Prólogo

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O NAUFRÁGIO


Janeiro de 1630

Um raio atravessou o céu, iluminando o oceano naquela noite fria e tempestuosa. Ao longe, um galeão inglês lutava para se manter de pé, tentando seguir seu caminho em meio as ondas vorazes. Em seu convés, os marinheiros corriam de um lado para o outro, obedecendo às ordens do comandante para tirar o navio daquela tempestade.

— Levantem a vela mestra! — O capitão gritou, tentando controlar o leme.

A chuva forte fez com que alguns fios de cabelo ficassem grudados em seu rosto, dificultando a sua visão, mas ele não podia deixar que aquilo o atrapalhasse. Não em um momento tão crucial. A vida de todos os tripulantes do navio dependia dele. Aquele galeão estava transportando pessoas para as colônias americanas. Haviam mulheres e crianças a bordo, todos com uma vida inteira pela frente.

— Prendam tudo. Verifiquem se as cordas estão bem-amarradas. Rápido! — O homem ditava as ordens tão alto que sua voz se destacava em meio à chuva forte.

A madeira do convés estava encharcada e escorregadia, o que dificultava a movimentação dos marinheiros por ali. Não havia um homem ali que não temesse pelo pior.

Em uma das cabines, uma mulher inglesa observava o mar revolto pela pequena janela de madeira entalhada no casco do navio. Assim como os outros tripulantes, ela também estava temerosa, mas precisava ser forte e manter a calma para não deixar seu pequeno filho ainda mais assustado.

Margô se equilibrava perto da janela, para continuar observando a situação lá fora. Ela e seu filho, Tristan de apenas oito anos, estavam viajando para a colônia da Baía de Massachusetts, onde seu marido, um comandante da Marinha Britânica, havia estabelecido moradia permanente para trabalhar na região.

— Vai ficar tudo bem, Tristan. Em poucos dias já estaremos em terra firme, com o seu pai — Margô tentou tranquilizar o garoto, que a encarava assustado de cima da cama que havia na cabine.

— Mamãe, estou com medo. — Os olhinhos de Tristan estavam marejados e seus lábios se contorciam em um beiço de choro. O coração de Margô se apertou ao ver seu filho naquela situação, mas não havia nada que ela pudesse fazer, a não ser rezar para que aquela tormenta acabasse logo.

Enquanto o navio sacudia com as ondas que batiam em seu casco, Tristan se levantou e caminhou um pouco desengonçado até sua mãe.

— Mamãe... — O garoto soluçou e começou a chorar.

Shh... estou aqui, meu amor — Margô sussurrou, enquanto o abraçava. Ela também estava aterrorizada, mas não podia deixar o medo transparecer, precisava demonstrar confiança para que seu filho se sentisse mais seguro.

Lá fora, houve mais um estrondo. Tristan agarrou com força a saia do vestido de sua mãe e chorou ainda mais alto. Aflita, a mulher afagou os cabelos negros da criança enquanto pensava em seu marido, John Roswell. Ele é doce e gentil, diferente dos outros homens ao seu redor. Sempre se preocupava com a opinião de Margô sobre as coisas e não tomava nenhuma decisão sem que a consultasse primeiro. O casamento foi arranjado por seus pais, que eram amigos de longa data, mas ambos tiveram a sorte de se darem bem um com o outro, o que resultou em Tristan. O garoto é a mistura perfeita de Margô e John. Ele tem os olhos azuis da mãe e os cabelos negros do pai. Suas bochechas são grandes e rosadas, um sinal de que ele é um menino forte e saudável.

Outro raio iluminou o céu, desta vez, seguido por um estrondo que não era trovão. Segundos depois, o navio deu um solavanco repentino, levando Margô e o menino para o chão.

Desire: A Ilha Do Desejo - [Livro 1] - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now