Capítulo 17

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Laura mal tinha se ajeitado no limitado espaço que lhe foi concedido quando ele foi tomado por diversas e pesadas placas de madeira, mas não se importava em estar sendo esmagada. O que de verdade a incomodava era as diversas dúvidas que flutuavam em sua cabeça, porque o que acontecia era o seguinte: em toda a sua vida ouvira que as relações sexuais eram destinadas a marido e mulher. Somente após o casamento! Quando um homem e uma mulher se casam perante Deus e aquilo era para sempre, até que a morte os separasse.  Será que depois de tantos anos de reclusão Deus resolveu mudar as regras?!

Provavelmente não, pois ela seria uma das primeiras a ficar sabendo. Ia à missa esporadicamente, e prestava muita atenção, pois Deus e as palavras do padre era um dos poucos confortos emocionais que ela podia sentir. Além disso, sabia que era desobediente muitas vezes e tinha medo de ir para o inferno, assim, sempre que ia a missa se confessava e pedia ao padre conselhos para poder desfazer as confusões que criava. Embora nunca pedisse para parar de criar confusões.

Sabia que havia meninas que faziam sexo antes do casamento, com seus namorados. Mesmo em seu colégio existiam meninas assim, e muitas delas contavam os detalhes à noite quando o dormitório era fechado. Todas tomavam muitíssimo cuidado para não serem ouvidas por nenhuma das freiras vigilantes, sabiam que se isso chegasse ao ouvido da Madre enfrentariam grandes problemas. Mas ainda assim, não deixavam de fazer essas coisas com os namorados. E, principalmente, não deixavam de contar suas maravilhosas experiências.

Não a perturbava tanto saber que suas colegas de classe faziam esse tipo de coisa, sabia que elas eram pecadoras e que esse não era o único pecado que elas cometiam. Mas com Michael a coisa mudava de figura. Se Laura tivesse que mandar uma lista de convidados para o céu, com os principais merecedores do paraíso, Michael seria o segundo da lista. Só ultrapassado por sua avó, que a esses momentos já deveria estar por lá, pensou Laura com um suspiro.

Especialmente depois de tudo isso que ele fez por ela hoje, Laura estava certa que ele era o melhor homem que ela já conhecera. Apesar de suas diferenças e apesar de só conhecer uma dúzia de homens, quando muito. Ele era o melhor, e não podia acreditar que ele sucumbia aos prazeres da carne sem o laço do sagrado matrimonio, e que havia desfeito esse mesmo laço.

Será que isso era realmente tão normal quanto parecia?! Laura sentiu como se estivesse sendo iluminada pelo grande holofote da realidade. Se as meninas do colégio faziam, os namorados delas faziam e Michael fazia, deveria ser por alguma razão. Queria saber que razão era essa. Era nessas horas que sentia falta de uma amiga, ou de uma mãe, para perguntar esse tipo de coisa embaraçosa sem constrangimentos. Que bom que agora tinha um amigo, iria perguntar a ele.

***

Michael passou a dirigir mais cautelosamente depois do primeiro tranco, conseguiu passar pela segurança sem nenhum problema, já estava tarde e os homens sonolentos, só revistaram o interior da cabine dupla por desencargo de consciência.

Após completar essa missão, Michael relaxou ao volante, o que foi um erro, pois um buraco passou despercebido e provocou um grande estrondo das cargas na caçamba. Aquilo lhe partiu o coração, porque se Laura escapou do primeiro desmoronamento de material desse segundo com certeza não saiu imune.

Estacionou a caçamba na direção do jardim que estava escuro e rapidamente foi até a traseira acudir Laura que estranhamente ainda não fazia nenhum som. Por um breve momento temeu que ela estivesse desmaiada, mas tão logo quanto abriu a caçamba viu as placas de madeira se mexendo impacientemente com Laura tentando sair.

Com a ajuda de Michael foi mil vezes mais fácil remover aquelas pesadas placas, Laura reconheceu. O último rebuliço causado por elas ainda lhe causava dor, mas quando Michael passou os dedos levemente por sua testa, esqueceu quase que por completo da dor.

- Você é uma daquelas meninas histéricas com sangue? – disse Michael olhando sério para ela, enquanto seus dedos da testa foram para bochecha. Aonde quer que eles tocasse fazia Laura sentir ondas de arrepio.

- O que você acha? – perguntou Laura bem-humorada.

- Acho que nós dois conhecemos bem sua histeria – disse ele apertando seu nariz enquanto chegava mais perto.

- Mas o senhor se engana, para sangue eu não tenho, estou acostumada, tenho muitas cicatrizes, pode ver – disse Laura levantando a perna esquerda na altura da cintura de Michael. Fazia isso com uma inocência de uma criança mostrando o sapato novo. Mas isso não impediu Michael de pensar no movimento com uma coisa mais... Digamos, adulta.

Sua mão firme envolveu o tornozelo de Laura e o empurrou para baixo, voltando sua perna para a posição anterior, pendurada na borda da caçamba.

- Então terá mais uma em breve – concluiu Michael sorrindo para o corte na lateral direita da testa de Laura, onde um pequeno filete de sangue corria lentamente.

Laura instintivamente levou a mão até a ardência que sentia no rosto, mas no meio do caminho sua mão foi detida pela de Michael que a ajudou a descer da caminhonete, e a puxava entre os corredores escuros do colégio, andando rápido e silenciosamente. Fazendo casualmente sinais para que ela ficasse quieta.

Chegaram a uma grande porta em que Michael parou abriu com a chave e a conduziu para dentro.

- Posso perguntar agora? – falava Laura em voz baixa enquanto ele trancava o aposento.

- Antes de mais nada preciso limpar seu machucado – disse Michael enquanto a fazia se sentar na borda da cama.

Em outros tempos, Laura reclamaria, acharia ousado da parte dele levá-la para o seu quarto, era ofensivo para ela ser considerada incapaz de cuidar de um pequeno corte. Mas agora, estava em um bonito e confortável quarto com apenas uma cama, um quarto azul, aconchegante e quente que tinha uma bela vista para as frias montanhas. Estava no quarto de Michael, e ainda precisava de algumas respostas dele.

Enquanto Mike estava no banheiro remexendo em seus medicamentos, Laura se viu com um pouco de tempo para pensar em uma boa desculpa para que pudesse ficar ali mais tempo que o necessário. Já tinha o motivo principal cravado em sua testa, só precisava enfeitá-lo.

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Estou tentando manter um ritmo contante de postagens aqui, espero que alguém esteja: 
1) lendo
2) gostando. 

Tomara!

AgridoceWhere stories live. Discover now