Capítulo II

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– Obrigado, meus senhores, por tudo o que fizeram. – disse Samuel Fender. O jovem esbelto não devia ter nem trinta anos, Harry pensou. Ele parecia muito jovem.

Harry Styles, o ex-quarto Duque de Ashton, fez uma careta para o amigo quando o jovem visconde deixou seu estúdio.

– Você acha que estou tão entediado no exílio que aceitaria a oferta deste garoto? Eu não me importo quanto dinheiro ele oferece.

– Então você pretende passar todo o inverno com pena de si mesmo? Ou você planeja quebrar a monotonia de vez em quando, bebendo até cair?

– Não estou me entregando nem a auto piedade, nem a bebida. Será que é tão difícil de entender que eu simplesmente desejo um pouco de solidão?

– Mentiroso. – Nicholas acusou quando Harry esvaziou o copo.

Nicholas Grimshaw, Visconde de Carlingford, sacudiu a cabeça. Recostando-se na poltrona em frente a Harry, ele olhou para o copo de brandy meio vazio e pareceu refletir.

– Bem, você poderia ter me dito antes desta sua grande necessidade de solidão. – ele colocou ênfase na palavra solidão – E me poupado esta viagem tediosa.

Harry quase sorriu da tentativa de seu amigo de fazê-lo se sentir culpado.

Enchendo seu copo novamente com um bom brandy do qual tinham desfrutado desde o início da noite, ele suspirou. Ele sabia onde Nick queria chegar e não estava certo de conseguir suportar a conversa novamente. Ele não sentia nenhum remorso pela maneira como viveu a sua vida. Ele não devia nada a ninguém. Tudo o que ele queria era ser deixado só. Nick tinha sido seu melhor amigo desde a infância e talvez fosse seu único amigo agora. E mesmo que ele, relutantemente, admitisse apreciar as visitas ocasionais de seu amigo, ele poderia viver sem elas.

– Não, Nick. – alertou.

A ameaça em seu tom teria humilhado qualquer outro homem. Harry sabia das poucas visitas que ele tinha feito na cidade vizinha e dos rumores que corriam sobre o motivo de sua vinda a França. O povo da cidade teve o cuidado de manter a distância, considerando-o o próprio diabo. Seus servos o olhavam cautelosamente, os criminosos e as próprias prostitutas, pareciam prontos a fugir dele ao primeiro sinal de descontentamento.

Impressionado, Nick sorriu para ele de sua cadeira. Ele conhecia Harry melhor do que ninguém e sabia que não tinha nada a temer. Como se lesse seus pensamentos, Nick disse:

– Já se passaram três anos desde que as provações e a morte de Kendall. Você...

– Dispenso seu discurso hoje à noite. – o tom de Harry era gelado – Isso me aborrece.

– Ah. – o amigo tomou outro gole de brandy, com os olhos brilhando divertidos – Então você está entediado comigo também. Você arrasa meu ego, meu caro.

Harry lutou contra a vontade de esganá-lo. Enquanto ele tinha vontade de bater em seu amigo para fazer com que o deixasse em paz, não estava com disposição para a surra que ele teria de suportar, a fim de fazê-lo. Nicholas o igualava em tamanho e força, e adorava uma boa luta.

Frustrado, ele passou a mão pelo cabelo.

– Vá para o inferno! – ele rosnou.

Nick riu secamente.

– Você gostaria disso, não é?

– No momento, sim.

– Eu tenho uma ideia melhor. – Nick ofereceu, inclinando-se para frente.

Uma mecha do cabelo caiu sobre a testa. Distraidamente, ele puxou a sua gravata, como se estivesse muito apertada.

Harry olhou para ele.

– Não. Eu não vou perder meu tempo com esse sujeito.

– Sim, você vai. – o rosto de Nicholas se abriu em um largo sorriso – Esse sujeito tem uma maldita fortuna à sua disposição. – os largos ombros de Nick bloquearam a visão de Harry do fogo da lareira quando ele os abriu em um gesto extravagante – Tudo que você tem que fazer é achar seu amado, cuidar para que seu tutor nunca o coloque em problemas novamente e você terá dinheiro suficiente para retornar a pirataria se esse for o seu desejo.

A proposta tinha seus méritos. Quando Harry fugiu da Inglaterra há três anos atrás, um pirata e um assassino condenado, ele não conseguiu levar muito de sua riqueza com ele. O castelo onde atualmente residia era sua única posse, além de seu cofre. O dinheiro que o visconde oferecia para uma tarefa tão simples era tentadora. Voltar ao mar, fazer o que ele desejava. Nick provavelmente estava certo. Talvez uma noite de luxuria também fosse uma boa solução. Ele quase tinha se esquecido daqueles dias de sua juventude, onde estas noites eram comuns e tinha sido tão despreocupado...

Lentamente, Harry balançou a cabeça. Anos atrás, ele teria aceitado o convite do amigo. Mas o destino e o tempo fizeram dele um homem diferente. A culpa pela morte de uma mulher que o amava tinha feito dele um homem diferente.

Já não via o mundo como uma fonte constante de prazer infinito. Agora, ele via apenas um mar de rostos cheios de medo e ódio.

– Não, eu não penso assim. – Harry usou um tom seco para dar a impressão de indiferença.

Mas Nick fingiu não ouvir isso. E ignorou.

– Eu me pergunto por que o menino significa tanto para ele oferecer essa quantia por seu resgate?

– Provavelmente, não teve chance de se colocar entre suas coxas antes que ele fosse levado. – Harry olhou para o amigo, curioso – Por que você está tão interessado? Você não pretende se envolver nisso.

– Eu não sou um criminoso conhecido. – Nick piscou para ele – Você é. Mas deixando isso de lado, lembro o quanto você ansiava por aventuras. Ele está oferecendo dinheiro, o que você precisa, e aventura, que sempre o agradou. E tudo aqui, debaixo do seu nariz, na aldeia. Tudo que você tem a fazer é levar o menino para ele e você terá dinheiro suficiente para fazer o que quiser, sair deste lugar maldito e se afastar de seus copos de brandy.

Colocando sua taça de lado, Nicholas lentamente se levantou da cadeira, endireitando seu casaco azul-marinho. Ele nitidamente interessou Harry e sabia disso.

– Basta pensar sobre isso, Harry. Mas não demore muito. Louis está esperando. – com um sorriso, Nicholas deu-lhe uma piscadela antes de abandonar o local.

Inferno!

CativoWhere stories live. Discover now