Capítulo 13

4.9K 757 56
                                    

Laura estava quase chegando à porta quando algo mais uma vez a fez parar. Um barulho estranho começou a zunir no quarto, algo muito alto. O que era um pequeno ‘pi-pi-pi-pi’ quando ela entrou no quarto e durante todo o tempo que esteve conversando com sua avó se tornou em um estrondoso ‘PIIIIIIIIIII’.

Levou alguns segundos até constatar que o barulho vinha de um dos aparelhos que estavam conectados a sua avó. Mas com toda sua ignorância não conseguia nem ao menos distinguir se aquilo era bom ou ruim. Só podia estar certa de alguma coisa, se aquele negócio acordasse sua avó do cochilo, aí sim seria um problema.

Por isso Laura, optou rapidamente por apertar a campanhinha que ficava no lado direito do leito. E enquanto esperava alguém vir ajudá-la, andava de um lado para o outro no quarto, nervosa sem saber o que fazer. Podia ser só o barulho que era alto demais, mas seu coração batia tão rapidamente e sentia uma angustia tão grande que pensou que ia desmaiar a qualquer momento.

Quando finalmente entrou uma manada de médicos e enfermeiros, Laura tentou avidamente entender o que estava acontecendo. Mas sem muito sucesso, eram muitos falando ao mesmo e tempo e fazendo muitas coisas diferentes. E sua avó permanecia ali, calma e adormecida, no meio de toda a confusão, aquilo era estranho.

Tentou se aproximar para conseguir alguma informação, mas um dos enfermeiros a segurou pela cintura, e a pediu para manter a calma. Impossível. Porém, Laura nem ao menos teve tempo para protestar quando se deu conta já estava quase cruzando o portal do quarto. Sua última tentativa de se libertar do braço do enfermeiro foi pontuada com:

- Não há nada mais que possa ser feito.

Bam.

A porta foi fechada em seu nariz.

***

Era a terceira ida ao café que Michael tinha feito essa tarde, não que estivesse precisamente com sono, mas precisava passar o tempo. Laura estava há horas naquele quarto, o que de fato era bom, provavelmente estava se dando bem com a avó, isso era ótimo, e ele sinceramente se alegrava com isso.

Mas estava incomodado, como sempre, consigo mesmo. E com Laura. Sim, estava bastante incomodado com Laura. Ela o fazia sentir coisas que ele não estava acostumado, que ele nem ao menos sabia que existia. Como por exemplo, agora, estava se sentindo culpado por ter ridicularizado o vestido ridículo dela.

Ora veja, agora Michael se preocupava com assuntos idiotas como: roupa de mulher. Fez uma longa reflexão sobre como Laura não poderia ter feito algo melhor que aquilo, que  provavelmente passou toda a vida absorvendo a visão de moda (ou a falta dela) das freiras, que era natural que ela não soubesse que existia algo melhor que aquilo....

Mas não era o tipo da coisa que ele queria pensar, era só pedir desculpas e só. E talvez ela já tivesse saído do quarto, seria melhor ele parar de ponderações e agir logo, afinal de contas, estava cansado e queria voltar para casa, que na verdade era o colégio, mas que ele já se sentia como se estivesse em casa. Coisa estranha...

Já que estava na cafeteria, resolveu comprar um suco de uva para Laura, talvez aquilo ajudasse dissipar os aborrecimentos dela para com ele. Chegando ao corredor, viu de longe a silhueta de Laura em frente à porta do quarto, aligeirou o passo e chegando perto notou que Laura não tinha se mexido nem um milímetro. Que menina estranha...

- Laura?

Ela se virou imediatamente, como se tivesse levado um susto e no momento seguinte já estava correndo em direção a ele e jogando os braços em volta do seu pescoço. Até ele perceber que ela estava abraçando-o levou um tempo. E mesmo se entender nada, tentou retribuir o que estava acontecendo ali, mas ficou tão atarantado com as repentinas mudanças de humor de Laura que em um movimento desajeitado acabou derrubando todo o suco de uva nela.

- Perdão, eu te molhei toda – era incrível, como ele se tornava um completo idiota perto dela, parecia um menino. Ainda mais novo que ela.

- Deixa, isso não importa – disse Laura como se os 500ml de liquido gelado que caiu nela nunca nem tivesse existido. A única reação dela foi apertar ainda mais os braços em volta dele.

Por fim, Mike a abraçou também, largando o copo vazio em qualquer lugar. Laura o abraçava tão forte que ele mal conseguia respirar... Não que ele não estivesse gostando, mas ela estava rígida. Algo deveria ter acontecido, ela quase não respirava também.

- Laura, sua avó está bem?

Sentiu a negação dela em seu ombro.

-Você quer me contar o que houve?

Ela se afastou um pouco para poder olhá-lo

- Eu não sei o que aconteceu. De repente entrou vários médicos e enfermeiros. Um me tirou do quarto e eu só pude ouvir umas coisas que eu não sei o que pode significar e eu tentei bater na porta, mas ninguém me atendeu e não sei o que fazer, não sei o que... – Laura falava rápido passando uma palavra pro cima da outra e ofegava como se tivesse corrido uma maratona.

E só parou de falar quando sentiu o dedo de Mike sobre sua boca a silenciando.

Olhou-o com olhos desesperados. Azuis e cheio de lágrimas, e elas começaram a rolar pelo seu rosto.

Mike sentia seus lábios tremerem  embaixo do seu dedo, as lágrimas corriam grossas pelas bochechas. Ele não tinha a mínima ideia do que fazer. Pedir pra ela parar de chorar só pioraria as coisas, puxou-a para mais perto de si para abraçá-la novamente, mas ela continuava ali olhando pra ele... Como se ele pudesse salvá-la de algo. Seus olhos só mostravam desespero, e sua boca continuava tremendo. E não era de frio, talvez fosse de medo. Então Mike mudou de idéia, na mesma hora em que ela resolveu falar bem baixinho:

- O que eu faço, Mike?

- Só fecha os olhos – disse ele ao mesmo tempo em que a segurou pelos ombros.

Enquanto eliminava a curta distância que ainda havia entre eles, Michael pensou no quanto aquilo era errado, no quanto de problema podia ser gerado depois, mas como nada disso era comparado ao tamanho da necessidade que ele sentia de fazer os lábios de Laura pararem de tremer.

Quando a boca dele tocou a dela, ela instintivamente abriu os olhos, queria ter certeza de que era aquilo mesmo que estava acontecendo. Quando encontrou os olhos dele, resolveu que era melhor voltar a fechá-los.

Mike sabia que aquele era o primeiro beijo dela, mas ela estava se saindo bem, após o susto inicial. Ela pressionou os lábios contra os deles e tentou acompanhar seus movimentos, a boca dela era tão doce quanto ela, e Michael se viu obrigado a se separar dela antes que acabasse se viciando. 

AgridoceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora