se esperasse o tempo todo que Alec estivesse ali, mas Magnus continuou imóvel, olhando para todos os cantos que não cruzasse sua direção.

- Eu sei que não é o melhor momento... mas será que podemos conversar, Magnus?

- Sim! - Clarice respondeu por ele, e Magnus a fuzilou com os olhos. - Isso vai ter que acontecer mais cedo ou mais tarde, maninho. Então porque não acaba logo com isso?

- Eu posso esperar o tempo que você precisar. - Alec disse pra ele, mas foi como colocar o dedo direto na ferida.

- E você vai esperar aqui ou onde quer que você esteve nos últimos 5 anos?

- Magnus, você prometeu ser gentil.

- Aparentemente promessas aqui não valem de nada, Clarice.

Aquilo doeu como um tapa na cara, mas era até pouco para o que Alec merecia.

Com um olhar suplicante o moreno pediu em silêncio que Clarice os deixasse a sós, e como a boa amiga que era, apesar de tudo, ela saiu dando uma desculpa qualquer que nenhum dos dois prestou atenção.

Alec chegou a pensar que Magnus fosse se afastar também, mas ele continuou ali, finalmente erguendo a cabeça e o encarando nos olhos.

- Eu sinto muito. - Alec começou a dizer, mas se sentiu estúpido porque precisava fazer muito melhor do que isso por ter quebrado a confiança da pessoa que mais amou na vida.

- Você já disse isso, Alec. Mas sente muito pelo quê? Pelo Jay, por ter ido embora do nada e sem deixar nem mesmo a merda de um bilhete, ou por ter pisado no sentimento que tínhamos como se fosse um inseto?

"Tínhamos"

É claro que o sentimento dele havia mudado, talvez para puro ódio como seu tom de voz indicava, e Alec se sentiu estúpido mais uma vez por achar que havia alguma esperança de reconquistar aquela amizade.

- Você tem todo o direito de estar com raiva, Magnus.

- É lógico que eu tenho o direito, Alec. E é lógico que eu estou com raiva. O meu irmão morreu e você me abandonou sem qualquer explicação por 5 anos. Será que você estaria aqui se o Jay estivesse bem?

Alec ficou em silêncio por alguns instantes, e quando abriu a boca para responder, Magnus não parecia querer ouvir nada.

- Eu não consigo fazer isso agora, Alec. - Ele disse com uma súplica desesperada na voz que partiu o coração do moreno em milhares de pedacinhos. - Eu não consigo.

- Eu não vou te pressionar, Magnus. Mas eu também não vou embora sem você me dar uma chance de tentar consertar as coisas. Eu sei que não mereço, mas por favor... só me dê uma chance.

- Isso pode demorar.

- Não importa. Eu espero o tempo que você quiser porque o que nós tínhamos não é como um inseto.

Por um milésimo de segundo Alec quase viu a sombra de um sorrisinho, mas então Magnus balançou a cabeça e suspirou.

- Como eu te encontro? - Ele quis saber, mas em vez de dar uma resposta simples, Alec preferiu seguir seus instintos e por isso se aproximou dele lentamente, erguendo um pouquinho a barra do seu blazer e pegando o celular que sempre ficava no bolso frontal direito da sua calça.

Seu olhar ficou preso no dele o tempo todo, da forma mais intensa possível, e Alec conseguiu sentir aquela pontadinha de esperança outra vez quando Magnus entreabriu os lábios numa respiração afetada.

Foi difícil quebrar aquele clima inegável para anotar seu número no celular dele, mas se Magnus precisava de tempo, era o que Alec daria.

All the MemoriesWhere stories live. Discover now