#01: polaroid

623 71 113
                                    

Entro pelo estúdio e, outra vez, o encontro lotado, já preparado para a sessão de fotos da próxima edição.

Vejo alguns modelos tomando café em pé, ao lado da mesinha de canto, e ando até eles, coçando minha barba por fazer. Outra noite mal dormida me tirara todo o ânimo de acordar mais cedo e raspá-la logo, por completo. De repente, quando voltar para casa, decida de vez, tirá-la de meu rosto.

Tiro o casaco e observo os flocos de neve ainda sobre o tecido encorpado, desejando que toda aquela época de festividades acabasse logo. A neve era a menor das inconveniências, mas mesmo assim estava me deixando irritado, por mais que eu gostasse dela. Não agora, não esse ano.

— Quer café? — Gigi brota do nada e eu sorrio para ela, era bom ver seu rosto rechonchudo logo pela manhã. Era familiar e me deixava um pouco menos apreensivo. Um pouco.

— Animado para sua primeira sessão de fotos como fotógrafo oficial da revista?

— Animado é sinônimo de ansioso? Medroso? Fazendo xixi nas calças?

— Bem... Depende do ponto de vista, Zee. Teve uma vez que Andrew me surpreendeu e eu fiz um pequeno xixizinho na cama. E eu estava beeeem animada!

— Sem detalhes, por favor. — reviro os olhos e me recosto à parede. Começo a tomar meu leite, observando todas as pessoas que entram no estúdio e a assistente acomodando-os em seus lugares como uma maquete de fantoches.

Todos são absurdamente bonitos e eu não poderia esperar menos, são modelos.

E eu estava mais do que acostumado à presença deles, ou de, pelo menos, a maioria deles, desde que era assistente de Terry e trabalhava naquela revista, há três anos.

Todos iguais, belezas quase que saídas de algum tipo de forma em uma fábrica de produção em massa.

E então, eis que eu o encontro no meio de todos os outros. Ele está usando uma blusa branca e calças jeans, simples e estupidamente lindo.

"Estupidamente lindo" é a expressão correta. Mas não que os outros não sejam, não é isso. Ele não se destacaria no meio de tanta beleza, uma entre outras tantas, se sorrisse de modo artificial como os colegas, se seus cabelos não fossem displicentes, se sua beleza não fosse quase bruta.

Se não fosse sua expressão.

Ele olha sério para tudo a nossa volta, como se não fizesse parte daquele cenário, parecendo quase incomodado por estar ali e eu desaprendo a beber.

Fito minha xicara de leite sem saber o que fazer. Não bebo nem a pouso no pires, deixo-a em frente ao meu rosto, como se ela pudesse me esconder do modo quase obsessivo que o fito. Sinto alguns pingos quentes em meu colo, mas estou anestesiado e nem me importo.

Gosto demais do que vejo.

— É o novo queridinho da Vony. — Gigi fala ao meu lado e eu me viro para ela.

— O que disse? — pergunto e analiso seu rosto enquanto ela também olha para o acastanhado, de maneira lasciva.

— O cara que você está secando, Zee! — seu rosto desvia para mim. — Ele veio ontem, pela primeira vez. Foi quase dissecado pela nossa chefe, mas me contaram que foi ela que o encontrou na rua. A descoberta é dela.

— Vai continuar chamando nossa chefe de Vony, Jelena? — rio com a implicância de minha colega em relação à Cheryl Cole.

Gigi não a suportava e sempre revirava os olhos quando ela falava o nome da revista quase que estalando a língua nos dentes, o prazer estampado em seus olhos.

natural [ziam]Onde histórias criam vida. Descubra agora