14 anos (O Alec foi embora)

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- Como assim o Alec foi embora? - Clarice gritou pela segunda vez, andando de um lado pro outro sem acreditar no que tinha ouvido, e Jay se encolheu no sofá.

Magnus tinha voltado pra casa e simplesmente se sentou no chão da sala, abraçando as próprias pernas e encarando o nada depois de dizer aquelas únicas e dolorosas palavras.

"O Alec foi embora"

- Nós entramos pela janela e o quarto dele estava vazio. - Jay explicou pra irmã. - Não tinha nem cama, e o resto da casa também estava vazia. Será que eles foram assaltados?

- Eles foram embora. - Magnus repetiu sem qualquer emoção na voz. Simplesmente não sentia nada, como se a vida tivesse perdido completamente o sentido. - O Alec nos abandonou e você nunca mais vai vê-lo. Nenhum de nós vai.

- É mentira! - O garotinho gritou nervoso e começou a chorar. - Você é um mentiroso Magnus. O Alec nos ama e nunca vai nos abandonar.

- Eu não ficaria esperando acordado se fosse você.

- Magnus! - Clarice o repreendeu enquanto abraçava o caçulinha. - Não fale assim com ele. Isso tudo deve ter uma explicação.

- Então me diga qual é a explicação pra ele ter parado de atender minhas ligações, responder minhas mensagens e ter saído da escola. Vamos, Clarice! Me diga qual é a explicação pra não ter absolutamente mais nada na casa dele, nem mesmo a merda de um bilhete.

Clarice ficou um completo silencio por uma eternidade, e Magnus soltou uma risada sem emoção antes de levantar.

- Foi o que eu pensei. Está mais do que óbvio que ele foi embora, então aceitem logo e se acostumem com isso.

Magnus estava a ponto de chorar tanto quanto o irmãozinho, mas se recusava a derramar uma lágrima sequer, então correu pro quarto e se jogou na cama, encarando o teto e rezando em vão pra tudo isso ser apenas um pesadelo horrível.

Durante horas Magnus ficou pensando nos últimos dias que teve com Alec, quando eles ainda eram um casal feliz, mesmo que em segredo.

- Eu te amo. - Alec dizia sempre que tinha uma oportunidade, e Magnus acreditou nele em todas às vezes.

Acreditou de corpo e alma, então talvez tivesse mesmo uma explicação para seu sumiço repentino.

Talvez ele não tivesse outra escolha se não partir.

- Magnus? - Uma voz o chamou, e ele demorou um longo momento para perceber que os irmãos estavam na porta de seu quarto. - Podemos entrar?

Com um suspiro ele assentiu e continuou imóvel no meio da cama, deixando espaço suficiente para eles deitarem um de cada lado.

Ainda era dia quando se acomodou ali, mas ao olhar brevemente pela janela percebeu que a lua já brilhava alto no céu.

Jay parecia ansioso no seu lado esquerdo, como se temesse uma nova discussão, mas Magnus segurou sua mãozinha e apertou.

- Me desculpe, Jay. Eu não queria ter falado com você daquele jeito.

- Me desculpe também por ter gritado e te chamado de mentiroso. Eu só queria pensar positivo pra que você não ficasse triste.

Magnus suspirou de novo e olhou pra ele, sentindo uma conexão tão forte que pareciam estar conversando mentalmente, mas logo Clarice falou o óbvio e atraiu sua atenção.

- Parece que eles foram mesmo embora, maninho. E eu sinto muito.

- O que te fez ter certeza?

- Eu tentei falar com a mamãe, mas ela apenas olhou pro papai antes de se trancar no quarto.

- Então a culpa é dele. - Magnus concluiu sem precisar de muito mais. - Os Lightwood foram embora por causa dele.

- Parece que o papai e Robert tiveram uma briga bem feia, dizendo que você e o Alec estavam levando um ao outro pro mau caminho.

- Mau caminho quer dizer uma floresta assombrada? - Jay perguntou, e Magnus teria rido se não estivesse com tanta raiva do pai.

Ele sempre foi muito rígido, principalmente quando os dois garotos se encontravam, mas Magnus jamais imaginou que as coisas chegassem nesse ponto.

- Não, Jay. - Clarice explicou suavemente. - Nesse caso o mau caminho quer dizer que o Magnus e o Alec estavam cometendo um pecado. Nosso pai e o Robert achavam que eles eram namorados.

- Mas ser namorado é amar, e amar não é pecado. - O menino observou. - Você tem um namorado, não tem?

- O Henry não é exatamente meu namorado, mas vamos usá-lo como exemplo. Acontece que eu sou uma menina e ele é um menino. No caso do Magnus e o Alec, eles são dois meninos, e pessoas preconceituosas não aceitam que dois meninos namorem.

Jay ficou quietinho tentando processar todas as informações até que bufou.

- Eu não gosto de pessoas preconceituosas, e acho que nosso pai e o pai do Alec estão muito errados em serem assim.

- Eu concordo maninho, mas o importante agora é... - Clarice se sentou na cama e encarou o irmão do meio, que já tinha levantado também. - Isso é verdade, Mags? Você e o Alec namoravam?

Magnus olhou pras próprias mãos e derramou uma lágrima teimosa que lutou muito para segurar.

Queria tanto dizer que sim, mas não queria dizer no verbo passado.

- Isso não importa mais, Blink.

- Ai meu Deus! - Clarice deu um gritinho. - Eu sabia que vocês se tratavam diferente, mas nunca imaginei que fosse real mesmo.

- Eu já sabia. - Jay comentou, e Magnus olhou pra ele tão rápido que quase ficou tonto.

- Você sabia?

- Sim! Eu vi vocês dois se beijando uma vez e sei que se amam muito.

- Mas você tem só 7 anos. - Clarice observou totalmente pasma. - Como pode saber dessas coisas?

- Eu sou inteligente, ué.

- Então, senhor inteligente, diga o que podemos fazer pro nosso irmão não ficar triste?

- Podemos espalhar cartazes com a foto do Alec e oferecer uma recompensa pra quem encontrá-lo e devolvê-lo pra nós.

- Não é assim tão simples, amigão.

- Claro que é! Lembram quando aqueles ratinhos levaram o Stuart Little embora e os pais humanos dele espalharam um monte de cartazes com a foto dele oferecendo uma recompensa? É a mesma coisa.

- Não é... - Clarice começou a dizer, mas Magnus a interrompeu quando abraçou o caçulinha com força.

Jay estava sendo toda a esperança que ele precisava naquele momento para não sucumbir ao desespero.

- Você é mesmo incrível, Jayjay. E eu prometo que não ficarei triste se vocês dois também prometerem esperar comigo até o Alec voltar.

- Então você acha mesmo que ele vai voltar?

- Meu coração diz que sim e eu vou escutar. Ele jurou que sempre seríamos o Quarteto Fantástico, então eu sei que ele vai voltar pra nós assim que puder.

- Se é assim, eu prometo que esperarei com você, maninho. - Clarice disse, e logo em seguida foi a vez de Jay, com seu jeitinho infantil e totalmente adorável.

- Eu também prometo esperar, assim como prometo sempre apoiar o namoro de vocês.

All the MemoriesWhere stories live. Discover now