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- Será que você pode parar de me criticar? - bufei irritada, jogando um par do tênis que tinha nas mãos em direção a Harry, vendo o garoto rir e desviar do calçado.

- É só um dia, Sierra, você não precisa de mais de um par de roupas.

- Mas e se eu me sujar, ou se formos sair, se eu cair num barranco, pisar no cocô do cachorro, ser cagada por um passarinho, se fizer frio, ou calor demais, se chover descontroladamente enquanto eu estiver fora da casa?

- Isso não vai acontecer.

- Tudo é possível se você acreditar. - apontei o dedo para o garoto, soltando as palavras como se estivesse ditando frases motivacionais, e vi ele rir de novo.

Quando coloquei a última jaqueta dentro da mala e puxei o zíper, vi Harry erguer a mão em direção aos céus como se agradecesse que finalmente poderíamos pegar a estrada à caminho de Holmes Chapel. Harry fez uns barulhos bobos, tentando encontrar Olívia que miou embaixo do sofá, provavelmente reclamando de tê-la acordado de seu sono de beleza, para colocá-la em uma caixa.

Styles havia acordado muito cedo naquele dia, tão cedo que não me atrevi nem a abrir os olhos para ver onde o garoto ia. Algumas horas depois, ele retornava, abrindo a porta com a minha chave, o que o fez levar várias broncas por ter me deixado trancada sem me avisar. E se a casa pegasse fogo, Harry? Se eu precisasse de comida? Se Ryan Gosling viesse bater na minha porta finalmente percebendo que eu era o amor da vida dele? E aí, Harry? E aí?

Não tive muito tempo para reclamar, porque o garoto vinha em direção a minha cama bagunçada, que eu ainda estava deitada, pondo a caixinha de Olívia sobre ela e soltando a gata para que ela viesse me cumprimentar.

Eu não conseguiria ficar brava com um bebê tão lindo daquele ronronando nos meus braços.

Logo era eu que estava levando as broncas, porque Harry imaginara que o tempo que ele levaria para ir até sua casa, arrumar sua mala e pegar Olivia, seria o tempo que eu levaria para levantar e arrumar minhas coisas. Bom, não foi. Porque eu ainda me encontrava deitada e descabelada, sem ter a menor noção do que faria em seguida.

Mas finalmente descíamos as escadas do meu prédio em direção ao conversível dele que estava estacionado. Eu não acredito que iria andar de conversível! Joguei a mala não-tão-pequena que eu havia feito no porta mala do carro de Harry, vendo o garoto colocar a caixinha de Oliva bem presa no banco de trás. E, assim que ligou o carro, o rádio conectou na playlist que o garoto ouvia anteriormente, e a surpresa maior foi ouvir a voz de Zé Ramalho preencher o carro declamando o refrão de Chão de Giz. Encarei Harry com um sorriso estupidamente aberto no rosto e ele me encarou de volta, copiando meu sorriso em seu rosto, dando de ombros.

- É realmente muito bom!

Meu sorriso se alargou de orelha a orelha, e eu estiquei meus braços em direção ao seu rosto, puxando-o mais perto de mim para deixar um beijo estalado em seus lábios.

Minha maior surpresa não foi a sequência de música que tocou em seguida, indo de Gal Costa, Tim Maia, Seu Jorge, Milton Nascimento à Cássia Eller e Raul Seixas, mas sim os ombros de Harry que se mexiam no ritmo das músicas, seu sorriso e seus olhos que brilhavam em minha direção, toda vez que eu me empolgava demais com as canções, ou quando ele gostava tanto da música que tínhamos que pausar para eu o ensinar o refrão e depois tocar novamente, para que ele pudesse cantar.

Assim que Harry pegou a rotatória para virar a esquerda e pegar A54 para, enfim, chegarmos à Holmes Chapel, senti minha mão começar a soar e meus batimentos aumentarem. A primeira e única vez que eu havia encontrado os pais de Harry, eu estava em um casamento de pessoas que eu nem conhecia, fingindo ser namorada do filho deles e tentando não surtar. Eu nem sabia qual papel eu estaria fazendo dessa vez. Harry e eu não éramos nada, nos pegávamos ridiculamente gostoso uma vez por semana e ele do nada havia me convidado para ir até sua casa, onde toda sua família estaria, enquanto se despedia deles para passar alguns meses longe de todos. E lá estaria eu, louca, perdida, sem saber o que fazer.

no one knowsOnde histórias criam vida. Descubra agora