Capítulo VIII

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– Eu pensei que ele estaria com você! – a voz indignada de Samuel Fender ricocheteou através da sala que Nicholas tinha alugado para sua estadia. –E você o deixou toda a noite na companhia de um pirata! Um assassino!

O queixo de Louis caiu enquanto olhava para Harry esperando uma explicação.

E se você soubesse mais alguma coisa fugiria apavorado.

Suas palavras da noite anterior voltaram à mente de Louis quando o olhar de Harry encontrou o seu.

O belo rosto de Harry era uma máscara de calma implacável, seus olhos não demonstrando surpresa com a acusação de Sam.

– Harry não é assassino. – Nicholas Grimshaw disse, erguendo-se em defesa do amigo.

– Claro que é! – a voz anasalada de Sam lembrou a de uma criança choramingando – Ele assassinou uma mulher a sangue frio em Londres!

O coração de Louis saltou em sua garganta. Seria verdade? Seu amante sombrio tinha assassinado alguém? Uma mulher inocente?

– Louis, você está bem? – Sam perguntou com preocupação quando pegou sua mão e puxou-o para afastá-lo de Harry.

– Eu estou bem. – disse enquanto Samuel observava Harry.

Harry conseguiu encontrar um belo conjunto de linho naquela manhã para que Louis pudesse vestir, ao invés da capa rasgada. Ele trouxe frutas para seu café da manhã, e tinham lentamente feito amor. O maior murmurou palavras carinhosas o tempo todo, dizendo-lhe que sempre iria protegê-lo, cuidar dele.

Seria mesmo um assassino?

Ciente de que ele estava bem, Samuel pegou um saco e empurrou-o rudemente para Harry.

– Leve-o e vá embora. – disse com um sorriso de escárnio.

A boca de Harry era uma linha sombria e ele sabia que ele lutava para se controlar. Seus olhos brilharam em uma mensagem para ele enquanto se dirigia para a porta com Nicholas. Tudo que você tem a fazer é ir embora, Louis. Uma vez que ele me dê o dinheiro, eu partirei. E estarei esperando por você.

Mas o azulado se atreveria? Ele seria verdadeiramente um pirata e um assassino?

Seu coração o empurrava a correr atrás dele, fugir de Sam. O coração de Louis afundou quando viu Harry sair do quarto. Sam não foi o homem que teve a coragem de salvá-lo do destino cruel que seu padrasto tinha planejado para ele.

Em uma única noite Harry o ensinou sobre a paixão, o fez perceber que ele tinha escolhas, afinal.

Mas e se ele não disse a verdade sobre o jovem que antes Louis considerava um amigo?

– Estou tão feliz por você estar bem, Lou. – Sam tomou-lhe as mãos frias nas dele e sorriu – Eu fiquei apavorado quando soube que Daniel tentou...

Louis balançou a cabeça, os olhos azuis à procura dos dele.

– Obrigado, Sam. Eu não sei o que posso fazer para retribuir essa gentileza. Mas eu estou me preparando para recomeçar. E se há qualquer coisa que possa fazer por você no futuro, tudo o que precisa fazer é me procurar.

Ele facilmente leu a confusão em seu rosto.

– Procurá-lo? Louis, para onde você pretende ir? Daniel ainda mantém as terras de seu pai e a riqueza. Você não tem nada. O que vai fazer?

– Eu vou encontrar meu caminho. – assegurou, observando seus traços sempre calmos enrijecerem-se.

– Louis. – começou ele, as mãos magras agarrando seus braços – Seja realista. Você não poderá trabalhar como criado, logo estará vivendo nas ruas.

– O que há de errado em ser um criado? – perguntou – É um trabalho digno.

– Você foi feito para coisas boas. – respondeu por entre os dentes, a agitação tomando conta de seu corpo.

Louis sorriu para ele através de seu desapontamento.

– É uma proposta, Samuel?

O azulado poderia ter rido da expressão de pânico em seu rosto se não se sentisse tão infeliz com aquela traição. E ele viu a culpa no rosto do velho amigo. O momento esticou-se dolorosamente até que ele finalmente respondeu a sua pergunta.

– Eu não posso me casar com você, Louis.

– Então é verdade. – Louis afastou-se dele – Você já tem uma noiva.

Sua mandíbula enrijeceu-se. Louis nunca o tinha visto assim. Sumiu o amigo gentil e em seu lugar ficou um estranho de rosto duro. Louis sentia o coração bater acelerado, em crescente alarme.

– Lou, isso não significa que não podemos ficar juntos. – Sam novamente pegou suas mãos, querendo que ele encontrasse seu olhar.

– Isso não significa que eu não possa ser sua amante, você quer dizer? – cuspiu, mais uma vez afastando-se dele – Não, obrigado.

Louis voltou-se para fugir, piscando para conter as lágrimas. Pelo menos Harry disse a verdade. O azulado tinha acabado de chegar à porta quando teve sua roupa agarrada por trás. O tecido rasgou-se quando Sam o puxou.

– Você não pode simplesmente desaparecer, Louis. – o rosto de Samuel retorceu-se em uma máscara cruel – Não depois do que eu paguei para aquele canalha buscá-lo.

– Eu discordo. – a voz de Harry interrompeu-o.

O coração de Louis se encheu de esperança quando o punho de Harry acertou a mandíbula do homem que um dia considerou seu amigo, e mandou-o voando pelo chão do hall. Sam lutou para se erguer, depois de um momento. Então, revirou os olhos e desmaiou.

– Harry! – Louis voou para os braços abertos do mais alto, sentindo-se em casa – Você era um pirata?

Sua expressão era sombria.

– Sim.

– E um assassino?

A expressão de Harry era séria.

– Eu matei homens, Louis. Não vou negar. Mas o assassinato da mulher do qual fui acusado... ela não morreu por minhas mãos.

Louis queria acreditar nele, seu coração lhe disse para acreditar. Ele não disse a verdade sobre Samuel? As linhas duras de seu rosto estavam inflexíveis, mas seus olhos verdes eram gentis enquanto se moviam sobre o rosto delicado de Louis.

– Como ela morreu? – tinha que perguntar.

Harry engoliu em seco antes de responder.

– Eu não cheguei a tempo de salvá-la. – sua voz era baixa – ela era a viúva de um rico comerciante em Londres. Relacionamo-nos por algum tempo. Eu tinha inimigos, inimigos inteligentes. Eles a mataram para chegar até mim e prepararam o terreno para a minha condenação. Eu nunca contei isso a ninguém, Louis. Nem mesmo a Nicholas, meu melhor amigo. Eu nunca dei a mínima para o que as pessoas pensavam de mim. A razão de estar contando isso a você é porque eu me importo com o que você pensa. Eu quero que você fique comigo.

Tanta emoção brilhava em seus olhos... Louis levantou a mão para tocar suavemente seu rosto e Harry se aconchegou contra a palma. O gesto dizia a ele que Harry procurava sua aceitação, a absolvição.

– Eu quero ficar com você, Harry.

Seu sorriso transformou seu semblante sombrio e deixou o coração de Louis acelerado. Ele desceu a boca sobre a sua, prometendo com seu beijo protegê-lo para sempre. Seus braços o apertaram, possessivamente, e Louis colou-se a ele, saboreando seu calor e sua força. Nesse momento, Louis soube que seguiria Harry a qualquer lugar...

E então, de mãos dadas, eles partiram para começar uma nova vida juntos.

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