Capítulo 21

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Antes do final do meu turno às quatro da tarde, estou terminando de preencher a papelada de admissão quando me deparo com esta pergunta na seção de informações sobre o plano de saúde: Você tem alguma doença preexistente? Hesito e, então, faço um X na caixa ao lado de "alergias", justamente quando Louise aparece atrás de mim, empurrando um carrinho de livros de referência.

- Leve esses livros lá para trás - diz. - Fileira 9-46 e os coloque novamente nas estantes de acordo com o número nas lombadas. Pode fazer isso querida?

Assinto com a cabeça e percebo que não falei em voz alta uma única vez desde que cheguei naquela manhã. Fico imaginando se ela pensa que sou muda.

Saio de trás do balcão e minhas pernas tremem. Minha preocupação é que elas possam se rebelar e se isolar novamente. Agarro-me à ponta do carrinho de metal, procurando apoio. O espaço fechado do balcão tornou-se meu lar ao longo do dia, meu porto seguro, mas agora tenho que ir para os corredores. Onde estão as pessoas. E quem sabe o que pode acontecer?

Mesmo com esse medo de sair dali e andar pela biblioteca, eu me aceito profunda e completamente.

Embora eu me sinta um pouco ridícula com esse pensamento, a frase dá aos meus pés o impulso de que precisam para começar a avançar. Ainda olho para a minha esquerda sigo em direção ao fundo da biblioteca, procurando pelas pessoas que eu poderia jurar que estão abrindo buracos em mim com suas poderosas linhas de visão. Louise. Não é uma delas. Está olhando para baixo, ocupada com a arrumação do balcão. Seus lábios estão se movendo ligeiramente e é como se estivesse murmurando para si mesma.

O carrinho tem uma roda frouxa que geme um pouco protesto.

Quando chego à fileira 9-46, o ruído, graças a Deus, para, mas, em vez de silêncio, é substituído por outra coisa. Parecia algo arrastando os pés, como se um guaxinim estivesse preso nas estantes de livros, tentando sair. Um guaxinim com a respiração agitada. Um guaxinim que ri.

Com o coração batendo forte, vou, em silêncio, para o corredor seguinte e dou uma espiada perto da esquina do corredor, sem saber ao certo o que vai me receber.

Então paro, meus pés percebem blocos de cimento, incapazes de ir para frente ou para trás. No final do corredor estão dois corpos tão agarrados um ao outro que são literalmente um só. É um emaranhado de mãos, gargantas expostas e bocas. É uma pintura de Klimt com vida. E mesmo sabendo que não deveria estar olhando, não consigo desviar os olhos. É tão rudimentar. E desajeitado. E meio confuso.

E faz minha garganta fechar e meu corpo arder com aquele sentimento que me desperta no meio da noite. Aquela forte ânsia e desejo e ardente humilhação.

Um grito pequeno penetra meus ouvidos e os dois rostos antes enterrados um no outro agora estão concentrados em mim. Estou chocada com o quanto são jovens. A menina tem aparelho nos dentes e bochechas vermelhas. O menino, um punhado de espinhas na linha do queixo.

- Sua pervertida - diz o menino, os olhos inflamados pela testosterona que percorre suas veias.

E, embora saiba que deveria dizer algo, chamar a atenção dos dois com minha voz adulta, ainda não consigo me mexer. Eles se afastam, como vagões desengatados, e a menina rapidamente ajeita os botões da blusa, enquanto o menino contínua a olhar para mim.

Sinto algo se aproximando atrás de mim e a voz de Louise soa alto no meu ouvido:

- Brendon! Felícia! Já disse duas vezes agora: a biblioteca não é o banco traseiro do carro de vocês. Último aviso. Da próxima vez vou ligar para os seus pais.

Ambos olham para o chão. Brendon pega a mão de Felícia, levando-a para fora das estantes de livros.

Quando passam apertados perto de mim, Brendon sussurra alto o suficiente para que eu possa escutar :

- Gostou do que viu?

Fico mais vermelha e olho para a fila de livros de referência à minha frente, concentrando-me nos números.

Os dois desaparecem. Louise murmura:

-Esses adolescentes cheios de fogo.

E volta para o balcão. Fico com um carrinho de livros pesados, que esperam ser colocados em seu devido lugar.

Todo mundo está se mexendo ao meu redor, cuidando das suas vidas, mas meus pés estão pregados no ponto do tapete gasto onde estou em pé.

Só consigo pensar no Bailey.

E na sensação da sua boca quando estava na minha.

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Oi meus amores mais um capítulo publicado 😊
Espero que vcs tenham gostado! Mais tarde vou soltar outro.

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Beijinhoss 😘😘❣️

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