Capítulo 5

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ESTRANHOS


Mary

Ouvi o som de algo estalando perto de mim, parecia fogo, o leve cheiro de fumaça no ar confirmava a minha suspeita. Eu sentia calor — muito calor — minha garganta estava seca e meus lábios rachados.

Será que eu estava morta? Meu coração se acelerou com o pensamento. — Se eu morri e há fogo perto de mim, com certeza eu estou no inferno.

Desesperada, tentei abrir os olhos, mas não consegui. Eu tinha consciência do que estava ao meu redor, mas não possuía controle sobre o meu corpo...

Com o passar do tempo, comecei a ouvir vozes ao longe que surgiam e desapareciam gradativamente.

— Está bom aqui?

— Coloque naquele canto...

— Se apresse, a luz do dia já está acabando.

— Eu só tenho dois braços...

As vozes pareciam ser de uma mulher e alguns homens. Eles estavam discutindo entre si. Ouvi o barulho de algo batendo — semelhante ao som de uma porta sendo fechada — e a discussão cessou. A essa altura, eu ainda estava lutando para acordar, meus pés e mãos não se mexiam, mas depois de muito esforço, meus olhos se abriram.

Tentei reconhecer o local em que eu estava, no entanto, não consegui. Esse local aparenta ser algum tipo de cabana improvisada, construída às pressas. Acima de mim, avistei o que parece ser um telhado feito de folhas secas e as paredes ao meu redor foram erguidas com madeiras de vários tamanhos diferentes — o que possibilitava o surgimento de frestas, por onde entravam os últimos raios de sol do dia.

Um cheiro de madeira queimada pairava no ar. Talvez, fosse pela tocha que estava acesa na parede ao meu lado — ou havia alguma fogueira perto daqui.

Olhando para o canto mais afastado, avistei uma mulher se admirando em um espelho quebrado. Ela estava de costas para mim e pude ver que seu longo cabelo castanho estava preso em uma trança. A estranha estava usando um vestido vermelho com saia de babado e corpete de renda. Aquele lembrava muito um dos meus vestidos favoritos... Espere... Esse vestido é meu!

Desde pequena, nunca gostei que mexessem nas minhas coisas sem permissão. Ver aquela mulher estranha usando algo que é meu me incomodou profundamente.

— Eu reconheço esse vestido... — Minha voz saiu extremamente rouca e falhando.

A mulher parou de fazer poses em frente ao espelho e olhou na minha direção. Tentei me levantar, mas o máximo que consegui, foi me sentar na cama improvisada em que eu estava.

— Você acordou! — ela disse, enquanto se aproximou de mim, apressadamente.

— Quem é você? — Senti uma forte dor na garganta ao pronunciar aquelas palavras. Fiz uma careta e levei minha mão até o pescoço.

— Está tudo bem? — perguntou, enquanto colocava a mão em minha testa.

Neguei com a cabeça.

— Água... — sussurrei para não forçar a voz.

Eu quero saber onde estou, como cheguei até aqui e por qual motivo aquela mulher estava usando o meu vestido preferido, mas infelizmente, todas aquelas perguntas terão que esperar... Eu preciso de água, necessito molhar a minha garganta antes de perder a voz.

Desire: A Ilha Do Desejo - [Livro 1] - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now