dezessete.

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Seis da manhã estou de pé. Recebo uma ligação de Marlúcia pedindo-me para encontrá-la na padaria próximo a pista, ela me daria o dinheiro de passagem e diria qual condução será necessária para que eu chegue ao local.

Visto a calça que sempre uso para ir a escola, uma rasteirinha e camisa de manga. Não faço ideia de qual vestimenta usar. Talvez uma confortável já que irei arrumar uma casa e não dançar funk. Caminho até o antigo quarto de minha mãe, observo todo o local soltando um suspiro.

viu, mãe. Eu falei que iria te ajudar.

Bebo um gole de café e deixo o copo dentro da pia. Envio uma mensagem para a senhora, avisando-a que estou a caminho.

O sol começará a queimar, algo normal, eu já deveria estar acostumada com isto. Apresso meus passos indo em direção a padaria da rua de baixo. Não demora muito para que eu aviste Marlúcia conversando com a atendente de balcão. Abro um sorriso quando me aproximo mais.

— Bom dia, pessoal — Digo educadamente.

— Bom dia — A atendente cumprimenta, com um sorriso sútil.

— Bom dia. Olha, o apartamento fica na Barra da Tijuca, vou te emprestar esses cinquenta reais, depois me devolva — Explica Marlúcia. — Eu a disse que você tem experiência, por tanto, não faça besteira.

Ela me parece apreensiva.

— Não vou. Darei meu melhor, sem dúvidas.

— Que bom, então. Ela gostando do seu trabalho, vai indicá-la para as amigas. — diz empolgada — quando chegar ao prédio, diga ao porteiro que a leve até a senhora Álvares.

Isto é uma ótima oportunidade. Embora não seja o tipo de emprego que anseio para minha vida, é uma forma honesta de ganhar dinheiro e no momento isto é o que mais preciso. Renan está me ajudando, sem um perfeito cavalheiro e não me deixa faltar nada. Veja só, até absorventes me comprou. De todo modo, não gosto de depender dele, é constrangedor.

Após me explicar detalhadamente quais condições eu deveria tomar, saio da comunidade e sigo a diante.

Embora eu tenha saído cedo se casa, chego ao meu local se trabalho uma da tarde. Minha barriga da sinais pela fome, como se já não bastasse a cólica me incomodando, agora isto.

Logo em frente ao prédio avisto o porteiro a se despedir de uma senhora que saia. Me aproximo e logo ele nota minha presença.

— Olá. O senhor poderia me levar até a senhora Álvares? — Pergunto educada.

— Qual seria o assunto?

— Sou a diarista.

O senhor me fita por alguns segundos, sua feição de surpresa é cômica.

— Você é nova, mas é isso aí. Trabalhar faz bem — comenta rindo — vem, te levarei bem rápido porque esse é o horário de mais movimento.

— Certo, obrigada. — digo — mas, ela está em casa? — Indago receiosa.

— Ela quase não sai.

Pouco tempo depois estávamos em frente a seu apartamento. O corredor tinha um forte cheiro de desinfetante, as portas eram branquinhas. Eu nunca estive em um lugar como esse. Pergunto-me como é morar em um lugar assim.

Ele aperta a campainha por algumas vezes e eu me pergunto o porquê de não utilizar o interfones, como nos filmes.

A porta se abre, nos revelando uma linda senhora. Cabelos ruivos e lisos, pele parda e olhos castanhos. Ela abre um sorriso largo. Seus dentes não estão alinhados, entretanto, estão branquinhos.

— A diarista, senhora — Diz o porteiro

— Ah, claro. Bom dia — ela cumprimenta — entra, por favor.

Apenas assinto e entro em sua residência, como a mesma havia ordenado. Enquanto ela agradecia e se despedia do gentil porteiro.

A senhora fecha a porta e se vira para mim. Por poucos segundos noto seus olhos percorrem meu corpo.

— Bom, não há muito o que fazer aqui, o apartamento é bem compacto. — ela ri — desculpe a indelicadeza,  mas você não é meio jovem?

— Breve farei dezoito, senhora mas fique tranquila, de fato isto não irá atrapalhar meu serviço. Por onde posso começar?

Ela solto uma pequena risada.

— Os produtos de limpeza estão no armário na cozinha — ela aponta para o local — estarei no meu quarto, onde você não irá arrumar. Ao término,  pode me chamar 

— Certo. Obrigada — Respondo percorrendo meus olhos pelo local.

A senhora caminha para onde provavelmente deverá ser seu quarto,  mas ao caminho ela para.

— Ah, fique a vontade na cozinha. Pode comer o que quiser.

Dito isto ela some de minhas vistas.

Muito embora o apartamento seja pequeno, a bagunça não era. Foi exaustivo mas eu me agradei. Incrível admirar tudo após o término e o melhor de tudo, saber que eu fiz tudo isso.

Meu corpo pede descanso, meu estômago implora por comida. Embora a dona da casa tenha deixado claro que eu poderia comer, o constrangimento falou um pouco mais alto. A dor ao pé da barriga não para, mas como toda mulher prevenida meu absorvente veio comigo.

Bato na porta de seu quarto duas vezes, foi o suficiente para a senhora aparecer.

— Demorou um pouco, não? — diz sorridente — cheirosa esta.

— Com certeza. — Afirmo.

— Vou fazer uma vistoria e ja volto com seu dinheiro.

Ela passa por mim, deixandopara trás o cheiro doce de seu perfume. Fico apreensiva por alguns minutos — estes que parecem longos, tamanha a minha ansiedade — estalo todos os meus dados, até que ela apareça.

— Tudo perfeito — diz, tirando-me de meus pensamentos auto críticos.

— Ai, que ótimo!

Suspiro retirando o suor de minha testa.

— Vou dizer que te julguei por ser nova. — confessa — normalmente as domésticas são um pouco mais velhas.

— A ocasião faz a pessoa. Fico feliz que tenha goatado do meu trabalho

— Gostei tanto que irei lhe indicar para uma amiga. Ela mora na cobertura — explica enquanto me passa o pagamento. — ela paga bem.

Impossível explicar tamanha felicidade que estou sentindo neste momento. Seguro em minha mão o meu primeiro salário, embora não seja muito, é a primeira vez que trabalho e ganho algo em troca.

— Nem sei como agradecer a senhora.

Ela ri.

— Esse seu sorriso fixo já vale muito. Deixe seu número, sim? Ela irá entrar em contato.

Fiz algo certo.

Entre Rosas -(DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora