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Era sexta-feira. Cinco da tarde. Eu tentava tomar o chá forte calmamente, apesar de estar tremendo por inteiro. A única coisa que havia feito naquele dia era tremer descontroladamente de nervosismo e virar na cama, tentando arranjar uma desculpa para cancelar o jantar de hoje que teria com Luca e sua namorada. Styles não havia dado notícia desde o dia do casamento, ao contrário do que eu imaginara que ele faria. Até mesmo quando alguns sites soltaram fotos do casamento, em que eu aparecia agarrada a ele e diversas garotas encontraram minhas redes sociais, eu passei o dia pensando em como deixá-lo tranquilo, dizendo que eu não ligava para aquilo, mas Harry não apareceu. Então, naquela sexta maldita, eu só me permiti pensar em Luca e ignorar completamente minha vontade de matar aquele garoto por ter quebrado a pequena promessa que havia me feito. Finalizei o quinto chá de camomila ainda tremendo, decidida a levantar daquela cama que eu não arrumava há dias e ligar para Luca. Disquei os números que eu havia deletado do celular quatro semanas atrás em um acesso de choro, mas que eu acabei decorando, porque o universo é horrível assim mesmo. Ouvi o primeiro toque, o segundo, o terceiro e desliguei o celular em um pulo, jogando-o no sofá e correndo para minha cama novamente. Gritei contra o travesseiro, batendo os pés, como numa clássica birra.

- Você precisa reagir, Sierra. – berrei para mim mesma. – Você vai ligar agora.

Joguei os cobertores longe, rumando até o sofá, pegando aquele celular e discando os números. Consegui chegar até o quinto toque antes de desligar. Grunhi irritada por conseguir ser tão babaca daquele jeito. Respirei fundo antes de apertar para refazer a última ligação, mantendo um mantra em minha mente que não durou até ouvir o barulho de que Luca havia atendido o celular e, então, deslizei meu dedo até o botão de desligar assustada. Enquanto eu gritava, mais uma vez, irritada por eu não conseguir fazer aquela ligação, o celular tremeu em minhas mãos, conseguindo me assustar o dobro do que já estava. Quando parou de tocar Uptown Funk e meu studio voltou ao silêncio eu suspirei em alívio, mas não demorou muito para que ele voltasse a tremer. Grunhi novamente, irritada, tentando tomar a coragem que eu sabia que não tinha. Fiz um nome do pai e deslizei a bolinha verde.

- Sierra? – Luca perguntou, com uma voz cansada de quem segurava a risada, pude ouvir berros femininos na linha. – Sierra, é você?

- Eu.

- Oi, Sierra. – respondeu depois de alguns segundos em que eu só ouvia sua respiração cansada e os risos. – Você me ligou um monte de vez... SAMANTHA, PARA DE CORRER. – mais gritos tão altos e felizes que eu estava com vontade de vomitar. - Oi, pronto. Desculpa, estava tentando pegar minha camisa com a Sam, ela não quer deixar eu me vestir.

- Hm. – prendi o grito de ódio.

- Ahn, então, você me ligou, mas quando ia atender desligava.

- Ah... meu celular está com problema.

- Ah, sim. Ligou para confirmar o jantar? – perguntou, e quando não respondi, continuou a falar. – Sam e eu vamos nos atrasar um pouco, ela vai se arrumar agora e eu preciso me arrumar em casa. – distanciou a voz do celular. - Não esse vestido não, ele me deixa com vontade de tirá-lo agora. – eu engasguei. – Sierra?

- Oi.

- Tudo bem?

- Sim, só liguei para dizer que Harry e eu também vamos atrasar, só levantamos da cama agora. – era, em partes, verdade. Coloquei o celular um pouco longe do rosto, fingindo que tentava ouvir algo. – O quê? Ah, Luca, desculpe, Harry está me chamando no chuveiro, vou ter que desligar. Tchau

Joguei o celular longe sem antes ouvir sua resposta, berrando todo o ódio que estava sentindo. Cacei o notebook embaixo da cama, pesquisando rapidamente o que precisava saber, o que a internet, como sempre, me respondeu de bom grado. Vesti a primeira calça que encontrei, socando os pés dentro das botas, pegando meu celular no chão e o casaco jogado em cima do sofá, me dirigindo para a porta do studio e depois para o metrô de Londres. Quarenta minutos e alguns ônibus errados depois eu estava parada em frente a uma casa grande, com um portão maior ainda na esquina de uma quadra gigantesca. Algumas garotas estavam paradas em roda no meio da calçada e não demoraram muito a encarar eu em frente ao portão sem saber o que fazer. O plano havia sido montado em dois segundos na minha cabeça. Eu iria encontrar a casa de Styles no Google, iria para lá de metrô e ônibus, o encontraria e usaria de todos os bons argumentos que eu pudesse inventar para que fosse ao jantar comigo, a parte principal de como eu iria conseguir falar com ele foi completamente ignorada no meu plano. Dei dois passos para o lado, tentando ver a casa por um buraco no portão. Nada. Estava tudo vazio lá dentro, a única coisa que me ajudava a ter certeza de que aquela era a casa dele, eram as garotas sussurrando sobre a banda.

no one knowsWhere stories live. Discover now