Capítulo 16 - Questões sobre o amor carnal

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Capítulo 16

Questões sobre o amor carnal

Depois do dia em que Wei esteve no Recanto das Nuvens, Lan Zhan passou a lhe responder as mensagens em tempo aceitável, o que fez o patriarca entender que no período anterior ele tinha mais tempo do que admitia, só o mantinha sem notícias porque estava magoado demais.

Com essa conciliação o Lan também conseguiu mais tempo para passar com o amigo. Em geral ele ia para o extremo leste. Nesses encontros eles vasculharam o entorno da casa de Wei, escalavam grandes paredões de pedra em busca do pôr do sol perfeito, aprendiam juntos novas músicas, jogavam, discutiam leituras ou somente ficavam conversando sobre trivialidades por horas.

Aos poucos, Lan Zhan se tornava menos reservado. Quando ele riu abertamente de um comentário, o patriarca soube que o amigo havia conseguido compactar as dores do passado e empurrá-las para o fundo de seu ser, onde ficariam para sempre. Wei também tinha mágoas e culpas afundadas no mar de seu espírito, inclusive a de uma carta que ele nunca escreveu.

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Numa noite, Wei se dirigiu ao Pavilhão de Bambu sem avisar. Queria contar para o Lan uma recente invenção sua, mais do que isso queria estar perto do amigo. Às luzes acesas e a porta aberta, indicavam que o Lan estava em casa, riu satisfeito. Sem cerimônia, entrou sem se anunciar. Lan Zhan estava com uma roupa muito casual o que o assustou.

-O que foi? - perguntou o Lan ao ver que o amigo virava o rosto.

- Lan Zhan, desculpa ter vindo sem avisar.

- Não há problema, alguma coisa errada?

Wei virou-se para o Lan.

- Que roupa é essa, Lan Zhan? - perguntou, tentando não olhar diretamente para o amigo.

- A seita Lan exige que a roupa de dormir seja decente, o suficiente, para que se for necessário receber alguém à noite não haja constrangimento.

O Lan que aparecia naquela roupa era uma figura suave e de aparência frágil e Wei pensou: "Como pode alguém ser tão delicado e forte, tão elegante e impetuoso ao mesmo tempo."

Lan Zhan colocou uma chaleira de chá sobre a mesa e indicou que Wei sentasse à sua frente.

- Eu não achei essa roupa composta, ela me parece pouco decente - observou Wei, um pouco azedo.

- Wei Yin, eu estou de calça e blusa manga longa, a gola se fecha no pescoço, como manda a regra, praticamente só as minhas mãos ficam de fora, como pode ser indecente.

- Hum! Verdade, talvez seja o tecido muito fino.

- Esse tecido foi aprovado pelos mestres lans mais rigorosos, apesar de ser macio e confortável é firme e discreto. Dormir deve ser um prazer, um espaço de descanso. Assim, quando se aproxima a hora do sono deve-se vestir de maneira confortável e desacelerar o corpo.

Wei mal ouviu a teoria sobre os elementos necessários para um boa noite de sono, somente uma coisa o incomodava.

- Lan Zhan, quem viria ao quarto de um cultivador Lan à noite? - perguntou inquieto.

- No caso dos menos graduados eles podem receber a visita de seus inspetores, no meu caso um mensageiro ou alguém graduado que deseje conversar de forma discreta.

- E você os recebe assim? - agitou-se ainda mais o patriarca.

Lan Zhan colocou a sua mão sobre a do amigo e com olhos calmos pediu:

- Wei Yin, não fique tão agitado.

"Por que a mão de Lan Zhan tem que ser a mão de Lan Zhan" - pensou aflito. - "Macia morna e envolvente" - repreendeu-se por esse pensamento e retirou a mão de forma desajeitada.

O Grande Mestre do Cultivo DemoníacoOnde histórias criam vida. Descubra agora