#17: on top of the world

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Quando retornamos, eu me debruço sobre o barco vendo a paisagem de San Francisco. O dia está tão nublado como os anteriores e, mesmo com o frio, sinto a pele do rosto aquecida pelo sol que tenta sair pelas nuvens.

— É um passeio um tanto bizarro, mas gostei. — Liam diz e eu olho imediatamente para trás, vendo A Rocha se distanciar aos poucos. — Valeu para conhecer, matar a curiosidade.

Concordo com a cabeça, mirando a ilha em minha câmera para mais um clique, no entanto, com o canto de olho, observo Liam passar os dedos pelos cabelos olhando a prisão, completamente imerso em seus pensamentos.

Minha câmera vai quase que instintivamente para ele.

Observo, extasiado, a cena.

Seus cabelos ao vento praticamente tapam seu rosto, deixando quase que apenas seu cenho franzido à mostra. Além dele, tenho uma vista deslumbrante da ilha, com a edificação da prisão gigantesca como pano de fundo, criando um cenário bastante sombrio, mas perfeito.

Eu tiro uma foto, querendo eternizar aquele momento ao seu lado. Combinaria bem com o que eu estava sentindo. Meu coração estava, cada dia, mais aprisionado ao dele.

***

Paramos um ao lado do outro e, em silêncio, apreciamos os barcos dos pescadores ancorados e desfrutamos das vistas panorâmicas de Fisherman's Wharf.

Nós aproveitamos os banquinhos com uma vista fantástica para o cais para fazer uma pausa e comer dois famosos caranguejos que compramos na feira.

— Cadê sua touca? — pergunto e ele me olha sorrindo com a boca cheia.

— Eu me sinto preso com aquilo... — ele engole o que tem na boca. — Por muitos anos tive que usar cabelos raspados, gosto deles assim, mesmo que pareçam sempre bagunçados.

Volto minha atenção para seu rosto. Para o que deixa transparecer em suas feições enquanto fala de seu passado.

— Por que escolheu o Brooklyn?

— Não tinha escolhido, na verdade. Eu ia embora, mas acabei ficando. Acho que questão de oportunidades. — Liam segura minha mão e, mais uma vez, me surpreende com seu gesto. Mas ele mesmo parece não perceber o que faz. Eu acho.

— Fico feliz pelas oportunidades. Pude te conhecer.

Ele se vira para mim, a cabeça pendendo sobre o ombro direito e, com a ponta dos dedos, traceja o contorno de minha mão.

Coro com a intensidade de seu olhar e me acho idiota por isso.

— Você está seguro com isso? — continuo, tentando trabalhar na sinceridade. Eu precisava fazer isso. Ele morde o lábio me admirando. Sorrio de volta, incentivando-o. — Ter passado a noite com um homem?

— Por que a pergunta? — ele me responde com outro questionamento e eu não quero imaginar que está fugindo de minha pergunta.

— É só porque... porque... — viro meu rosto para os barcos, buscando fugir de seu olhar intenso. — você transava com uma mulher até outro dia. E toda sua experiência com homens se resumia a coisas negativas em sua juventude.

— Tem medo de eu não ser gay o suficiente para te querer? — sua sobrancelha arqueia, mas parece tranquilo.

— Um pouco. — suspiro. — Não vou mentir. É a primeira vez que tenho algo com um cara que sente tesão tanto por homens como por mulheres.

— Não exatamente. — responde suavemente. — Tenho tesão por você, Zayn.

Suspiro.

— Até ter por outro homem, ou por outra mulher.

natural [ziam]Onde histórias criam vida. Descubra agora