Lapso momentâneo

187 20 17
                                    

– Ah, Deus... – Lydia gemeu baixinho, o nariz torcido enquanto espremia os olhos, tentando esquecer o que a mão fazia.

Apesar de ter os dedos cobertos por uma luva de borracha, recolher uma camisinha melada com suspeitos e estranhos fluídos amarelos fazia seu nariz arder. Enfiou o pulso de uma mão na boca e se esforçou para fingir que o banheiro da casa cheirava à rosas.

Puxou o preservativo do ralo da banheira e o jogou no lixeiro com urgência, murmurando um xingamento. Passou o dorso da mão no rosto, tentando se livrar dos fios de cabelo que caiam no rosto.

– Hannah, preciso de mais água sanitária! – Gritou do cômodo.

O chão ainda tinha marcas de sapatos, alguém havia vomitado atrás da porta, o espelho tinha incomuns marcas de maquiagem e outras sujeiras sobre a pia, e o vaso sanitário ganhou uma nova descarga com a tentativa de minimizar o cheiro desagradável impregnado nas cerâmicas. Lydia esperou pela irmã, mas a ausência de resposta fez seu sangue ferver de impaciência.

Caminhou para o corredor – contente em respirar ar puro –, e procurou pela irmã nos quartos. O silêncio aterrador do andar a fez ir até as escadas e descer os degraus.

– Hannah?

Seus passos desaceleraram quando uma presença incomum surgiu diante dos olhos verdes. Martin parou em frente à escada, estudando a flanela vermelha no corpo magro e esguio. Procurou pela irmã na sala, aproveitando que Stiles estava de costas juntando copos em um saco de lixo, mas se frustrou ao perceber estar sozinha com ele.

– Está me perseguindo, Bilinski?

O garoto a olhou por cima do ombro, e seus olhos já eram divertidos mesmo em tão pouco tempo. Ele continuou juntando copos de cima do sofá, perdidos pela sala, distraído na tarefa, e nada incomodado com o tom de acusação da garota.

– Você queria, não é?

Lydia ignorou a provocação, se aproximando do sofá.

– O que faz aqui? E cadê a minha irmã?

– Hannah me pediu ajuda com a casa.

– Desde quando está aqui?

– Você tem a péssima mania de fazer várias perguntas ao mesmo tempo.

– E você tem a mania de nunca as responder.

Stiles colheu o último copo e um sorriso divertido tomou sua boca por instantes. Lydia conteve um revirar de olhos, cruzando os braços, esperando pelas respostas que queria.

– Hannah e Allison foram ao mercado. – Disse ele, reservando o saco de lixo cheio ao lado da lareira. – Cheguei há uma hora, você já estava lá em cima.

– Certo.

Um silêncio inquieto caiu entre eles. Lydia se agitou em um suspiro profundo e Stiles mexeu nas mangas da flanela, tentando se distrair das borboletas ferventes que dançaram no estômago.

– Preciso terminar lá em cima. – Por fim, Martin disse. Mordeu o lábio por um instante, estranhando o emaranhado de pensamentos que inundaram a cabeça de uma única vez. – Pode... pegar uma água sanitária na dispensa e me ajudar? Ainda tem mais um banheiro imundo.

– Tudo bem.

– Obrigada. – Murmurou ela, sem jeito.

Caminhou para as escadas, nervosa por sentir olhos em cima dela. Esperou por Stiles enquanto passava um pano no espelho sujo, esfregando em cima das marcas vermelhas de batom. Os braços já doíam de tanto insistir em retirarem as camadas bizarras do que ela esperava que fosse apenas maquiagem, grudadas contra o espelho.

A Little TasteWhere stories live. Discover now