Capítulo 2

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A ILHA


Tristan

— Tem certeza que recolheu todas? — Thomas olhava para o alto da árvore, onde estive pendurado a manhã inteira.

— Não há mais frutas aqui — respondi.

— Certo, então desça. E tenha cuidado. — O homem se afastou e ficou me observando a uma certa distância, apoiado na bengala improvisada que ele mesmo havia feito com um galho de árvore.

Equilibrando-me de pé no galho em que eu estava, estiquei os braços e agarrei um galho mais fino à minha frente, o mesmo tombou com o meu peso, me levando até o chão em poucos segundos.

Assim que meus pés descalços tocaram a grama, soltei o galho, e ele voltou à posição em que estava. O barulho das folhas chacoalhando fez com que um bando de pássaros coloridos levantasse voo para longe, granindo desesperadamente. Estamos em frente a um aglomerado de árvores frutíferas que havia na floresta. Além de nós, alguns animais também usam o lugar como fonte de alimento — o que faz as frutas dessa região se esgotarem rapidamente.

Virei meu rosto para Thomas, que me encarava com um olhar desaprovador.

— Se sua mãe visse o que você faz, ela nunca mais te deixaria sair para pegar o café da manhã — ele reclamou, enquanto caminhava até à trilha que levava para a nossa casa. Por mais que Thomas não tivesse muitas rugas ou cabelos grisalhos, seu humor é idêntico ao de um velho ranzinza.

Suspirando entediado, peguei o saco de pano onde estavam as frutas que colhemos e o coloquei sobre meu ombro, seguindo o homem que andava à minha frente. Todos os dias, fazemos esse mesmo caminho em busca de algo para comer. Quando não está na época das frutas, precisamos caçar animais na floresta ou pescar peixes na praia. Thomas ainda carrega as sequelas do ferimento que sofreu em sua perna no momento do naufrágio e, portanto, não consegue fazer qualquer tipo de movimento brusco, como correr ou pular durante uma caçada — o que deixava todo o trabalho pesado para mim.

Após alguns minutos de caminhada, finalmente chegamos à clareira no final da trilha, onde fica a nossa casa. Thomas e minha mãe a construíram assim que chegamos aqui. Para as paredes, usaram a madeira que restou do navio e fizeram o telhado com folhas de palmeiras trançadas umas às outras para impedir a passagem da chuva. Não é uma estrutura muito grande, mas nos protege das tempestades e do calor em dias de sol forte. Em seu interior, há duas camas feitas com pedaços de madeira e os panos que um dia foram as velas do galeão em que viajamos. Também há um barril de cabeça para baixo que é usado como mesa, um espelho de tamanho mediano rachado que minha mãe usa para pentear seu cabelo e um baú que resistiu ao naufrágio, onde guardamos alguns objetos que encontramos na praia, como uma escova de cabelo, duas bandejas de ferro amassadas e alguns pedaços de pano.

Perdemos todas as nossas coisas no naufrágio. Minha mãe e Thomas usavam roupas volumosas na noite da tragédia e elas sobreviveram por todo esse tempo, apesar dos rasgos. Mas eu havia crescido, minhas roupas de criança não serviam mais, então, eu andava pela ilha descalço e sem camisa. A única peça de roupa que eu tinha era uma calça surrada que Thomas encontrou em meio aos destroços do antigo navio — e mesmo assim, não pode ser chamada de calça, suas pernas rasgaram com o tempo e agora, ela está quase na altura dos meus joelhos.

— Vocês voltaram! — minha mãe disse, animada, assim que entramos na casa. Com o passar dos anos, ela e Thomas ficaram cada vez mais próximos. Depois de um tempo, ele passou a fazer tarefas que antes eram feitas pelo meu pai. Ele a abraçava, a beijava e até fazia aquelas coisas que os adultos fazem no escuro durante a noite. Algumas vezes, essa situação me deixava confuso. Thomas havia substituído o lugar do meu pai, tanto para mim quanto para a minha mãe. Ele me ensinou a caçar, a sobreviver no meio da floresta e também brincou comigo durante a minha infância.

Desire: A Ilha Do Desejo - [Livro 1] - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now