Desire: A Ilha Do Desejo - [Livro 1] - DEGUSTAÇÃO

Capítulo 1

A VIAGEM

Mary

— Por favor, não me obrigue a fazer isso — pedi com a voz baixa, implorando mentalmente para que meu pai mudasse de ideia.

Ele queria que eu me casasse com o novo oficial da Marinha Britânica, William Johnson. Tudo foi combinado pelas minhas costas e meu pai sequer me consultou para saber o que eu pensava sobre o assunto. Agora, eu estou no porto de Southampton, sentindo o vento frio bater em meu rosto enquanto espero que o navio Saint Luzia esteja pronto para o embarque. Estou indo para Boston. Lá, eu me encontrarei com o meu noivo e seguiremos viagem até à sua residência em Jamestown, na Virgínia, onde acontecerá um jantar formal e marcaremos a data do nosso casamento. Nunca vi o sujeito pessoalmente, apenas conversamos por carta algumas vezes. William Johnson é vinte anos mais velho que eu, e pelo que pude notar em suas cartas, demonstra ser bastante controlador. Se eu me casar com ele, todos os bens da minha família, assim como a nossa propriedade, ficarão em sua posse caso aconteça algo comigo.

O clima no porto é frio, a brisa marítima sopra mais forte que o normal, a neblina do mar é densa. Por sorte, meu vestido azul de mangas compridas e saia de babado é volumoso o suficiente para aquecer o meu corpo em conjunto com o xale de pele cinza que descansa em meus ombros. Mas sem dúvidas, eu tinha escolhido um péssimo dia para prender o cabelo, o vento gélido está deixando meu pescoço dolorido e alguns cachos alaranjados que se soltaram do meu coque fazem cócegas em meu rosto. Meu pai se encontra ao meu lado, esperando pacientemente a hora de embarcar. Ele está usando seu tradicional uniforme do Exército Britânico; um casaco vermelho repleto de ornamentos dourados e algumas medalhas, calça bege, chapéu preto de três bicos e uma bota de couro marrom. É perceptível o quão orgulhoso ele fica sempre que veste essa roupa, afinal ele é um homem respeitado e conhecido por todas as autoridades da região.

Meu olhar se perdeu quando vi alguns marinheiros subirem a bordo do navio, carregando meu baú de roupas e o resto das minhas bagagens. Entre elas, o quadro da minha mãe que insisti em levar para a minha nova casa na América. Um pouco distraída, observei na pintura as semelhanças entre minha mãe e eu. Temos o mesmo cabelo ruivo encaracolado, sardas no nariz e olhos verde-oliva. A única coisa que nos diferenciava era os nossos corpos. Minha mãe possuía um quadril avantajado e seios tão grandes que mal cabiam nos espartilhos que ela usava. Eu, por outro lado, tenho uma estatura esguia e meus seios são tão pequenos que nem o espartilho mais apertado consegue dar destaque a eles — o que é bom, já que eu adoro usar vestidos elaborados, com várias de cores e detalhes e não ter seios fartos facilita o processo. As roupas são muito cansativas e difíceis de usar, mas tão bonitas que o esforço para vesti-las vale a pena.

— Não consigo entender o porquê insiste em levar esse quadro para sua nova residência — meu pai, comentou enquanto observa a pintura nas mãos do marinheiro que anda pelo convés do navio.

— É uma das poucas lembranças que tenho da mamãe — respondi, tentando ignorar a terrível dor que veio com aquele pensamento.

Ainda me lembro de quando minha mãe partiu... Ela ardia em febre e sua voz estava tão fraca que era quase inaudível. Era uma noite fria de inverno, me lembro da neve caindo pela janela enorme que havia em seu quarto. Meu pai, com os olhos cheios de lágrimas, ficou segurando sua mão frágil e gélida, até ela adormecer para sempre. Eu tinha apenas 13 anos e estava sendo consolada pela governanta da casa, Sra. Jones, que faleceu há dois anos.

— Não se apegue ao passado, Mary — meu pai aconselhou, seu rosto estava completamente neutro.

— Não sente falta dela?