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Eevy

O passado é importante, ele nos diz muito sobre quem nos tornamos e o porquê, comigo não foi diferente, tudo começou no meu aniversário de quinze anos, todos estavam animados porque eu iria encontrar meu companheiro, eu era o xodó da alcatéia, era a filha mais nova do Beta e o Alfa não tinha tido nenhuma menina, então era amada e mimada por todos, meu pai fez uma grande festa e quando a noite chegou todos da alcatéia estavam presentes, faltando alguns minutos para as dez da noite, me colocaram no meio da multidão, o relógio começou a badalar, mas eu não senti nada, quando ele deu a décima badalada, eu não senti nenhum cheiro, não senti nada me puxando para meu companheiro, ele simplesmente não estava ali ou eu não podia me conectar com ele, me lembro da cara que os mais antigos fizeram, eles olhavam para mim com completo pavor.

Nos dias seguintes as coisas começaram a mudar, as pessoas me olhavam com nojo quando eu andava na rua e isso me incomodava muito, então meu aniversário de dezesseis anos chegou, meu pai me fez andar a alcateia toda atrás do meu companheiro, mas novamente ele não estava presente, me lembro de chorar a noite toda por isso, as pessoas da alcatéia mudaram e não permitiam mais que suas crianças se aproximassem de mim, os jovens também nao podiam nem conversar comigo, então fiquei na minha, ia para escola, fazia tudo sozinha sempre e voltava direto para casa.

Quando meu aniversário de dezessete anos chegou eu já não tinha nenhuma esperança, mas meu pai tinha e ele me obrigou a procurar meu companheiro durante o dia todo e a noite vi ele quebrando seu escritório todo, ele estava muito irritado e não sabia que eu estava olhando por uma fresta da porta que estava aberta, vi meu pai descarregar toda sua raiva sobre a mobília, ele gritava e xingava meu companheiro por ele não ter aparecido, por eu estar sozinha quando já deveria estar com minha alma gêmea, vi o desgosto nos olhos dele e chorei por ser uma vergonha para ele, mas foi a última vez, nunca mais chorei depois disso.

Com dezessete anos ninguém queria se aproximar de mim e sempre que eu passava as pessoas ficavam cochichando, foi um inferno ate meu aniversário de dezoito anos, meu pai tinha certeza que eu o encontraria então fez uma festa maior que a primeira e a noite todos viram que nada aconteceu novamente, as pessoas foram embora falando que eu era amaldiçoada pela Deusa da lua e até eu estava acreditando nisso, eu não conversava com minha loba a anos e eu mal me transformava.

Quando saia na rua todos me olhanvam com raiva e nojo, então me tranquei em casa, nos três meses seguintes, fiquei no meu quarto, passava dias sem ver meu pai ou meu irmão, mas então chegou o dia da passagem do posto de alfa, as pessoas da alcatéia estavam convencidas que eu era a companheira de Gustavo, não seria ruim, antes disso tudo eu até gostava dele, meu pai me fez me arrumar e ir a festa, quando eu cheguei Gustavo me recebeu sorridente e beijou minha mão, ele parecia tão feliz e apaixonado, que me senti abençoada, mas assim que o posto de alfa foi passado para Gustavo tudo mudou, ele não veio até mim, eu não senti nenhuma ligação, Gustavo foi até Meredidy, ela era mais nova que eu, tinha dezesseis anos na época, aposto que as pessoas olhavam feio para ela também, lembro que Gustavo declarou Maredidy como companheira e todos olharam para mim, a esperança deles em mim tinha morrido, Gustavo subiu no palco e me olhou com a mais pura raiva e rancor, como se eu fosse culpada por não sermos companheiros e ele começou seu discurso, ele disse que eu era uma vergonha, que ninguém deveria se aproximar de mim, que eu era uma maldição e por isso que minha mãe morreu um ano depois do meu nascimento, por que a criança amaldiçoada que saiu de entro dela, fez ela morrer e então Gustavo me tornou uma ômega, ele me expulsou da alcatéia.

Eu corri para casa, troquei de roupa e peguei o carro de Leo, fui com ele até outra cidade e comprei uma passagem de ônibus para NY, eu não tinha nada, dinheiro, roupas, uma alcatéia, aí estava sozinha em uma cidade enorme, passei quadro semanas na rua, morrendo de fome e frio, dormindo no chão, até que uma mulher me ofereceu ajuda, o nome dela era Claudia, ela me levou para casa dela, me deu comida e uma cama para dormir, passei algumas semanas com ela, até ela me arrumar um emprego no hospital onde ela trabalhava, comecei como faxineira, mas depois de um tempo me promoveram a recepcionista, eu ficava no balcão e ganhava um pouco mais, resolvi que queria ser médica então arrumei outro emprego em uma loja de utilidades e comecei a estudar, entrei para a faculdade e comecei a batalhar, eu trabalava em dois empregos, fazia faculdade e pagava um pequeno lugar onde eu morava, eu custei muito, mas quando me formei era muito boa no que fazia, comecei a trabalhar no hospital e conheci Ruy, eu lutava muito bem desde sempre então decidi que podia fazer disso um extra, e fora que eu podia descarregar minha raiva, fiz o teste para trabalhar na empresa das meninas e passei, me tornei a melhor funcionaria deles e assim passei a ganhar mais dinheiro, me mudei para um lugar mais luxuoso e comprei todos os carros que eu queria, hoje tenho seis caros na garagem e tenho muito dinheiro, fora que um amigo do meu pai ajudou a me fazer parte de outra alcateia, deixei de ser uma ômega, quase nunca vou a alcateia, mas eles nem ligam, eles só não queriam que eu fosse injustiçada, agradeço muito a eles.

Mas vamos esquecer o passado e vamos ao que importa, o presente.

Hoje o dia está até que calmo no hospital, isso é bom, são oito da manhã e meu único paciente teve apenas uma intoxicação alimentar leve, deixei ele de observação só para garantir, mas ele está bem.

Passei a noite sentindo um incômodo irritante no peito e agora essa porcaria já se tornou uma dor irritantemente forte.

- O que você tem? - Ruy pergunta me analisando.

- Não faço ideia, só estou sentindo uma dor forte no peito. - digo me escorando  na parede.

Infarto não é, dor de rejeição também não, não faço ideia do que é.

A dor fica mais forte e gemo de dor antes de sentir como se a vida saísse do meu corpo, pisco é quando vejo estou no chão, pisco mais uma vez, mas dessa vez a escuridão me leva.

Poistetaan (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora