Capítulo 14

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- Não – foi o único que Laura disse antes de voltar a colocar os lábios sobre os dele. Ela não sabia o que estava fazendo, mas Mike sabia: estava enlouquecendo-o.

Seus hormônios, sua corrente sanguínea e principalmente seu coração, estavam correndo velozmente e espalhando sensações por todo seu corpo. Michael decidiu ir devagar com Laura, passou a língua lentamente sobre o lábio dela, sentiu ela rindo junto a sua boca, e no momento seguinte ela estava repetindo o que ele acabara de fazer.

Um click na porta ao lado deles foi o suficiente para os dois se separarem bruscamente. O homem que saiu da sala deveria ser o médico. Era alto e grisalho, tinha o porte de um segurança, não de um médico. Mas falava tão sério que Laura mesmo sem perceber se reaproximou de Michael em busca de proteção

- Algum de vocês é familiar da senhora Helena Linton?

- Sou neta dela – disse Laura tão baixo que quase não se ouviu.

- Sinto muito, fizemos o que estava em nosso alcance, mas ainda assim não pudemos salvá-la.

Laura sentiu como se o mundo estivesse despencando bem a sua frente. Desde que saiu do quarto tratou de se convencer que tudo sairia bem, mas seus esforços de pensamentos positivos de nada adiantaram. Deveria ter passado uns longos segundos sem ter nenhuma reação, pois ouviu de longe a voz de Mike conversando com o médico. Isso já não fazia muita  diferença, nada fazia diferença no final das contas.

- Os advogados da Senhora Linton já tomaram a frente dos assuntos burocráticos – foi o que Laura ouviu o médico dizer.

- Então, não temos mais nada a fazer aqui – concluiu Mike um pouco contrariado, segurando a Laura pela cintura e a guiando através do longo corredor.

Era uma sorte Laura ter alguém em quem segurar dessa vez, suas pernas estavam tão bambas que certamente não teriam forças para se segurar. Mas fora as pernas, nada no seu corpo parecia se mexer, ou reagir.

Chegando onde o carro estava, Michael ajudou Laura a se sentar. Ficou ainda um tempo olhando, observando-a  para ver o que ela ia fazer. Mas ela continuava estática, nem cogitou a possibilidade de resistir em lhe dar um beijo na testa. Ela estava fria como o mármore. Ele não sabia o que fazer, nem muito menos o que dizer. Talvez ninguém soubesse... Mas, ah, como ele queria fazer algo para reparar a tristeza daquela garotinha.

Enquanto Michael não tinha nenhuma ideia, se limitou a dirigir o mais rápido que pode. Quanto antes voltasse ao internato, melhor. Já era noite e deveria ser rápido se não quisesse chegar de madrugada. Mas infelizmente foi pego por um engarrafamento monstruoso na saída da cidade, que se tornaria ainda pior na subida da serra. 

No carro o silêncio era intenso, Laura passou toda uma hora e meia olhando para o longe, mas sem realmente ver nada. Mike observando aquilo, quase sentia que a dor dela doía nele. E isso era muito esquisito. Nem mesmo em seu casamento se lembrava de se sentir tão aflito pela mulher, talvez porque ela não lhe inspirava tantos sentimentos assim como ele pensava. Mesmo antes, quando pensava que estava bem casado com uma beldade internacional, e não com uma caça fortunas que em breve fugiria com o primeiro pé de chinelo que aparecesse levando quase todo o dinheiro de Michael, era capaz de sentir algo com uma magnitude proporcional ao que acontecia ali no carro.

O barulho infernal do trânsito com o silêncio assombroso do carro estava se tornando uma combinação agonizante, pelo menos para Michael. Ele sabia que deveria respeitar meditação de Laura, entretanto resolveu interrompê-la:

- Não vai demonstrar nenhuma reação ao que acabou de acontecer?

Ela se limitou a olhar para ele, mesmo na penumbra Mike podia sentir aquelas imensidões azuis mirando nele inexpressivamente. Enquanto negava com a cabeça.

AgridoceWhere stories live. Discover now