Capítulo 3- Salto de fé

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Os dias iam passando vagarosamente com avanços mínimos e ou nulos. Eu curava a parte física do demônio e Anael descobriu que Zarathiel contava muito raramente os fatos importantes que aconteciam e sempre descontando em Azahry os males da humanidade.

Numa das visitas periódicas de Gabriel fui surpreendido pela presença não dele, mas de Uriel.

-Se cansou do teor dramático das mensagens de Gabriel?

-Eu cuido das artes Raphael- ele respondeu no mesmo tom de brincadeira- Vim verificar os avanços e ver se você tem algo novo.- ele fala o por que da visita.

-Nada- eu bufo em frustração- Azahry esta a par dos grandes acontecimentos, mas nunca saiu de sua jaula.

-Ele falou sobre outros anjos envolvidos?-Uriel questiona sério.

-Não ele...Ah! Mal se mexe nos piores dias, fala pouco. Nos melhores ele pede instruções de como deve proceder nessa casa.

-Ele te vê como dono- Uriel conclui.

-Infelizmente- eu respondo pegando um livro qualquer sobre transtornos psíquicos e começo a folhear- Eu achei melhor ensina-lo as coisas humanas, Anael esta com essa parte na verdade. Algo neutro para distraí-lo.

-Funcionou?- Uriel pergunta curioso.

-Bom, até agora ele não nos atacou.- eu falo com uma leve ironia. 

-Mansidão foi o que ele aprendeu, mas não significa que ele seja assim- Uriel fala sério- Cuidado Raphael..! Não se esqueça que ele é um caído. Seu estado de fraqueza atual não deve ser subestimado- ele adverte.

-Você falou algo...-eu ponderava as palavras de Uriel quando me veio uma ideia.

-Vejo que não tem mais informações- Uriel deve ter visto meu olhar errante- Fazedor de estrelas, tome cuidado com a sua criatividade. Mande-me notícias.

E com esse aviso carinhoso, Uriel se vai e eu com a ideia fixa resolvo dar uma olhada em Anael e Azahry.

Ele falava baixo com Anael, sempre prestando atenção no que ela falava de volta olhando fixamente com seus olhos diferenciados, quando falava sua língua serpentina as vezes saia e seus dentes pontiagudos eram pouco visíveis sob a postura retraída. Tanto eu quanto Anael não entendíamos o porquê do demônio não usar uma forma mais humana, esconder as asas rubras e os chifres.

Depois de perguntarmos ele nos respondeu que não sabia a forma de um humano, claro, ele foi encarcerado quando tudo ainda era um projeto.

Após semanas de explicações, Azahry finalmente escolheu uma forma humana. Cabelos pretos lisos na altura do ombro numa forma masculina pálida e com olhos castanhos avermermelhados, não como sua verdadeira forma, mas um sutil lembrete.

-Com licença!? Posso entrar?

Anael repetiu novamente para ele e este acenou timidamente com a cabeça. Entrando no quarto pude ver que o demônio usava sua forma humana com uma camisa verde clara e uma calça marrom.

-Esta gostando de aprender as coisas dos humanos?

-Sim, meu senhor- ele fala baixinho.

-Azahry já falávamos antes, não sou seu mestre. Pode me chamar de Raphael- eu vejo que ele continua tenso- Ou de Ralph, mas não espalhe esta bem.

Com essa pequena descontração Anael que estava ao lado dele gargalha e Azahry da um pequeno sorriso.

-Pode nos pedir o que quiser- Anael fala.

-Eu... Obrigado por tudo. Me perdoem se eu estou tirando vocês de suas funções.

-Não ...- Anael responde incerta-Nossa função é fazer o bem- ela agora fala convicta.

-Não é um incomodo Azahry, mesmo- falo acolhedor, mas sério- O que aconteceu com você foi terrível e não nos representa.

-Mas eu precisava passar por isso- ele sussurra.

-Você já mencionou isso antes Azahry. Por que você fala isso?- eu questiono.

-Eu questionei. Perguntei aos outros e a mim mesmo coisas que não deveria, eu me juntei ao batalhão de Samael e...- ele se encolhe- Eu traí Deus!

Anael olhava para mim com a mesma sensação, um caído arrependido de ter batalhado a favor de Lúcifer, não seria algo fácil de relatar a Uriel e Michael.

-Sentimos muito Azahry -Anael fala acalmando- o.

-Foi Zarathiel que fez você se arrepender?-eu pergunto.

-Ele me salvou. Eu estava condenado e ele me salvou- ele responde convicto e eu e Anael nos entreolhamos.

Nisso ele entra em um estado novamente balbuciante o qual eu ao encostar em sua cabeça faço-o adormecer sem pesadelos.

-Por Deus Raphael!-Anael falava quando já esta vamos no meu escritório- Um demônio inocente!

-Não exagere Anael, ele certamente...- eu falo num misto de sentimentos como surpresa e descrença.

-Raphael!- ela me corta- Aquele ser, ficou trancado e torturado por eras, ele não fez mal a nenhuma criatura viva e ainda se arrepende de ter se voltado contra Deus.

-Por tudo que eu sei ele só não teve oportunidade- eu me lembrava dos avisos de Uriel e da desconfiança de Gabriel - E ele pode muito bem estar mentindo sobre se arrepender, afinal ele é um demônio.

-Deus! Eu não acredito que você crê nisso!- Anael falava furiosa- Nós somos arcanjos pelo amor de Deus! Nós sentiríamos se ele mentiu e ainda mais no estado enfraquecido que ele esta!

-Ele "estava" enfraquecido Anael, agora ele esta completamente curado- falo resoluto.

-Ótimo! Então por que ele não foge? Nos mata e foge? Huh? É porque ele confia em nós!- ela parecia suplicante.

-Ele pode estar se aproveitando de nós- eu falo calmo e encaro Anael- Ele estava ferido e não sabia muito desse mundo atual. Muito esperto na verdade.

-Ok!- Anael parecia um pouco duvidosa também- Faça um teste. Dê a ele um voto de confiança.

-O que sugere?

-Um passeio. Sair da casa, só vocês. Lógico que eu e Gabriel ficaremos de prontidão, mas afastados.

-Que maravilha..! E eu arrisco o meu pescoço.

-Nunca te creditei de covarde Raphael- Anael me enfrentava- Somos antes de tudo soldados. E é a você que ele responde melhor, ironicamente quem duvida dele.

-Onde?- eu falo não muito feliz com a ideia, mas já pensando em como iria executa-la.

-Isso é com ele. Afinal quem verá, literalmente, o mundo pela primeira vez, é ele.

-Como você pode confiar tanto que vai dar certo Anael?- eu falo com um misto de incredulidade e sátira.

-Porque eu tenho fé, Raphael- ela me encarava séria.

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