2- Irmandade

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Londres-2020 

No último fio de luz do sol a cidade começara a ser engolida pela escuridão da noite. Consequentemente o semblante vivo e resplandecente renascera como uma fênix à medida que as luzes se acendiam por todas as partes, e algures pela cidade caminhava uma figura trajada de uma túnica e capuz preto que lhe davam uma aparência quase miserável por serem tão velhas; o capuz lhe escondia o rosto mergulhado no escuro. Dava para ver as mãos com a pele bem cuidada e unhas cortadas. Caminhara até estar diante de uma porta, abrira um portal sobre ela que o levara até o terraço. Procurara um espaço vago e sentara no chão até a lua se evidenciar por completo.

       Quando o ser erguera o rosto para o céu escuro e estrelado, seus olhos contemplaram algo deveras maravilhoso de vista, um fenômeno que não acontecia há séculos. A lua estava cheia e vermelha como sangue. Então seus lábios se retraíram para o canto em um longo sorriso rasgado, murmurou umas palavras inaudíveis e se levantou.

       Feito isso, desenhara no chão um circulo invisível que posteriormente os seus contornos ganharam uma coloração vermelha luminescente como chamas. Nesse momento ele erguera os braços para o alto proferindo palavras em um idioma antigo voltado para a lua e, a seguir, o circulo mágico resplandecera no céu, tão grande que se estendera por toda a cidade, brilhante como uma super nova. Num ápice o circulo desaparecera do céu deixando atônitos todos que a viram. Assim, o homem continuara a monologar enquanto a luminescência vermelha se evidenciara nas profundezas da cidade.

A meio da noite, caminhava um jovem casal pelas áreas isoladas. Pareciam ser só mais um mero casal de namorados descontraídos. Continuaram assim, descontraídos e felizes como se tivessem se reconciliado depois de uma briga. Os seus risos eram audíveis pelas ruas, os saltos batendo no concreto umedecido pelas águas vazadas e dos recentes chuviscos servindo de espelho para a lua prateada plena no vasto céu. Ao longo da caminhada ouviram-se sons condescendentes, como palmas sequenciais. De seguida uma encantadora e dócil melodia de violino.

— Ah, que música maravilhosa. — disse a jovem encatada, fitando o menino que tocava.

      Ele se vestia de preto. Uma calça de ganga, jaqueta e um chapéu a condizer.

— Realmente. Ele toca muito bem. — Concordou o namorado, pondo os braços sobre os ombros dela.

       A melodia era deveras magnifica; tocada com paixão e um profundo sentimentalismo, tanto que o jovem casal ficara a olhar o menino que não aparentava ter mais do que 18 anos; por que um rapaz tão jovem estava na rua àquelas horas? Contudo, o jovem rapaz mantivera o rosto prostrado enquanto seus majestosos braços movimentavam como o balançar das árvores no outono. Foi então, aí, que eles perceberam... O menino estava encharcado. Totalmente encharcado.

       O namorado da garota franzira a testa estranhando o fato. Entreolharam-se e ele tocara o braço do menino preocupado.

— Ei, você está bem...? — De repente a música parou quando a sua mão tocou o braço do rapaz. O que aparentemente não deixara o menino contente. — Desculpa. Eu... — Ele afastou-se.  O menino permanecia com o rosto prostrado sendo encoberto pela aba do chapéu.

— Vamos embora. — sugeriu a namorada.

— Não, por favor! — falou o menino pela primeira vez.

      Com uma voz suave e delicada, como de quem estivesse com medo ou precisando de ajuda, o garoto deixara o violino no chão e, pouco a pouco foi erguendo o rosto.

Ao erguer da alvorada o sol resplandecera no céu substituíndo as luzes elétricas que tornavam viva a cidade durante a noite. Com ela,  também viera a barulheira do trânsito.

ARCONTES-Livro 1 (COMPLETO)Where stories live. Discover now