Sabor preferido

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Quando batidas soaram na porta, os olhos verdes ergueram escorrendo expectativa. Embolada na coberta, as costas pressionadas na cabeceira da cama, Lydia fungou e reservou o livro de Natalie ao lado. Passou as mãos pelos olhos que continham lágrimas secas e com um bolo de fôlego, se levantou.

– Pode entrar. – Murmurou, jogando o cabelo para o lado.

Cruzou os braços, mas então os reservou atrás do corpo, confusa com o deslocamento das próprias mãos que ferviam em ansiedade. Observou com um engolir o jovem passar pela porta e tornar a fechá-la. Se encararam em silêncio, os sentimentos zunindo entre eles como se um fio estivesse ligado de um coração ao outro.

Olhando para ele, paralisada nas sensações que a invadiam, Lydia soube que tomara a decisão certa. Ele corou por alguma razão, enfiando as mãos nos bolsos frontais da calça jeans. Arranhou a garganta, olhando ao redor do quarto.

– Aconteceu alguma coisa? Você parecia preocupada. – A voz de Stiles era baixa e quente em conforto.

Lydia balançou com a cabeça, negando, tentando descongelar a língua ausente de palavras. Os pés continuaram enraizados no chão mesmo quando ele se aproximou dela, quebrando a distância.

Embora o íntimo de Stiles estivesse devastado em todo o confronto pessoal dos últimos anos, sua expressão ainda era tranquila, convidativa como sempre.

Ela o encarou, cativada pela maneira que os olhos castanhos sempre brilhavam. Com as veias tensas, ela hesitou por um instante, enfiando as mãos nos bolsos traseiros do shorts.

– Eu queria conversar com você. – Despejou, baixinho.

Stilinski assentiu, seu coração perdendo-se dentro do corpo ao pensar no assunto que estava esforçando-se para evitar durante todo aquele dia. Mesmo que soubesse ser o certo a fazer, acabar com a ilusão entre eles ou se convencer de que existia alguma mínima chance de todo aquele tempo com ela ter sido somente fantasiado por si mesmo, a chateação espinhosa em sua garganta era irrefutável.

Reconhecia que aquela conversa era necessária e que precisava questioná-la, mas ainda parecia tentador ignorar o problema. Procurou por Lydia no colégio, mas não teve coragem de ligar ou mandar uma mensagem mesmo quando não a encontrou. Absorto pelos olhos verdes, ele se perdeu na saudade precoce que aqueceu os dedos. Enquanto a olhava, seu cenho franziu com uma observação curiosa e, movido por impulso e preocupação, avançou um novo passo até ela.

– Você estava chorando? – Perguntou ele, baixinho, tocando-a sem permissão no rosto.

Stilinski acariciou a bochecha com lágrimas secas, ouvindo-a desprender um suspiro enquanto se concentrava na camiseta dele. Tocá-la daquela forma íntima o atingiu como um raio. Sua mão caiu em receio enquanto ele engolia, cogitando ter errado com a iniciativa.

Lydia respirou fundo, a pele formigando pela ausência dos dedos masculinos, mas ela não chegou a cessar a dúvida não dita dele. Ela assentiu devagar, tornando a olhá-lo.

– Só estava pensando um pouco.

– Sobre o quê?

– Nós. – Ela sussurrou.

O corpo masculino paralisou, a voz doce e cheia de carinho subindo pelo quarto. Alguns instantes que parecerem formigar diretamente nas peles dos adolescentes se estenderam. O garoto engoliu, incapaz de conter o bolo de nervosismo que subiu à garganta e se obrigou a sustentar os olhos verdes. Encarou-a, repleto de êxtase enquanto em frente a ele, Lydia prendia a respiração.

Sua frase sem grande contexto parecia digna de alguma explicação melhor elaborada, mas Lydia não conseguiu pensar sobre isso. Ela estava concentrada nas mãos suadas e no coração disparado nas veias.

A Little TasteOù les histoires vivent. Découvrez maintenant