Capítulo 12

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Depois da segunda discussão Laura não falou mais nada. E Michael tampouco se incomodou. Finalmente se concentrou mais na estrada que em Laura. O caminho da serra era deslumbrante, com uma vegetação densa em ambos os lados que a estrada cortava. O cheiro de natureza invadia o carro junto com a fria brisa que entrava pela janela. Chegando a cidade, a satisfação foi quase a mesma, fazia tempo que não entrava em contato com outra realidade que não fosse o internato.

E por incrível que pareça, sentia um pouco de falta os privilégios urbanos, o movimento, o comércio, mas principalmente o entretenimento. Afinal de contas, era muito fácil para ele conseguir entretenimento na cidade, beleza e arrogância era uma combinação que estava em alta e ele tinha isso de sobra.

Faltava pouco para chegarem, e Laura ainda não tinha voltado a falar. Às vezes ele até esquecia que ela estava ali, de tão imerso que estava em seus próprios pensamentos, mas apenas bastava ela mudar o ritmo da sua respiração para ele voltar a ficar completamente consciente da presença dela ao seu lado.

Quando finalmente chegaram ao destino ele estacionou e torceu para que ela não começasse a reclamar quando se desse conta de que eles não estavam no hospital e , numa grande loja de materiais de construção.

- Vamos primeiro comprar o material que preciso para os decks e balcões do jardim, você vai me ajudar.

Mal ele terminou de falar e ela saiu disparada em direção a loja. Ainda em silencio. Já estava ficando chato.

A loja era enorme, maior do que Laura pudera um dia imaginar que existisse, estava tentando gravar cada detalhe sem que Michael notasse o quanto ela estava maravilhada. Deveriam caber uns quatro internatos ali dentro. Mal chegaram e uma moça muito bonita veio atendê-los. Provavelmente já conhecia Michael, pelo jeito que sorriu para ele dava para perceber. Enquanto ele mostrava a lista de materiais, a moça o olhava com um olhar muito esquisito, que deixava implícito que tinha um pecado. Será possível pecar com os olhos?!

Laura não gostou disso, não gostou mesmo, Michael não era um pedaço de carne, era um homem. Um homem implicante e grosseiro, mas ainda sim um homem e não uma alcatra.

O corre-corre que se formou a frente deles fez com que ela deixasse para lá os pensamentos por alguns momentos. Eram muitos homens vindo e indo com muitas coisas na mão e depositando todas elas no balcão branco e enorme que estava ao lado deles. Madeiras, vergalhões, sacos de cimento e mais mil e uma coisas que ela nem se atrevia a tentar descobrir como se chamavam.

Enquanto tudo acontecia em uma velocidade estratosférica a sua frente, a moça bonita que era a atendente conversava tranquilamente com Mike, e ele, muito sacana, entrando na conversa dela. Claro que sem perder a atenção no que chegava ao balcão e conferindo com a lista, mas ainda assim conversando com a pecadora! Isso fazia dele também um pecador, ainda maior do que quando ele insultou o seu vestido de sair.

Laura não entendia porque aquela cena fazia sua raiva entrar em ebulição, mas continuou a se conservar calada. Saíram da loja com um grande carregamento na traseira da pick-up.

- Vou levar o mais urgente com a gente, o resto vai no caminhão da empresa. Vai demorar dois ou três dias. Mas não se preocupe, ainda tem espaço para você na caçamba – explicou Michael. Para o vento.

Já bastava, ele tinha cansado desse joguinho de Laura. Mas infelizmente se deu conta que estava jogando com alguém muito mais sábio em jogos que ele: uma criança. Uma bonita e mal vestida criança, mas ainda assim...

Chegaram ao hospital e Mike perguntou onde estava o quarto da senhora Linton. E já com o numero anotado, se dirigiram ao quinto andar andando lado a lado imersos num profundo silêncio. Até que chegaram à frente da porta do quarto.

AgridoceWhere stories live. Discover now