Véu de frustração

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– Lydia?

A ruiva gemeu baixinho, mas o corpo permaneceu uma massa imóvel em cima do colchão. O sono pesado voltou a ser perfurado pela voz da irmã que a cutucou no braço com impaciência.

– Você vai se atrasar! Espero que você não tenha morrido... – Alertou a morena de cabelo mel, pressionando os dedos na irmã. – Lydia...

Hannah bufou e socou o ombro da ruiva que estava de barriga para baixo, o rosto domado por um emaranhado vermelho de fios suados. Lydia finalmente abriu os olhos, buscando atordoada a origem do solavanco que a atingiu. Encontrou o rosto frustrado da irmã em pé ao lado da cama. A garota cruzou os braços e seus olhos brilharam com uma acusação indireta.

– Por que está me batendo?! – Perguntou atordoada, a voz empoeirada de sono.

Hannah bufou mais uma vez, se remexeu e menosprezou a poça de vômito no chão ao torcer o nariz. Lydia se agitou na cama, respirando fundo e se virando de barriga para cima, gemendo com os músculos empedrados. Passou uma mão na testa com os olhos espremidos, incomodada com a luz do sol que invadia o quarto pela sacada, e sendo consumida pelos inúmeros flashs da noite passada.

Jackson era como um filme sem fim, rebobinando e rebobinando sem descanso em suas memórias.

– Você vai se atrasar para a aula. – Avisou Hannah, sucinta. – Já deve estar atrasada agora.

Lydia gemeu com desgosto, massageando as têmporas ao ser atingida por uma pontada de dor. A Martin um ano mais nova atravessou o quarto e fechou as portas da sacada enquanto Lydia se esforçava para levantar, sentando na cama entre suspiros entrecortados e gemidos contidos.

– Papai vai nos matar. – Hannah expôs a preocupação, voltando-se para a irmã. – A casa está uma zona. E você está uma zona.

– O quê?

Lydia tinha traços pretos do rímel borrado por todo o rosto, e até a fronha branca do travesseiro havia sido alvo da maquiagem escorrida. Seus cabelos estavam desorganizados como se tivessem atravessado uma ventania e os belos olhos verdes tinham olheiras. A ruiva olhou para o próprio colo por um instante, autoavaliando o que podia ver do corpo, passando uma mão preguiçosa pela blusa amassada, embora ainda estivesse concentrada no latejar que roía na testa.

– Vamos limpar tudo depois da aula, papai chega de noite. – Informou Hannah, com nítido desgosto. – E não se atrase! Traga Allison, precisamos de ajuda.

Martin conteve um novo gemido, assentindo em silêncio. A irmã marchou para a saída em passos irredutíveis.

– Cacete... – Lydia empurrou as pernas para fora da cama devagar, tomando coragem para ir ao banheiro. Quando seus olhos pregaram no chão e o cheiro forte subiu ao nariz, um lampejo passou pela cabeça ainda inerte. Olhou para os lados curiosa, confusa, e chamou pela irmã: – Hannah.

A morena parou de andar, virando-se para ela em uma pergunta muda e impaciente.

– Você... viu se tinha alguém aqui? Hoje de manhã?

Os olhos claros da garota acenderam e um sorriso – intrigante para Lydia – se apossou da boca grossa da irmã.

– Eu cruzei com o Stiles lá embaixo. – Explicou ela, parecendo se esforçar para conter alguma euforia. – Ele disse que você estava bem.

– Por que está sorrindo?

Ela deu de ombros, tranquila

– Porque ele é uma gracinha e você estava chapada demais para agarrá-lo então agora eu posso fazer isso?

A Little TasteWhere stories live. Discover now